Por: José Vieira – Jornalista
e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da APMEDIO
Ainda este governo acaba de
tomar posse e já temos o caldo entornado, no que e importa ao setor da
comunicação social regional.
O anterior governo, com a
pasta da comunicação social entregue a Pedro Duarte, candidato pelo PSD agora à
Câmara do Porto, e a Pedro Abreu Amorim, ex.- Secretário de Estado da Comunicação Social, agora
Ministro dos Assuntos Parlamentares, desdobrou-se, em 2024, em reuniões com o
setor da comunicação social, conseguindo aprovar, em sede de executivo, algumas
propostas que visavam apoiar o jornalismo, nomeadamente um maior apoio ao setor
regional, que desde sempre tem vivido com migalhas e ao que parece, nem isso
vamos ter daqui para a frente. Mas com a queda do anterior governo, quase tudo
transitou para o próximo. Quase tudo, disse eu, porque a mama da RTP e o apoio
às assinaturas digitais dos jornais dados apenas aos jornais nacionais, esses
passaram entre os pingos da chuva. Clarinho, sem se molharem. Só aqui, já é
motivo para que o setor da comunicação regional faça mesmo um grande manguito
ao nosso Primeiro-Ministro. Isto é ou não é compadrio e corrupção?
Muda-se o governo, mudança nas
pastas ministeriais. Afinam-se estratégias pessoais, gostos e ambições. E dá-se
a troca de cadeiras. Pedro Duarte, como já referido, segue para o Porto e Abreu
Amorim é promovido a Ministro, mas de outra área completamente diferente do que
estava no anterior governo. E o que vai acontecer com a pasta da comunicação
social, e no que ao setor da regionalidade interessa? Provavelmente, vai ser
metida na gaveta e vamos já perceber porquê.
Leitão Amaro é o novo Ministro
que passa a tutelar a área da comunicação social, e o secretário de Estado vai
ser João Valle e Azevedo. Não, não é o anterior Presidente do Benfica.
Felizmente. Sobre Leitão Amaro, tenho toda a certeza de ser uma pessoa competente,
com provas dadas, e o rosto da comunicação ao país, quando vivemos o recente
apagão energético. Diria mesmo que tem possibilidades de, a seu tempo, chegar
mais longe na sua ambição política. Mas a pergunta que se impõe fazer neste
momento é: quem é este senhor João Valle e Azevedo, o novo Secretário de Estado
da Comunicação Social? Que competências na área da comunicação social tem? Que
formação existe no seu currículo que o permita ter uma leitura mais alargada
dos problemas da comunicação social? Dele, só se conhece cargos políticos ao
género do “Jobs for the Boys”. Possivelmente, teve nota máxima na colagem de
cartazes com o logotipo do partido ou com a cara do iluminado de serviço, e
agora vai tutelar uma área tão sensível para o país, como a comunicação social?
Bom, sabe-se que em 2023, em rutura com Mário Centeno, Governador do Banco de
Portugal, saiu da instituição e passado uns meses foi experimentar o que era
isto de ser deputado da nação, sendo logo promovido a Vice-Presidente do Grupo
Parlamentar do PSD. Com um currículo de uns dias apenas na Assembleia, mostrou
qualidades acima da média, indo dirigir deputados com largos anos de
experiência. Mas estas nomeações são políticas e estou-me a afastar do
pretendido, pois na casa do PSD, manda o PSD. Mas importa referir e seguindo
esta linha de pensamento, bastou-lhe menos que um ano de atividade mais
política, e agora dando a cara como deputado, para ser promovido a Secretário
de Estado e um dia destes vai subir de novo. Neste país sobe-se rapidamente,
mas não pela competência ou currículo, como se pode perceber.
Continuando a responder à
pergunta, de quem é este senhor e que competências tem nesta área ou noutras,
chega-se rapidamente à conclusão de que e na área da comunicação social, só lhe
reconheço que talvez leia alguns jornais diários, e duvido mesmo que leia os
regionais. Nas outras áreas, e também analisando o seu currículo, deduzo que
passou metade da sua vida profissional a trabalhar (apetece-me dizer
brincar) às comissões do PSD,
participando em reuniões e grupos de apoio, sendo convidado para dar umas aulitas
(talvez na universidade de verão do seu partido), conseguindo depois entrar no
Banco de Portugal, mas como andava a ajudar o PDS em simultâneo noutras
tarefas, o Mário Centeno correu com ele, tendo o Luís Montenegro de lhe dar
emprego como deputado no ano seguinte.
Entende-se rapidamente que é
para meter na gaveta as alterações que dizem respeito a alguns apoios ao setor
da imprensa regional. Este senhor não tem craveira suficiente para liderar as
alterações que são urgentes fazer. Nem currículo, nem experiência ou autoridade
intelectual para enfrentar este setor, que o vai comer vivo nos primeiros
meses, e fazer com que ele se afaste rapidamente. Pode até vir com boas
intenções, mas não tem a envergadura que necessita para fazer as reformas
necessárias. E o nosso Primeiro-Ministro sabe disso. No falhanço deste novo
secretário de estado, Luís Montenegro lava as mãos e desculpa-se com os outros,
atingindo também de raspão Leitão Amaro, que vai ficar assim no amarelo
avermelhado, servindo como aviso para uma eventual reprise da “Revolta na
Bounty”.
Em suma, estamos de novo
entregues aos bichos. Serão mais dois anos (pelo menos) de negociações e
reuniões, para não dar em nada. Os diários e os grandes grupos continuam a
mama, pois com esses ninguém se mete, senão levam, (parafraseando Sócrates – o
nosso, note-se). E nos próximos artigos, prometo explicar mais ao detalhe, como
funciona a mama dos grandes grupos económicos da área da comunicação social,
com algum detalhe. É necessário e urgente desmascarar esta promiscuidade para
que estes senhores do governo (da direita à esquerda), tenham alguma vergonha
na cara, e que parem de brincar com setores que são essenciais e fundamentais à
qualidade da nossa democracia.
O caricato é que antes de
serem poder, adoram a comunicação social (regional incluída), mas quando
assumem cargos de governação, essa energia positiva e esse estado de namoro
inebriante, logo desaparece. O namoro continua com os grandes grupos (pois com esses
não se brinca, pensam eles), mas os regionais levam logo com um grande par de
cornos e se se puserem a jeito, umas marradas não estão fora do pensamento
destes…senhores (para não usar outro termo e ser de novo acusado de ser
deselegante).
Mas a culpa também reside nos
órgãos de comunicação social regionais. E faço também a “mea culpa”. Reconheço
que me coloquei a jeito estes últimos anos, mas acabou-se a paciência. Há que
endurecer o discurso, tomar medidas e ir à luta. Mas a este assunto, voltarei
brevemente, também com mais algum detalhe.
Agora, o momento seguinte é o
de ir convencer alguns patrocinadores a apoiarem com migalhas o nosso trabalho,
enquanto continuo a assistir ao desbaratar de milhares de euros em órgão de
comunicação social nacionais, pelas entidades vizinhas (câmaras, juntas e
outras entidades que gerem os nossos impostos regionais). E é assim a vida de
um órgão regional sério e isento. Trabalhar em prol da sua comunidade, sem ser
valorizado por de quem de direito. Resta apenas mais outra via para se ganhar
dinheiro no setor regional. O compadrio e a corrução ativa dos gestores
públicos e partidários. Mas pessoas de bem não corrompem nem se deixam
corromper. Como considero-me uma pessoa de bem, venham as migalhas.
Fonte: Associação Portuguesa dos Media
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