Elisabeth Sousa; Enfermeira de Reabilitação; Associação Portuguesa dos Enfermeiros de Reabilitação - APER
O envelhecimento da população
é um fenómeno à escala mundial. Portugal, à semelhança dos restantes países,
apresenta um aumento progressivo da população idosa em detrimento da população
jovem. Com o envelhecimento populacional é previsível um número crescente de
casos de demências e um aumento de doenças crónicas que levam à uma maior
vulnerabilidade da pessoa idosa e consequente incapacidade no desempenho dos
autocuidados. O aumento da população idosa é um fenómeno global que tem
transformado a sociedade de várias maneiras. A crescente evolução da
longevidade, põe questões ao nível da sua qualidade de vida, e também da
qualidade dos cuidados de saúde que lhes são prestados, no que respeita ao
diagnóstico e tratamento da depressão na pessoa idosa. Este aspeto é de crucial
importância na promoção de um envelhecimento ativo, conceito que nos remete
para a manutenção da motivação na vida laboral e social do idoso, mantendo a
sua participação, dignidade e autorrealização.
As causas de depressão no
idoso configuram-se dentro de um conjunto amplo de componentes onde atuam
fatores genéticos, eventos vitais, como luto, abandono e doenças
incapacitantes, entre outros. Cabe ressaltar que a depressão no idoso
frequentemente surge em um contexto de perda da qualidade de vida associada ao
isolamento social e ao surgimento de doenças clínicas graves. Sentimentos de
frustração perante os anseios de vida não realizados e a própria história da
pessoa, marcada por perdas progressivas, do companheiro, dos laços afetivos e
da capacidade de trabalho; bem como o abandono, o isolamento social, a
aposentadoria que mina os recursos mínimos de sobrevivência, são fatores que
comprometem a qualidade de vida e predispõem o idoso ao desenvolvimento de
depressão (Pacheco, 2012).
A depressão na pessoa idosa
por vezes nem sempre é diagnosticada. É fundamental que os profissionais de
saúde em parceria com a família e/ou cuidador estejam atentos aos sinais de
alerta. Deve-se, ainda, ter em conta que períodos prolongados de dor, comprometimento
da nutrição, emagrecimento e fatores oriundos de doenças físicas que conduzem à
diminuição da autonomia e perda de mobilidade física contribuem decisivamente
para a instalação da depressão. O medo da progressão da doença física, da perda
da dignidade e o medo de se transformar em sobrecarga aos familiares também são
fenómenos psicológicos que acompanham o comprometimento da condição física
(Forlenza, 2010).
A consciência da perda das
capacidades leva por vezes a depressão e ao isolamento. Os idosos podem
enfrentar solidão e isolamento, especialmente se não possuírem uma rede de
apoio social adequada, como no caso de idosos que vivem em aldeias isoladas,
onde na maioria das vezes a população é constituída apenas por pessoas idosas,
porque os filhos da “terra” emigraram. São os amigos da mesma idade que já
partiram, uma sensação de que o fim estará próximo. Por outro lado, a perda da
mobilidade, da força, do apetite, alterações nas pupilas degustativas e na
deglutição, devido as mudanças fisiológicas e/ou patológicas levam a uma
diminuição do aporte de nutrientes o que provoca um emagrecimento acentuado e
perda de massa muscular. Uma inquietação persistente, apatia, falta de energia,
alterações no sono e falta de “liberdade” imposta por vezes, pelos filhos, pelo
medo de quedas ou de se perderem na rua, leva muitas vezes à tristeza e
desmotivação perante a vida. Viver mais tempo não significa necessariamente viver
com qualidade. É importante focar em uma vida saudável e ativa para garantir
bem-estar na terceira idade. “Tenho 90 anos …os médicos dizem que é um
privilégio chegar a essa idade…mas para mim não é privilégio nenhum, porque não
posso fazer nada sozinho …nem posso andar …tenho medo de me desequilibrar e
cair…” (J.S 2023).
De acordo com o regulamento
das competências específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de
Reabilitação (EEER) da Ordem dos Enfermeiros (OE, 2011), os programas/planos de
cuidados no âmbito da atuação com a pessoa, no sentido de desenvolver atividades
que permitam maximizar as suas capacidades funcionais e assim permitir um
melhor desempenho motor, cardíaco e respiratório, potenciando o rendimento e o
desenvolvimento pessoal. Os programas de reabilitação devem envolver programas
de atividades físicas para a manutenção da capacidade funcional, uma vez que,
realizada regularmente, pode reduzir ou prevenir inúmeras incapacidades
funcionais, associadas ao envelhecimento.
A atividade física contribui
de diferentes maneiras para melhorar a condição clínica geral e a condição
mental do idoso deprimido. Do ponto de vista biológico, a atividade física tem
sido associada a vários fatores favoráveis, a uma melhor qualidade de vida no
idoso, ganhos de força muscular e de massa óssea com melhor desempenho das
articulações. Em relação à condição mental, a atividade física, sobretudo
quando praticada em grupo, eleva a autoestima do idoso, contribui para a
implementação das relações psicossociais e estimula as funções cognitivas.
Sentimentos contínuos de
tristeza ou desânimo; Perda de interesse em atividades que antes eram
prazerosas; Sentimentos excessivos de culpa ou inutilidade; Insônia ou
sonolência excessiva; Perda significativo de peso; Problemas para se concentrar
ou tomar decisões; Esquecimentos frequentes, entre outros, são sinais que não
devem passar despercebidos. Cabe aos profissionais de saúde estarem atentos aos
sinais comportamentais e sintomas que possa apresentar seja no internamento,
ambulatório ou comunidade. A depressão em idosos é uma realidade bem presente,
que merece uma atenção especial por toda a equipe multidisciplinar de saúde. O
suporte familiar é fundamental para a recuperação.
Fonte: Health News