domingo, 29 de setembro de 2024

“Doenças da retina: Investigação centrada no doente é fundamental para encontrar novas abordagens terapêuticas”


Degenerescência Macular da Idade afeta 355 mil portugueses e Retinopatia Diabética afeta 1 em cada 3 diabéticos. NOVA Medical School aposta na investigação, com sete grupos de trabalho na área da Retina e Visão.

Em Portugal, entre as doenças da retina mais prevalentes encontra-se a Degenerescência Macular da Idade (DMI), uma doença crónica que estima-se que afete cerca de 355 mil pessoas, com cerca de 45 mil novos casos por ano, sendo a principal causa de perda de visão na população idosa. A par desta, também a Retinopatia Diabética é uma das doenças mais prevalentes, afetando cerca de 1 em cada 3 diabéticos, sendo a principal causa de perda de visão na população adulta em idade ativa. Com um diagnóstico precoce difícil, um dos desafios no tratamento destas doenças, segundo Sandra Tenreiro, Investigadora Principal do Grupo de Investigação em Degeneração e Envelhecimento, da NOVA Medical School, passa pelo “desenvolvimento de tratamentos eficazes para as fases iniciais, de modo a evitar perda definitiva das funções visuais/visão”.

Atualmente, “há tratamentos para algumas das fases avançadas, mas requerem elevado consumo de recursos humanos e materiais por serem administrados em ambiente hospitalar. Nas doenças raras hereditárias, apenas a degeneração da retina causada por mutações no gene RPE65, uma das causas de amaurose congénita de Leber, tem um tratamento genético, atualmente disponível em Portugal. No entanto, este é um tratamento muito dispendioso, sendo difícil de desenvolver tratamentos semelhantes para todas as doenças raras”.

Com o intuito de contribuir para o desenvolvimento de respostas a estes desafios, nomeadamente, através de “novas abordagens terapêuticas moleculares, genéticas ou de medicina regenerativa, com impacto real na qualidade de vida dos doentes”, a NOVA Medical School dispõe de sete grupos de investigação dedicados a doenças da Retina e Visão, “com uma produtividade científica robusta e reconhecimento internacional. Estes grupos desenvolvem investigação fundamental, com o objetivo de desvendar os mecanismos moleculares associados a doenças da retina”.

Neste momento, entre os vários projetos, destaque para aquele “que tem como objetivo desenvolver novas terapias para a fase precoce/intermédia da DMI”, liderado pelo Professor Miguel Seabra e financiado pela Fundação La Caixa, e para “o projeto da investigadora Raquel Lourenço, do grupo do Professor António Jacinto, que visa explorar mecanismos de regeneração da retina, com o intuito de restabelecer fotorreceptores, células essenciais no processamento do sinal visual, após uma lesão”. Para o sucesso destas investigações, Sandra Tenreiro acredita que a participação ativa dos doentes é fundamental, e “isso passa por ser doador de material biológico, como sangue, lágrimas ou tecidos, produtos resultantes de intervenções cirúrgicas, que de outra forma seriam descartados”.

As amostras doadas podem ser armazenadas em Biobancos, como é o caso do Biobanco da NOVA Medical School, o CHAIN-Biobank, do qual a Professora e investigadora Ana Rodrigues é coordenadora científica. "O CHAIN-Biobank tem desempenhado um papel crucial para as nossas investigações, funcionando como um repositório central de amostras biológicas e dados de saúde de cidadãos residentes em Portugal que tenham aceitado doar as suas amostras para o desenvolvimento do conhecimento nas áreas da prevenção, diagnóstico, tratamento e monitorização de várias doenças crónicas e infecciosas, como doenças musculoesqueléticas, cardiovasculares e metabólicas. Conta já com 41.000 amostras pertencentes a mais de 11.000 participantes". No que respeita às doenças da retina, a NOVA Medical School espera em breve começar a recolher amostras e dados de doentes, aumentando assim as informações disponíveis no CHAIN-Biobank e que, certamente, irão ajudar "todos os investigadores que tenham projetos relevantes nesta área, permitindo avanços no diagnóstico e tratamento destas doenças".

