quinta-feira, 25 de abril de 2024

“Cultura: Flautista Vicens Prats e grupo de música de Câmara Ensemble Darcos apresentam concerto”


No âmbito da “Temporada Darcos”, a Adega Cooperativa de São Mamede da Ventosa acolhe no próximo dia 28 de abril, pelas 17h00, o concerto Vicens Prats & Ensemble Darcos.

O programa desse concerto, que será levado a cabo pelo flautista Vicens Prats e pelo grupo de música de câmara Ensemble Darcos - que será na ocasião constituído por Nuno Inácio (flauta), Gaël Rassaert (violino I), Lilia Donkova (violino II), Reyes Gallardo (viola) e Filipe Quaresma (violoncelo) - é o seguinte:

 

W. A. Mozart (1756 – 1791)

Quarteto com flauta em Dó Maior, K. 285b

I. Allegro

II. Andantino: tema e variazioni

Quarteto com flauta em Ré Maior, K. 285

I. Allegro

II. Allegro

III. Rondo

 

T. Derriça (n. 1986)

Três andamentos de Seven ages of man (para quarteto de cordas)

III. Love

VII. Death

 

G. P. Telemann (1681 – 1767)

Duplo concerto para flauta, cordas e continuo TWV: E1

I. Largo

II. Allegro

III. Largo

IV. Presto

Relativamente à primeira peça do concerto, é de referir que a mesma foi escrita na sequência de uma encomenda feita pelo médico e flautista amador Ferdinand Dejan (1731-1797) a Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), quando este compositor procurava obter um cargo na musicalíssima Corte de Mannheim. Todavia o trabalho encomendado de “3 pequenos, curtos e fáceis concertos e alguns quartetos com flauta” não chegou a ser concluído, tendo, no entanto, resultado do mesmo, o quarteto K.285b. Escrita em meados de 1778, esta peça é composta por apenas dois andamentos, sendo que, na mesma, a um gracioso Allegro, segue-se um lírico Andantino com seis variações.

Já no que se refere à peça do concerto Vicens Prats & Ensemble Darcos da autoria de Tiago Derriça (1986), é de referir que a mesma é parte de uma obra encomendada pelo Quarteto Camões, para estreia no Festival Dias da Música, em 2019, no Centro Cultural de Belém. Essa obra o quarteto Seven ages of man - está divida em sete andamentos, que correspondem às sete fases da vida do Homem (da infância ao seu declínio e morte), os quais partem de sonetos e excertos de peças de William Shakespeare (1564-1616). Serão interpretados o 3.º andamento - Love [Amor], segundo o soneto 116 (1609) de Shakespeare - e o 7.º e último andamento Death [Morte], segundo a cena 1.ª do 4.º ato da peça A Tempestade (1611).

A última peça do programa do concerto Vicens Prats & Ensemble Darcos é da autoria de Georg Philipp Telemann, compositor barroco que preferia o modelo da sonata da chiesa, lento-rápido-lento-rápido, segundo o estilo de Arcangelo Corelli (1653- 1713), ao invés da fórmula rápido-lento-rápido, que se constituía como a base estrutural das aberturas de ópera italiana, a qual era escolhida pela maioria dos compositores barrocos na elaboração dos seus concertos. O duplo concerto para flautas TWV52:E1 (flauta de bisel e flauta transversal) obedece àquela primeira estrutura. Nessa obra, o diálogo incandescente entre as flautas, pleno de dissonâncias, e elegantemente contrastante, vai-se desenrolando sob um panejamento orquestral discreto, de forma plangente no 1.º andamento, virtuosa no 2.º andamento. Ao lirismo extático do 3.º andamento sucede-se um rodopiante e conclusivo Rondo alla turca, pleno de exotismo.

Refira-se que o concerto Vicens Prats & Ensemble Darcos é também proporcionado no dia 27 de abril, pelas 19h00, no Anfiteatro Chimico do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (Lisboa).

As entradas para se assistir a esse concerto são gratuitas.

De recordar que a “Temporada Darcos" constitui-se como uma iniciativa singular no panorama musical nacional, na qual se divulga a música clássica segundo as suas diversas abordagens e matizes estilísticas, sendo dirigida pelo compositor e maestro torriense Nuno Côrte-Real. Os espetáculos desta temporada são na sua maioria interpretados pelo grupo Ensemble Darcos, um dos mais prestigiados grupos de música de câmara portugueses da atualidade, o qual é dirigido também por Nuno Côrte-Real e apresenta uma formação que varia consoante o programa de concerto. De realçar que têm participado nos concertos da “Temporada Darcos” aclamados solistas e orquestras nacionais e internacionais, bem como proeminentes figuras do panorama musical nacional como comentadores. Sendo coorganizada pela Câmara Municipal de Torres Vedras e pela Darcos - Associação Cultural, a “Temporada Darcos” tem como ponto de partida o concelho de Torres Vedras. Em 2024 tem a sua 17.ª edição.

