Por: Frederico Simões do Couto
Foto: Freepik/ lifeforstock
Cuidar de si é vital para a
saúde, felicidade e até para viver mais — e as férias, quando bem aproveitadas,
podem ser um impulso poderoso nesse sentido. Mais do que o destino, importa a
forma: pausas de pelo menos oito dias, recheadas de atividades que dão prazer,
convivência com pessoas queridas e abertura para descobertas inesperadas,
ajudam a recarregar energias e dar novo significado à vida.
É bastante bom cuidarmos de
nós - além do efeito evidente sobre o nosso bem-estar, felicidade, satisfação
com a vida, autoestima e saúde mental, é muito provável que reduza o risco de
doença coronária e que até nos faça viver mais tempo. Desde que excluamos
perspectivas filosóficas determinísticas, cuidar de nós tem ainda a enorme
vantagem de estar nas nossas mãos. É perfeitamente possível decidirmos jogar
golf, passar a ferro, falarmos com pessoas de quem gostamos, comermos a melhor
refeição do mundo em casa dos nossos pais, fazermos uma para os nossos netos,
ou até pedirmos a alguém para nos coçar as costas.
E as
férias? Também são uma forma de cuidar de nós?
Estranhamente, não é assim tão
claro! Ir de férias implica afastar-se do stress do trabalho, o que é bom, mas
também pode implicar tropeçar em empregados de hotel rudes, em ter de comer
aquele horroroso guisado de uma tia ou receber um amável email de um colega a
lembrar o prazo para entrega de um relatório que, pelo menos, vai salvar o
mundo.
Num excelente artigo de
revisão recente, em que participou uma das pessoas que mais tem publicado neste
tema, Jessica de Bloom, aceita-se que não se sabe assim tanto sobre este
assunto (Yan et al, 2024). Ainda assim, são identificados 3 grupos de fatores
que influenciam o bem-estar durante as férias: as características das férias em
si, as do destino de férias e as das atividades realizadas. Estão associadas a
bem-estar coisas como estar com outras pessoas (por exemplo tentar integrar-se
com as pessoas que vivem nas regiões que se visita), novidades boas
(especialmente se foram surpreendentes, tipo serendipidade) e escolher fazer
coisas que se gosta (a autonomia é mesmo importante!). A perspetiva com que se
olha para as coisas também foi considerada importante - é muito melhor tentar
ver que as coisas têm o seu lado bom, valorizá-lo, e dar um significado pessoal
às férias (por exemplo, sentir-se em ligação com mundo ou ter experiências de
ajudar os outros).
A partir daqui não há
propriamente estudos comparativos para comprovar a utilidade destes fatores.
Seria preciso, por exemplo, pegar num grupo de pessoas, dividi-los
aleatoriamente em dois grupos e sujeitar cada grupo à mesma experiência de
férias, mas com durações diferentes.
Ou seja, a extrapolação para
conselhos práticos é mais difícil de ser feito com rigor científico. Contudo,
parece ser mais importante a forma das férias, do que o seu conteúdo (que é
individual e depende do gosto das pessoas). Ainda assim, provavelmente é bom
para si se tiver em conta estes fatores:
-Férias com pelo menos oito
dias tendem a ter efeitos mais duradouros no bem-estar.
-Planeie fazer o que gosta,
escolhendo atividades que lhe deem prazer e sentido, em vez de pensar pela
cabeça dos outros.
-Esteja com pessoas de quem
gosta e procure conhecer gente nova nos locais que visita.
-Permita-se a surpresa e deixe
espaço para o inesperado e para a descoberta.
-Evite levar o trabalho
consigo.
-Dê significado pessoal às
experiências, veja as férias como uma forma de se conectar com o mundo e com os
seus próprios valores.
Artigo de: Frederico Simões do
Couto - Professor associado de Psiquiatria e Psicofarmacologia na Faculdade de
Medicina da Universidade Católica Portuguesa
Fonte: Sapo on-line Saúde