A participação ativa dos doentes em investigações é, aliás, um dos temas do evento organizado pela NOVA Medical School, que acontece a 27 de setembro, e que antecipa as comemorações do Dia Mundial da Retina (29 de setembro). Dirigido a doentes e profissionais de saúde da área, este evento, que acontece a partir das 14h30 no Auditório Manuel Machado Macedo, e cujas inscrições gratuitas decorrem até dia 25 de setembro, irá reunir investigadores, oftalmologistas e associações de doentes, para discutir o “Rumo a uma investigação centrada no doente”. Será ainda inaugurada a exposição de arte “Olho criativo: visões além do visível”, com obras das artistas Leonor Carvalho, Zélia Évora, e imagens científicas dos estudantes da NOVA Medical School, vencedoras do concurso “Imagem Científica na Visão”.

Fonte: Sapo on-line

“Comemorações: Dia Nacional da Água é comemorado em Odiáxere”


A água – visível ou invisível – marca a paisagem da freguesia de Odiáxere, no concelho de Lagos, nos dias 1 e 2 de outubro.

 

Por: Francisco Piedade

O invisível aquífero Almádena-Odiáxere, com extensa capacidade de armazenamento, mas sob forte pressão devido à escassez de pluviosidade, ocupação do solo e elevado consumo de água; a visível barragem da Bravura e a sua invisível disponibilidade de água estão a deixar Odiáxere numa verdadeira encruzilhada.

A construção da barragem da Bravura, que nos anos 50 do século XX fez crescer economicamente a freguesia e a transformou numa paisagem de regadio, é a mesma que agora a deixa em suspenso, ao atingir níveis mínimos de água históricos, condicionando o seu desenvolvimento futuro.

Coincidindo com o período seco do ano hidrológico e com o Dia Nacional da Água, que se celebra a 1 de outubro desde 1983 por ser nesta época que as reservas hídricas atingem os seus mínimos de água disponível, o Museu de Lagos, através do seu núcleo museológico “Mundo Rural” em implementação neste território, vai encher Odiáxere de vida artística, criadora e crítica através da intervenção de um coletivo de artistas nacionais e internacionais, dirigidos pela artista Paulina Almeida.

Entre 24 de setembro e 2 de outubro, a performer portuguesa Paulina Almeida, a bailarina francesa Ophélie Parot, a artista holandesa de multimédia Marieke Leene, a eco performer romena Alina Tofan e o músico holandês Simon Stuij encontram-se em residência artística na vila de Odiáxere, trabalhando e envolvendo diferentes públicos, desde logo e, com especial empenho, a comunidade educativa de Odiáxere.

A escola e os espaços públicos de Odiáxere transformam-se ao longo destes nove dias num autêntico laboratório comunitário, em que a água, as alterações climáticas, o reconhecimento do território e a transformação da paisagem estarão no centro das intervenções artísticas.

O trabalho a realizar coletivamente terá a sua apresentação pública no dia 1 de outubro com intervenções nos diversos espaços públicos da vila, num percurso entre as 11h e as 19h, que terminará com um espetáculo inédito de dança vertical na Barragem da Bravura, integrada na freguesia de Bensafrim.

No dia 2 de outubro, a criação coletiva “Água Invisível” terá lugar no Largo do Moinho de Odiáxere a partir das 21h, seguindo-se o concerto de encerramento a partir das 22h.

A participação nas atividades de dia 1 e 2 é livre e gratuita. Quem pretender transporte para a deslocação de autocarro entre Odiáxere-Barragem da Bravura-Odiáxere, deverá inscrever-se através do e-mail (lugares limitados): museu@cm-lagos.pt

Esta é uma iniciativa promovida pelo município de Lagos/Museu de Lagos, com o apoio da Junta de Freguesia de Odiáxere, Agrupamento de Escolas Gil Eanes, Associação Improvise and Organize e ARBA - Associação de Regantes e Beneficiários do Alvor.