Fonte: Câmara Municipal Torres vedras

“Comemorações: Entroncamento recebeu Sessão Solene Comemorativa dos 50 anos do 25 de abril de 1974


Decorreram hoje as cerimónias oficiais das comemorações dos 50 anos do 25 de abril de 1974, dos 50 anos de liberdade e democracia.

 

Por: Guiomar Messias

O Largo José Duarte Coelho, em frente aos Paços do Concelho foi o palco da sessão solene, com a receção aos convidados pelo Presidente da Assembleia Municipal, Luís Filipe Antunes e pelo Presidente da Câmara Municipal, Jorge Faria. Seguiu-se o hastear das bandeiras pelos Bombeiros Voluntários ao som do Hino Nacional pelo Orfeão do Entroncamento, que interpretou também temas evocativos desta data.


A Sessão solene decorreu com as intervenções dos representantes da Assembleia Municipal, nomeadamente, Carlos Monteiro (Independente), Bruno Melo (CDU), Pedro Gonçalves (CDS), Maria do Céu Carvalho (BE), Carla Sarroeira (CHEGA), Susana Vieira Cruz (PSD), Pedro Gomes (PS), do Presidente da Câmara Municipal, Jorge Faria e do Presidente da Assembleia Municipal, Luís Filipe Antunes.

Este ano, a sessão solene contou pela primeira vez, com a presença e a intervenção da representante da Assembleia Municipal Jovem, Sofia Almeida.


A sessão solene contou também com apontamentos culturais, com a declamação dos poemas vencedores do concurso de poesia “O 25 de Abril de 74” dinamizado pelo Município em parceria com o Agrupamento de Escolas Cidade do Entroncamento e por um momento musical por Pedro Dyonysyo com o tema “A História que um dia vais contar”, uma composição original da sua autoria sobre o 25 de abril.


O Presidente da Câmara Municipal, Jorge Faria, referiu no seu discurso que “ao longo das últimas cinco décadas, Portugal e os portugueses conseguiram consolidar, de forma pacífica, e relativamente calma uma jovem democracia e fazê-la evoluir para um sistema social do qual nos devemos orgulhar. A para da liberdade, hoje somos um país justo e mais coeso e solidário…Um país com mais e melhor educação… Um país com mais e melhor saúde…Mais e melhor habitação” acrescentou que “Comemorar Abril tem de ser para cada um de nós, continuar o trabalho de todos aqueles que ao longo dos anos, têm procurado consolidar a nossa democracia. E temos de fazê-lo, para que seja possível aos portugueses renovarem a esperança em si próprios e no futuro do nosso país”.


O Presidente da Assembleia Municipal, Luís Filipe Antunes destacou na sua intervenção que “é ao 25 de Abril de 74 que devemos os 50 anos de paz, de liberdade e de progresso como nunca havíamos conhecido antes na nossa história” e salientou que… Continuaremos Abril na medida em que formos protagonistas de uma visão aberta da sociedade, assente na tolerância e no respeito, na convivialidade e na fraternidade…em que liberdade e a dignidade, igualdade e a justiça sejam os valores fundamentais.


Foi inaugurada na Galeria Municipal a exposição “Cartazes de Abril: celebrar todos os anos”, patente até dia 16 de maio.

A terminar as celebrações, o Cineteatro S. João, acolhe, hoje pelas 18h00, o espetáculo “Canção – Revolução”, com entrada gratuita.

Fonte: Câmara Municipal Entroncamento





“História: Reforma Agrária nasceu em Santa Vitória, onde não se esquece a luta”


Por: RRL (LL/NS) // NS

Fonte: Lusa

Mal se deu o 25 de Abril de 1974, os emigrantes António Merêncio e Fernando Guerreiro apressaram-se a regressar a casa, no Alentejo. E bem a tempo de participarem no início da Reforma Agrária.

“O 25 de Abril vivi-o na Alemanha, com muita alegria, com os meus colegas portugueses. E alguns alemães também”, conta à agência Lusa António Merêncio, 77 anos, com a memória fresca.

Natural de Santa Vitória, concelho de Beja, regressou meses depois e foi um dos trabalhadores a ocupar a Herdade do Monte do Outeiro, junto da aldeia e que era do agrário José Gomes Palma.

“Juntou-se um grupo de malta que estava desempregada e quisemos ir trabalhar”, diz. Mas o feitor recusou e voltaram para trás.

Após uma reunião com o Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas do Distrito de Beja, insistiram e, com o patrão em Lisboa e o feitor a teimar, dessa vez não "arredaram pé" e ocuparam as terras. Mas “sem violência”, afiança Merêncio.

A herdade, com mais de 700 hectares, foi a primeira a ser ocupada, a 10 de dezembro de 1974, dando início à Reforma Agrária, de acordo com o livro “Reforma Agrária – A Revolução no Alentejo”, da autoria de José Soeiro, um dos “protagonistas” de todo o processo.

