Por: Cândida Fonseca/médica
A mortalidade por
insuficiência cardíaca pode atingir os 50% e, apesar da elevada morbilidade, é
bem menos conhecida e temida pelo grande público do que o cancro, adverte a
médica cardiologista Cândida Fonseca.
A insuficiência cardíaca é não
apenas uma doença, mas uma síndrome - conjunto de sintomas com queixas que os
doentes referem como cansaço e dificuldade respiratória (dispneia)
desencadeados subitamente ou por esforços cada vez menores.
Dificuldade em dormir deitado
necessitando várias almofadas, acordar subitamente com falta de ar, aumentar
rapidamente de peso por inchaço (edema) dos membros inferiores e do abdómen são
outros dos sintomas recorrentes.
Existem múltiplas causas e
tipos de disfunção cardíaca capazes de desencadear quadros de insuficiência
cardíaca e é frequentemente a derradeira fase da maioria das doenças
cardiovasculares. Por as queixas serem inespecíficas, o diagnóstico é difícil.
Os sintomas são frequentemente atribuídos a outras causas como a idade
avançada, o excesso de peso, o sedentarismo, ou a outras doenças como a anemia
ou a insuficiência renal que, não raramente, coexistem com a insuficiência
cardíaca.
A insuficiência cardíaca pode
também ser causada por doenças anteriores ou atuais que, por sua vez,
provocaram lesões ou sobrecarregaram o coração.
Quadros clínicos de
insuficiência cardíaca, frequentemente subvalorizados por doentes e médicos,
são de diagnóstico e início do tratamento tardios, permitindo que a doença
evolua, comprometendo a qualidade de vida e a sobrevida dos doentes, frisa a
especialista.
É uma síndrome com elevada
morbilidade e mortalidade, identificada como a principal causa de internamento
hospitalar após os 65 anos na Europa e Estados Unidos. Os re-internamentos são
extremamente frequentes, com inevitáveis consequências sócio-económicas para os
cidadãos e para o sistema nacional de saúde.
A mortalidade por
insuficiência cardíaca, nas suas fases mais evoluídas, atinge os 50% ao ano.
Morrem mais doentes de insuficiência cardíaca do que de cancro da mama, do
cólon ou da próstata individualmente; mais até do que de todas as neoplasias
malignas em conjunto. Ainda que mais prevalecente, causando pior qualidade de
vida e maior mortalidade, a insuficiência cardíaca é bem menos conhecida e
temida pelo grande público do que o cancro.
A insuficiência cardíaca já
afeta mais de 2% da população na Europa e nos Estados Unidos. A sua prevalência
e mortalidade continuaram a aumentar nas últimas duas décadas, enquanto que a
mortalidade global por doença cardiovascular tende a decrescer no mundo
ocidental. Prevê-se que a prevalência da Insuficiência Cardíaca possa vir a
crescer em cerca de 30% nos próximos anos, atingindo perto de meio milhão de
indivíduos em 2030, caso não alteremos comportamentos e actuações.
Atualmente existem mais de
380.000 indivíduos adultos com insuficiência cardíaca sintomática em Portugal,
comparando com os 260.000 existentes no fim do século passado.
As
explicações são de Cândida Fonseca é Professora Auxiliar convidada da NOVA
Medical School, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa, e
Coordenadora do Programa de Manejo Integrado da Insuficiência Cardíaca do
Hospital São Francisco Xavier, Lisboa.
Fonte: Lifestyle Sapo