 

Programa:

1 de outubro

 

11h00 | Largo da Alegria | Inauguração Exposição “Mapa do Corpo de Água”, pelos alunos da Escola EB1 de Odiáxere (Coord. Alina Trofan)

14h30 | Largo da Liberdade | Inauguração da Exposição de Marieke

15h00 | Adro da Igreja de Odiáxere | Performance “Door of Water” por Alna Trofan

15h30 | Moinho de Odiáxere | Instalação Sonora “Water Fail” por Simon Stuij

16h00 | Antiga Feira do Gado | Espetáculo de Dança “Full of Flies” por Ophélie Parot

16h30 | Transporte de autocarro Odiáxere – Barragem da Bravura (sujeito a marcação prévia através do email museu@cm-lagos.pt)

17h30 | Barragem da Bravura | Espetáculo de Dança Vertical “Navia” por Paulina Almeida e Ron van Roosmalen

19h00 | Regresso de autocarro Barragem da Bravura - Odiáxere

 

2 de outubro

21h00 | Moinho de Odiáxere | Criação Coletiva “A Água Invisível”

22h00 | Moinho de Odiáxere | Concerto de Encerramento com Toni Lameirinhas, José Martin e Gustavo Miranda

Fonte: Diário Online

“Saúde: Hipertensão arterial pulmonar manifesta-se com cansaço ou falta de ar. "Cerca de 75% dos casos diagnosticados em Portugal são em mulheres"


Por: Filipa Ferreira, Cardiologista na Unidade de Hipertensão Pulmonar do Hospital Garcia de Orta

A hipertensão arterial pulmonar é uma doença de mau prognóstico quando não tratada. Estima-se que o número de pessoas não diagnosticadas seja elevado. Falámos sobre esta doença com a médica Filipa Ferreira, cardiologista da Unidade de Hipertensão Pulmonar no Hospital Garcia de Orta.

Foi recentemente aprovado um novo tratamento para a hipertensão pulmonar pela Comissão Europeia. Que impacto é que este novo fármaco poderá ter na vida dos doentes?

A hipertensão arterial pulmonar é uma doença de mau prognóstico quando não tratada. Felizmente nas últimas três décadas, surgiram medicamentos que conseguem modificar muito favoravelmente o prognóstico da doença. No entanto, e apesar de muitas vezes já serem utilizados uma combinação de 2 ou 3 fármacos para uma ação máxima sobretudo em doentes de risco mais elevado, a doença continua a progredir. Na prática, espera-se que este novo fármaco possa ser utilizado em associação aos medicamentos já atualmente existentes, melhorando significativamente a qualidade de vida e sobrevida dos nossos doentes.

 

Mas que tratamento é este?

 

Sotatercept é o nome do fármaco recentemente aprovado pela entidade reguladora europeia e tem um mecanismo de ação distinto dos atualmente existentes, com uma ação anti-proliferativa e que pode travar a progressão da doença.

 

Qual a origem da Hipertensão Arterial Pulmonar e como se manifesta?

 

A hipertensão arterial pulmonar é uma doença rara que consiste num aumento da pressão das artérias pulmonares que ficam espessadas e com lúmen estreitado, limitando a circulação de sangue. Normalmente, o primeiro sintoma é a falta de ar ou cansaço para esforços progressivamente menores, que vai agravando até uma limitação funcional muito significativa. Isto traduz-se em dificuldade de desempenhar pequenas tarefas do dia a dia, como estender a roupa, fazer a cama, tomar banho ou mesmo pequenas caminhadas. Numa fase mais avançada podem surgir sintomas sugestivos de insuficiência cardíaca direita, como inchaço das pernas ou da barriga, desmaio com o esforço, rouquidão ou tosse com expetoração com sangue.

 

Como é feito o diagnóstico desta doença?

 

O diagnóstico não é fácil porque os sintomas são muito inespecíficos, mas existe um exame muito simples, de fácil acesso, que pode ser pedido por qualquer médico, que é o ecocardiograma. Este exame permite detetar sinais diretos ou indiretos de hipertensão pulmonar. Quando existem sinais diretos e/ou indiretos, os doentes devem ser referenciados para centros especializados para a confirmação do diagnóstico, que é sempre feito através de um cateterismo cardíaco direito.


 

Que consequências pode ter para o organismo?

 

Quando não tratada, a hipertensão arterial pulmonar é uma doença progressiva e o aumento da pressão das artérias pulmonares induz um esforço adicional ao ventrículo direito, que numa fase inicial tem mecanismos para vencer este aumento de pressão. Com a progressão da doença, acaba por causar insuficiência cardíaca direita, sendo este o principal motivo de morte nestes doentes.

 

Como se trata a Hipertensão Arterial Pulmonar? A cura é possível?

 

Trata-se sobretudo com recurso a medicamentos específicos de utilização exclusivamente hospitalar, ou seja, medicamentos que não existem à venda nas farmácias da comunidade.

Existem atualmente 10 fármacos distintos, embora todos eles atuem apenas em 3 vias, com o principal objetivo de dilatar as artérias pulmonares e, por esse motivo, denominam-se de fármacos vasodilatadores pulmonares. Habitualmente, utilizam-se de uma forma combinada, porque a atuação nas diferentes vias melhora a eficácia destes fármacos. A cura ainda não é possível e a toma desta medicação é para toda a vida.

Há dados que indicam que a Hipertensão Arterial Pulmonar é mais frequente em mulheres. O que pode explicar esta maior incidência no sexo feminino?

É verdade que as mulheres são mais frequentemente atingidas por esta doença. Cerca de 75% dos casos diagnosticados em Portugal são em mulheres. Na verdade, ainda não se sabe o motivo exato. Pensa-se que possa estar relacionado com o papel dos estrogénios no desenvolvimento da doença e, inclusivamente, estão em estudo alguns fármacos que atuam nesta via. Por outro lado, umas das principais causas da hipertensão arterial pulmonar são as doenças do tecido conjuntivo, nas quais as mulheres também são muito mais frequentemente afetadas.

Aponta-se para a existência de 300 doentes em Portugal com Hipertensão Arterial Pulmonar diagnosticada, mas a Associação Portuguesa de Hipertensão Pulmonar acredita que haja mais doentes por diagnosticar. O que poderia ser feito em Portugal para melhorar o diagnóstico e tratamento desta doença?

Concordo que a prevalência da doença deve estar subestimada. Além disso, os casos que nos chegam aos Centros de Referência já vêm, muitas vezes, numa fase muito avançada da doença, com muitos meses decorridos desde o início dos sintomas. Um dos focos dos profissionais que trabalham nesta área é precisamente criar awareness da doença junto da comunidade médica e da população em geral. É necessário, em primeiro lugar, valorizar os sintomas. Como se instalam progressivamente, muitas vezes são desvalorizados pelo próprio, que acaba por se adaptar a uma vida cada vez mais limitada. Outras vezes são desvalorizados pelos médicos, por serem sintomas muito frequentes. É importante objetivar os sintomas com perguntas específicas e comparando-os com outras pessoas da mesma idade. E, depois, é ter um baixo limiar para a realização de ecocardiograma que, como já disse, é fácil, barato e acessível.

Portugal dispõe de Centros de Referência para o diagnóstico e tratamento de Hipertensão Arterial Pulmonar que têm equipas multidisciplinares diferenciadas e disponíveis para avaliar e orientar os doentes referenciados. Felizmente, temos ao nosso dispor todas as terapêuticas disponíveis na Europa e estamos muito ansiosos por podermos contar com o fármaco recentemente aprovado, por acreditarmos que poderá ser um complemento com impacto muito favorável no futuro dos nossos doentes.

Fonte: Sapo on-line