“Estava uma vergonha”, com árvores que não eram limpas há “quase 20 anos”, e “praticamente só servia para caça”, lembra Merêncio, frisando que tudo mudou: “Começámos a limpar, a trabalhar e a viver à nossa custa”.

A ocupação “não foi por vingança”, justifica. Essa, como outras que se seguiram, “foi por necessidade de ganhar algum, não havia dinheiro para alimentar a família”.

Regressado de França assim que lhe "chegaram aos ouvidos" notícias do 25 de Abril, através do seu rádio Mediator de seis pilhas em que ouvia a BBC inglesa e canais russos, Fernando Guerreiro também evoca o “muito desemprego” no Alentejo desses tempos.

A tarefa que "abraçou" foi ajudar a distribuir os desempregados “de herdade em herdade”, só que “alguns [patrões] aceitavam e outros não”.

Fernando, hoje com 74 anos e residente na Mina da Juliana, que pouco dista de Santa Vitória, recorda que, no Monte do Outeiro, se José Gomes Palma “atende os objetivos dos trabalhadores, possivelmente eles não tinham ocupado a propriedade”.

O patrão “até não era dos piores que aí estava”, admite, mas as pessoas, além de quererem trabalho, almejavam algo tão simples como uma casa de banho na fábrica de cerâmica da herdade.

“Quem mandava na propriedade era ele e mais ninguém” e não houve casa de banho. “Foi por isso que as pessoas avançaram para a ocupação”, relata.

Nesses inícios da Reforma Agrária, “o sindicato dizia para a malta não avançar assim, não se sabia o que é que ia acontecer”, lembra. Só que “dar conta do povo é difícil, chegava-se a ocupar às 10 e às 12 e já ninguém conseguia dar conta disso”.

Segundo José Soeiro, a seguir à Herdade do Monte do Outeiro, vieram mais ocupações em Santa Vitória. E foi aqui que, a 17 de outubro de 1975, 184 trabalhadores, por proposta do sindicato, decidiram criar a primeira Unidade Coletiva de Produção (UCP), a "Vanguarda do Alentejo", para gerir as herdades ocupadas.

Do outro ‘lado da barricada’, Augusto Casadinho, hoje proprietário da Herdade da Chaminé, com cerca de 370 hectares, também em Santa Vitória, guarda memórias mais ‘negras’ desses tempos.

Recorda à Lusa que, em 1975, quando tinha 13 anos e vivia e estudava no colégio em Lisboa, a herdade, então na posse do pai, foi ocupada: “O meu pai apareceu-me lá em Lisboa chorando”.

“Começaram do nada, tinha-se ido comprando, não se tinha dinheiro, a vida antigamente era totalmente diferente”, revive, sentenciando que a Reforma Agrária só serviu para as pessoas ficarem “com raiva umas às outras”.

Nas ocupações, “acabaram por destruir tudo”, mas a sua herdade, devolvida à família no início dos anos 80, nem foi das piores: “As máquinas [estavam] um bocado destruídas, mas houve casos em que nem um parafuso sobrou”.

“O 25 de Abril não serviu para nada, só serviu para destruir, como destruíram empresas”, frisa.

A Reforma Agrária ganhou força em 1975 e prosseguiu até 1976, ocupando mais de 1,1 milhões de hectares de terra (25% da superfície arável de Portugal) no Alentejo, Setúbal e em concelhos dos distritos de Lisboa, Santarém, Faro e Castelo Branco.

A “Lei Barreto”, aprovada no parlamento em 1977, da autoria de António Barreto, então ministro da Agricultura do I Governo Constitucional de Mário Soares (PS), começa a mudar esta "revolução" nos campos.

O diploma impôs limites à Reforma Agrária, abriu portas ao fim das UCP e a um longo processo de desocupações e devoluções de terras e indemnizações, que ‘ganha fôlego’ com governos da Aliança Democrática (AD). Em 1988, na governação de Cavaco Silva, veio a nova Lei de Bases da Reforma Agrária, mas a regularização do uso da terra expropriada ou nacionalizada só foi concluída em 2000, pelo então ministro da Agricultura Capoulas Santos (PS).

Hoje, 50 anos depois do 25 de Abril, a Reforma Agrária, que conheceu episódios de violência, como a morte de dois trabalhadores agrícolas em Santiago do Escoural, em Montemor-o-Novo, mantém-se uma "ferida aberta" entre trabalhadores e agrários.

“Enquanto houver esta geração, que é a minha, não vai sarar”, afiança António Merêncio, com Augusto Casadinho a concordar consigo, mas a lembrar que “as pessoas mais velhas vão acabando” e com “os mais novos é diferente, não têm essa noção” do que foi o 25 de Abril.

Já Fernando Guerreiro considera que a Reforma Agrária só teria valido a pena “se tem continuado”. E, 50 anos depois do 25 de Abril, ainda vê Portugal com “um futuro muito encalhado”. O que resta, então? “Há que continuar a lutar”, defende.