Por: Dominique Stoenesco
Na sexta-feira, dia 29 de
março, na livraria Atout livre, em Paris, teve lugar o lançamento do livro "Memórias de um futuro radiante",
de José Vieira, que acaba de ser editado pela Chandeigne, na novíssima coleção
Brûle-Frontières.
José Vieira foi mais conhecido
como cineasta e realizador, autor de cerca de trinta documentários, entre os
quais "Os Emigrantes",
"O Maio Engraçado – Crónica dos Anos de
Lama", "A Foto
Rasgada", "O País
Onde Nunca Voltamos", "Gente
do Salto", ou o filme "Memórias
de um Futuro Radiante" (2014), uma história cruzada de duas
favelas que foram construídas com 40 anos de diferença. nos arredores da comuna
de Massy, nos subúrbios de Paris: a "Bidonville
des Portugais", onde o autor chegou com os pais, em 1965,
aos 7 anos, "numa época de crescimento e
de futuro brilhante", e a "Favela
Roma", formada no início dos anos 2000.
Com o mesmo título do filme "Memórias de um futuro radiante",
escrito numa linguagem sensível e poética, comovente e precisa ao mesmo tempo,
este primeiro livro de José Vieira revela, inquestionavelmente, um escritor
talentoso. Cada uma de suas frases, geralmente curtas, é densa de lembranças e
reflexões, e muitas vezes de revolta.
Oscilando entre o passado e o
presente, José Vieira percorre na sua história as memórias da sua infância, da
sua história pessoal, bem como a da sua família. A transmissão da memória e a
luta contra o esquecimento e a exclusão guiam constantemente o autor-narrador
em sua busca irredutível não pelo tempo perdido, "mas
por aqueles dias em que vivemos despojados de nossa história".
Cinquenta anos depois da
cambalhota de 1965, e depois de tomar o Sud-Express com a filha para tentar
apagar memórias do seu êxodo, diz-lhe: "Já
passaram mais de cinquenta anos desde que viemos. Foi um êxodo que tirou um
milhão e meio de pessoas. Foi um repúdio a uma ditadura. Sabe, há momentos em
que sair é resistir, é recusar a bagunça que a opressão causa em nossas vidas.
Aldeias inteiras se amontoaram antes que a miséria as estrangulasse. As pessoas
escaparam para afastar o destino em que se sentiam presas, um país onde nada
parecia mais possível. Os jovens abandonaram suas famílias para fugir das
guerras coloniais. Eles não estavam procurando um lugar para ganhar a vida,
estavam fugindo".
Em "Memórias de um futuro radiante",
o autor mistura o seu próprio percurso, aquele em que as pessoas dizem ter dado
a cambalhota (saltaram as fronteiras) com o dos migrantes dos nossos dias, "com quem temos uma história comum",
diz, e que "forçam as fronteiras a mudar
vidas", os que vêm de África e que dizem ter "queimado as
fronteiras".
No seu conteúdo, "Memórias de um Futuro Brilhante" não é apenas um testemunho pessoal, mas também um
grito de revolta e indignação contra a injustiça, o racismo e a miséria em que
ainda hoje vivem milhares de famílias de imigrantes. E por sua forma, este
texto ressoa como uma narrativa poética em várias vozes, comovente e lúcida ao
mesmo tempo.
Fonte: Luso Jornal (França)