domingo, 27 de outubro de 2024

“Investigação e Desenvolvimento muscular no útero”


Investigadores da Faculdade de Ciências da ULisboa demonstram como a falta de uma proteína afeta o desenvolvimento muscular no útero

 

Por: Ana Rita Carlos

Nos últimos três anos e meio, investigadores de dois laboratórios do Centro de Ecologia, Evolução a Alterações Ambientais (CE3C) desenvolveram um estudo inovador, que revela novas informações sobre a distrofia muscular congénita tipo 1A (MDC1A).

O estudo, agora publicado na revista Life Science Alliance, explora de forma aprofundada os mecanismos que levam ao desenvolvimento da MDC1A, identificando novos alvos terapêuticos e abrindo caminho para o desenvolvimento de tratamentos que possam ajudar os pacientes que sofrem desta distrofia.


Este trabalho foi desenvolvido pelo Laboratório de Matriz Extracelular no Desenvolvimento e Doença (EMDD) e o Laboratório de Mecanismos Moleculares de Doença (MMD), com a colaboração de investigadores do Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas (BioISI), bem como de instituições internacionais, como a Universidade de Nápoles (Itália) e o Jacqui Wood Cancer Centre da Universidade de Dundee (Escócia).

A MDC1A, também designada por distrofia muscular congénita relacionada com LAMA2 (LAMA2-CMD), é uma doença rara e potencialmente fatal, com incidência na Europa de 10 a 14 casos por milhão de habitantes. É causada por alterações no gene LAMA2, responsável pela produção de laminina-α2, uma proteína essencial para o correto funcionamento dos músculos.

“Estamos otimistas de que os resultados alcançados poderão, no futuro, contribuir para novas terapias, oferecendo esperança para as famílias que lidam com esta doença incapacitante”, conclui Sólveig Thorsteinsdóttir, investigadora que lidera o grupo EMDD.

Através de modelos de ratinho para a doença, a equipa observou que células do músculo com alterações nesta proteína apresentam dificuldades de crescimento e desenvolvimento, “processos essenciais para a formação muscular, tanto no desenvolvimento embrionário como numa recuperação após a existência de lesões musculares.” explica Susana Martins, estudante de doutoramento nos grupos MMD e EMDD.

Entender os processos biológicos e moleculares que estão por detrás de uma doença é crítico para a descoberta de potenciais terapias. Nas palavras da investigadora Ana Rita Carlos, líder do grupo MMD, “Embora o estudo não traga uma cura imediata, proporciona uma nova compreensão dos processos biológicos envolvidos, o que poderá, no futuro, abrir portas para o desenvolvimento de novas terapias, nomeadamente no campo da terapia génica”.

No futuro, a equipa focar-se-á em duas frentes de investigação: o estudo de células obtidas de pacientes com a doença, para verificar se os processos observados em modelos de ratinho podem ser revertidos em células humanas e a exploração de estratégias de terapia genética que possam, um dia, corrigir as alterações no gene LAMA2 e auxiliar no tratamento da doença.

Fonte: Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

“Investigação e Desenvolvimento Doença de Alzheimer”


Equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da ULisboa descobre composto químico com potencial terapêutico para combater a Doença de Alzheimer

 

A Faculdade de Medicina da ULisboa recebeu a visita de uma equipa de reportagem no Laboratório de Farmacologia e Neurociências, local onde a Professora Maria José Diógenes e a sua equipa descobriram um novo composto químico que demonstrou em ratinhos, ter potencial terapêutico contra a doença de Alzheimer.

Este estudo agora revelado e publicado na revista Molecular Therapy, deu os primeiros passos em 2015, quando a equipa se debruçou em identificar o que estava mal, o que não funcionava nos cérebros dos ratinhos que tinham mimetizado a doença de Alzheimer. “Precisávamos de muitas amostras para percebermos a evolução da doença e isso levou-nos a um banco que existe na Finlândia e que para além de ter vários estádios da doença, tem muitas amostras que nos permitiam a comparação”, explica a também presidente do Conselho Pedagógico, da Faculdade de Medicina da ULisboa.

À medida que iam avançando nas pesquisas perceberam que tinham de proteger os efeitos neuroprotetores da molécula BDFN, muito importante para o cérebro, e que é “crucial para os processos de memória e aprendizagem e cuja função está diminuída” nos doentes com Alzheimer porque “o local onde a esta molécula se liga para exercer a sua função, está destruído”. Cientistas de todo o mundo dedicaram-se durante anos a tentar aumentar o potencial da molécula, mas nunca se dedicaram ao recetor.

A professora avança criando uma metáfora para que a perceção seja mais fácil, “não se dedicaram a estudar a fechadura, o recetor”. O que este composto faz é impedir a clivagem do recetor da molécula designada TrkB-FL”. Significa, portanto, que para que a BDNF consiga exercer a sua função em pleno é necessário ativar o recetor da molécula o TrkB-FL. É como se o BDNF fosse uma chave e o TrkB-FL a fechadura. “para que a chave abra a porta é necessário que a fechadura esteja intacta”, explica.

A quebra do recetor dá origem a dois fragmentos", sendo que "um deles tem a capacidade de por si só promover a alteração da memória e de alterar o funcionamento dos genes".

A equipa de Maria José Diógenes verificou que, quando administrado a roedores que reproduziam a doença de Alzheimer, o novo composto químico "recupera as ações" da molécula BDNF no cérebro, "por prevenir a clivagem do recetor TrkB-FL", mas também "impede a formação de um fragmento tóxico que tem potencial para propagar a doença". "Diminui os níveis de Tau hiperfosforilada, um péptido [composto de aminoácidos] que se acumula no cérebro dos doentes de Alzheimer e que se julga ser uma das causas da doença", e "impede a perda de espinhas dendríticas, estruturas que permitem que os neurónios comuniquem uns com os outros e essenciais para a formação de memória", ou seja, este novo composto químico atua em duas frentes.

Fonte: Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa