Por: João Morais, médico e professor
Fotos: Nuno Coimbra/SPC
Todos os anos, mais de 4.000
portugueses morrem de ataque cardíaco. Falámos com o médico cardiologista e
professor João Morais, para saber como identificar e como reagir perante um
enfarte agudo do miocárdio.
Quais são
as principais causas do Enfarte Agudo do Miocárdio?
O enfarte do miocárdio, na
esmagadora maioria dos casos, resulta da oclusão de uma artéria coronária,
habitualmente provocada pela formação de um coágulo, que desse modo vai impedir
o normal fluxo de sangue. Este fenómeno tem origem na chamada arteriosclerose,
processo que leva a uma progressiva alteração da qualidade das artérias,
tornando-as mais finas e rígidas, podendo desse modo ocluir.
Quem são
as pessoas mais afetadas?
Em termos gerais, podemos
dizer que o enfarte do miocárdio é mais frequente nos homens do que nas
mulheres, nos idosos que nos novos. Contudo há fatores que, quando presentes,
aumentam significativamente a probabilidade desta ocorrência, designadamente a
presença de diabetes mellitus, colesterol elevado e hábitos tabágicos. Qualquer
uma destas situações contribui para o envelhecimento das nossas artérias,
facilitando o evento agudo.
Como se
manifesta?
Quando surge de forma típica,
o enfarte do miocárdio, manifesta-se pelo aparecimento súbito de uma for
intensa no centro do peito, dor esta que pode se assemelhar a um esmagamento
que, por vezes, pode irradiar para o braço esquerdo e por vezes para o maxilar.
Frequentemente, o episódio doloroso irradia para o braço esquerdo, acompanha-se
ainda de sudação intensa e por vezes sensação de desmaio.
O enfarte do
miocárdio leva à perda do músculo cardíaco, perda esta que será tanto maior
quanto mais demorada for a instituição do tratamento
Como se
previne?
O enfarte é um fenómeno de
ocorrência súbita, por vezes com uma base genética e cuja ocorrência não se
pode prever. Assim, a sua prevenção está focada no controlo dos chamados
fatores de risco que, desta forma, podem diminuir o risco de ocorrência de enfarte.
Por outras palavras, o enfarte previne-se reduzindo as condições das artérias
que facilitam a sua ocorrência. Nos doentes em que a doença já é conhecida e as
lesões das artérias já identificadas, o enfarte previne-se tratando essas
lesões, seja através da cirurgia de bypass, seja através da chamada
angioplastia coronária.
O que
fazer se alguém estiver com sintomas de um Enfarte Agudo do Miocárdio?
A melhor ajuda que se pode
dispensar será colocar rapidamente a vítima no local certo para ser tratada.
Assim, é crucial que, na suspeita de um enfarte do miocárdio, se contacte de
imediato o Instituto Nacional de Emergência Médica (112). O profissional que
vai atender o telefone dará instruções simples e enviará uma viatura de
emergência, com médico, o qual prestará os primeiros cuidados, e acima de tudo
enviará o doente para o local ideal para tratamento.
A
insuficiência cardíaca é hoje a principal causa de morte por doenças
cardiovasculares
Porque é
que o ataque cardíaco mal tratado pode gerar insuficiência cardíaca?
O enfarte do miocárdio leva à
perda do músculo cardíaco, perda esta que será tanto maior quanto mais demorada
for a instituição do tratamento e maior for a dimensão da área de enfarte.
A extensão de músculo perdida
vai alterar a mecânica do coração e quanto maior for essa extensão mais
insuficiente o coração vai ficar.
A
insuficiência cardíaca pode matar?
A insuficiência cardíaca é
hoje a principal causa de morte por doenças cardiovasculares, já que a taxa de
mortalidade pode chegar a 20% no final do primeiro ano após um internamento,
por um episódio de agudização.
Quais os
sintomas desta patologia?
Como em todas as doenças há
formas de apresentação mais típicas e menos típicas. Como alerta à população
devemos chamar a atenção para uma situação em que o doente reconhece uma
redução progressiva da sua capacidade física ("eu subia dois andares sem
parar e agora tenho de parar no primeiro patamar”), uma sensação de que o ar
não chega aos pulmões de forma satisfatória (“eu tenho falta de ar a subir as
escadas de minha casa”) ou o aparecimento dos tornozelos inchados, em especial
ao final do dia. Estes são alguns dos sinais e sintomas que devem obrigar a
despistar um eventual quadro de insuficiência cardíaca.
É difícil
de diagnosticar?
O diagnóstico em si, na
maioria das situações, não é difícil. Para além da informação que o doente nos
dá e aquilo que o nosso exame proporciona, uma análise de sangue simples, uma
radiografia ao tórax e um ecocardiograma são suficientes, na generalidade das
situações, para estabelecer o diagnóstico de insuficiência cardíaca e a partir
daí iniciar um plano terapêutico e a identificação de uma causa que lhe esteja
na origem.
Quais são
as novidades nas guidelines europeias no que toca ao tratamento do Enfarte
Agudo do Miocárdio? O que mudou?
O tratamento do EAM tem sido
objeto de intensa investigação nas últimas duas décadas. Desde o diagnóstico
até à terapêutica todos os passos estão muito bem definidos e as recomendações
internacionais limitam-se a sintetizar e sistematizar o conhecimento. O que as
guidelines europeias recentemente publicadas nos trazem de novo é uma aposta
clara na organização como base essencial ao sucesso do tratamento destes
doentes. Um segundo aspeto que vale a pena destacar é a aposta na qualidade.
Neste documento são estabelecidos padrões de qualidade que todos devem seguir,
padrões estes que, quando quantificados, servem para testar a qualidade do
nosso trabalho, bem como criar sistemas de benchmarking.
Fonte: Sapo on-line Saúde
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