domingo, 15 de dezembro de 2024

“Quedas, fragilidade, insónia, demência: Como mitigar os problemas do envelhecimento”


A população de idade avançada está a crescer desmesuradamente. Em 2019, o número de pessoas com mais de 60 anos atingiu mil milhões em todo o mundo e espera-se que esse valor duplique até 2050, alcançando os 2.000 milhões.

Agora que ultrapassar os sessenta anos é tão comum, o fenómeno do envelhecimento demográfico é uma realidade inegável para a qual contribui o aumento da esperança de vida, a diminuição da taxa de natalidade e o progresso socioeconómico das últimas cinco décadas.

 

Mais doenças crónicas, incapacidade e dependência

 

À medida que envelhecemos, o nosso organismo passa por uma série de alterações fisiológicas que nos tornam mais propensos ao desenvolvimento de doenças crónicas, incapacidade e dependência.

As síndromes geriátricas são condições comuns entre a população de idade avançada, sendo caracterizadas por uma combinação de problemas médicos, psicológicos e sociais, em vez de sintomas ou doenças específicas. Os principais são:

Fragilidade: diminuição da reserva fisiológica e da capacidade de recuperação, aumentando o risco de incapacidade e morte.

Quedas: tendência recorrente para cair, podendo causar lesões graves e perda de autonomia.

Imobilidade: as pessoas idosas têm dificuldades em deslocar-se e isso pode levar à perda de massa muscular, debilidade e outros problemas de saúde.

Incontinência: perda do controlo da bexiga ou dos intestinos, com um potencial impacto negativo na qualidade de vida e na auto-estima.

Demência: engloba várias doenças neurodegenerativas que afectam a memória, o pensamento e o comportamento, nomeadamente a doença de Alzheimer ou a demência vascular.

Polifarmácia: define-se geralmente como a toma de cinco ou mais medicamentos em simultâneo, estando associada a um aumento do risco de interacções medicamentosas, efeitos secundários e complicações.

Má nutrição: deve-se à ingestão inadequada de alimentos, má absorção de nutrientes ou problemas de saúde que afectam o apetite e o metabolismo, podendo debilitar o sistema imunitário e aumentar o risco de doença.

Sarcopenia: perda progressiva de massa e força muscular, com impacto na qualidade de vida e na independência funcional.

Dor crónica: causada por doenças crónicas reumatológicas, lesões ou condições osteomusculares degenerativas, que afectam a qualidade de vida e a capacidade funcional.

Perda de audição e visão: são comuns na velhice e podem ter um impacto significativo na qualidade de vida, na comunicação e na segurança.

Depressão ou insónia: os problemas de humor e as dificuldades em conciliar ou manter o sono são frequentes em pessoas idosas e contribuem para o desenvolvimento de problemas de saúde física e mental.

 

o Que é o envelhecimento saudável?

 

O envelhecimento saudável implica as pessoas conseguirem manter a capacidade de fazerem as coisas sozinhas, sem precisarem de muita ajuda, à medida que envelhecem. Deste modo, conseguem manter-se activas e autónomas, com uma boa saúde física, mental e social.

As síndromes geriátricas dificultam o envelhecimento saudável, mas podem ser reversíveis – ou abrandadas – quando detectadas a tempo.

Foi demonstrado que as intervenções centradas na actividade física são eficazes para atrasar ou até reverter a fragilidade e outras síndromes geriátricas. Também pode ser útil promover outras intervenções que incluam alterações na alimentação, aumentando a ingestão de proteínas e nutrientes, bem como abordar a polifarmácia e a prescrição inadequada de medicamentos. As intervenções psicológicas e sociais também são muito importantes.

 

A monitorização domiciliária através de sensores faz parte da resposta

 

As tecnologias de informação e comunicação (TIC) podem ajudar a prevenir e tratar muitas das síndromes geriátricas através da monitorização domiciliária, via sensores que meçam variáveis com uma elevada capacidade de prever eventos adversos: peso, velocidade da marcha, potência das extremidades, tensão arterial, frequência cardíaca ou saturação do oxigénio.

O uso desta tecnologia facilita as intervenções destinadas a evitá-los e proporciona mecanismos que promovem uma comunicação ágil entre os envolvidos (diferentes profissionais de saúde de atenção primária e hospitalar, pacientes e cuidadores).

Exemplo disso é a Integra-CAM, em funcionamento na comunidade de Madrid, em Espanha, que utiliza um ecossistema tecnológico pioneiro que revoluciona o cuidado das pessoas idosas. Permite a monitorização domiciliária e o acompanhamento da sua capacidade intrínseca, bem como dos parâmetros clínicos, para além de oferecer recomendações de exercício e alimentação, materiais didácticos, lembretes de medicação ou sistemas de alerta.

O uso de sistemas digitais que favoreçam a monitorização remota aproxima o cuidado da pessoa idosa do seu domicílio e integra todos os intervenientes (paciente, cuidador e profissionais de saúde de atenção primária e hospitalar). Desta forma, facilita-se a assistência na hora de tomar decisões clínicas e aumenta-se a qualidade de vida e o bem-estar físico, emocional e social das pessoas idosas e do seu ambiente.

Além disso, a utilização destes inovadores sistemas de telemonitorização em pessoas idosas pode contribuir para o avanço da sustentabilidade do sistema sanitário, depois promete uma redução de 10 por cento nas despesas relacionadas com hospitalização, atendimento nas urgências e consultas da especialidade, que se traduziria numa diminuição de três por cento do total das despesas anuais com a saúde.

Jaime Barrio Cortes, médico de família e investigador sénior na Fundação para a Investigação e Inovação Biossanitária de Atenção Primária (FIIBAP). Director do Mestrado em Saúde Escolar e docente na Faculdade de Saúde, Universidade Camilo José Cela, e Beatriz Benito Sánchez, investigadora científico-técnica na Fundação para a Investigação e Inovação Biossanitária de Atenção Primária (FIIBAP), Serviço de Saúde Madrileno.

Fonte: National Geographic Espanha