A estrela do ciclo
desconcentrar
O Museu do Caramulo vai
inaugurar já no próximo Sábado, dia 12 de Abril, às 15h00, a exposição “Meia
Sombra – A Partir da Coleção da CGD”, na estreia do ciclo Desconcentrar, e
resultado da primeira residência artística realizada em colaboração com a Culturgest,
a qual conta com a participação das artistas convidadas Joana da Conceição,
Maria Paz Aires e Teresa Arêde.
"“Meia Sombra” é o ponto
de transição da luz para o escuro, uma meia-luz ou penumbra, que no contexto da
natureza refere uma condição de iluminação intermediária entre a luz inteira e
a sombra completa. É sobre o signo deste processo mediado que se desenvolve a
exposição do primeiro momento do ciclo “Desconcentrar - A Partir da Coleção da
CGD” que propõe trazer perspetivas recentralizadas nas intensidades, energias e
vibrações da Serra do Caramulo.
Num movimento que procura
levar a serra para o interior do museu, o trabalho desenvolvido em residência e
apresentado agora na exposição “Meia Sombra – A Partir da Coleção da CGD” pelas
artistas Joana da Conceição, Maria Paz Aires e Teresa Arêde inscreve outras
formas de vida, agências e forças, numa relação com o entorno natural do Museu
do Caramulo, recuperando uma conexão com os diversos ritmos da serra, e os
testemunhos e memória das suas comunidades.
Partindo de um modo de estar
em conjunto vinculado a múltiplas temporalidades e estádios transformativos,
esta exposição aborda um pensamento não-historial do lugar, interpelando uma
natureza eterna, autossuficiente, ecossistémica, indissolúvel e cíclica. Se no
caso da instalação feita em conjunto pelas artistas Joana da Conceição e Maria
Paz Aires existem diversos núcleos que formam uma constelação que,
desconstruindo a noção do todo e baseando-se na ideia de alteridade, toma o
museu através de uma figura antropomórfica feminina, ancestral e gutural
composta pela materialidade da natureza; as obras de Teresa Arêde partem também
do lugar do feminino, inscrevendo um trabalho sonoro comunitário, bem como
elementos ligados ao lacrimejar, ao musgo e às pedras, que simbolizam aqui uma
ação em rede da serra. Estas obras estão, portanto, intimamente unidas a uma
partilha de saberes que desconstrói uma ideia fechada de autoria, seja pelas
peças realizadas em parceria com diversos artesãos da região, ou pela intervenção
participativa com a AMA – Associação das Mulheres Agricultoras de Castelões, a
acontecer na inauguração, nos jardins em frente ao Museu do Caramulo.
Este evento será um encontro
partilhado que reúne a comunidade para em conjunto cultivar a flor do linho,
que vai crescer durante a exposição e ser recolhida na finissage. Por outro
lado, as peças de Ana Jotta e de Von Calhau! pertencentes à Coleção da CGD
trazem outros imaginários insondáveis da terra, completados pelas peças do
Museu Terras de Besteiros vindas de diferentes tipos de cultura material da
região, e que nos remetem para as artes e ofícios tradicionais, como a produção
do linho, a cestaria ou a olaria.
“Meia Sombra” está assim
vinculada à generosidade da terra – aquela que permite que a partir de uma flor
se crie um pano de linho. Trata-se de uma ética ligada à natureza fundada no
dom: um movimento de doação que assenta no repartir, no amparar e na dádiva,
mais do que na retenção, na escolha e na exclusão, desenvolvendo-se num ato
contínuo de generosidade e de acolhimento." (Sara Castelo Branco,
curadora).
O ciclo Desconcentrar reúne
actividades centradas na criação e produção artística, na área das artes
visuais, em territórios de baixa densidade populacional.
A exposição "Meia
Sombra" estará patente no Museu do Caramulo de Terça a Domingo, já a
partir do próximo dia 12 de Abril e até ao próximo dia 22 de Junho.
Fonte: Museu do Caramulo