Por: Pedro Caetano
Foto: Tiago Petinga/LUSA
Uma equipa de cientistas de
várias instituições descobriu um novo mecanismo de mutação responsável pelo desenvolvimento
de um cancro ósseo pediátrico agressivo, uma investigação que forneceu ainda
pistas para melhorar a gestão dessa doença.
Publicado na revista
científica Cell, o estudo pretendeu resolver o mistério sobre a origem dos
rearranjos genómicos que provocam o desenvolvimento agressivo e a evolução dos
tumores de osteossarcoma, avançou hoje a Fundação Champalimaud.
A investigação foi
desenvolvida em colaboração entre o European Molecular Biology Laboratory
(EMBL-EBI), o Instituto Europeu de Bioinformática do EMBL, o University College
London, o Royal National Orthopaedic Hospital e o Laboratório de Investigação e
Desenvolvimento da Genomics England.
O osteossarcoma é um tipo de
cancro ósseo agressivo que afeta mais frequentemente crianças e jovens adultos
entre os 10 e os 20 anos durante os períodos de rápido crescimento ósseo.
Embora sendo raro, este tipo
de cancro tem um impacto significativo nos jovens e nas suas famílias, uma vez
que o tratamento pode exigir cirurgia ou amputação, além de apresentar um
potencial de se espalhar para outros órgãos, como os pulmões.
Dada a sua complexidade do
ponto de vista genómico, tem sido difícil identificar quais as mutações
genéticas que provocam a doença, explicou a Fundação Champalimaud, ao adiantar
que, por essa razão, tem havido poucos avanços nas opções do seu tratamento nos
últimos 40 anos.
Através da análise da maior
coleção de dados sobre o genoma completo de doentes com este tipo de tumor, os
investigadores identificaram agora um novo mecanismo de mutação, denominado
cromotripsis por perda-translocação-amplificação (LTA, na sigla em inglês), que
está presente em cerca de 50% dos osteossarcomas de alto grau.
Na prática, esta descoberta
explica o que torna este tipo de tumor tão agressivo e os elevados níveis de
instabilidade genómica observados nas células cancerosas do osteossarcoma.
Além disso, o estudo permitiu
identificar um biomarcador de prognóstico – ou seja, uma característica
biológica das células cancerosas que ajuda a prever os resultados dos doentes –
que pode ser utilizado para antecipar a evolução provável da doença, referiu a
fundação em comunicado.
“Há anos que sabemos que as
células do osteossarcoma têm alguns dos genomas mais complexos observados nos
cancros humanos, mas não conseguíamos explicar os mecanismos subjacentes a este
facto”, afirmou Isidro Cortes-Ciriano, líder de grupo do EMBL-EBI e coautor
sénior do estudo.
Segundo investigador, ao
estudar as anomalias genéticas em diferentes regiões de cada tumor e ao
utilizar novas tecnologias que permitiram ler longos trechos de ADN, foi
possível agora “compreender como os cromossomas se quebram e se reorganizam e
como isso afeta a progressão do osteossarcoma”.
Os investigadores também
analisaram dados de sequenciação do genoma completo de mais de 5.300 tumores de
diversos tipos de cancro.
Através desta análise mais
ampla, identificaram que, em vários tipos de cancro, as anomalias cromossómicas
muito complexas surgem porque os cromossomas afetados pela cromotripsis são
altamente instáveis.
Esta descoberta tem
implicações significativas para o tratamento de diversos tipos de cancro,
sugerindo que a instabilidade genómica de cromossomas complexos observada na
progressão do osteossarcoma é também relevante para outros cancros, concluiu a
investigação.
“A nossa análise adicional de
diferentes tipos de tumores mostrou que os cromossomas afetados por rearranjos
genómicos complexos são também comuns e instáveis noutros tipos de cancro”,
afirmou Jose Espejo Valle-Inclan, co-autor do estudo, agora a trabalhar na
Fundação Champalimaud.
Com o tempo, “os novos
conhecimentos poderão conduzir a melhores opções de tratamento e a melhores
resultados para os doentes através de cuidados mais direcionados”, salientou
ainda Greg Elgar, director de Sequenciação e I&D da Genomics England.
Financiada por várias
entidades, a investigação contou também com o apoio financeiro do Tom Prince
Cancer Trust, uma instituição sem fins lucrativos criada em memória de Tom
Prince, que morreu de osteossarcoma aos 15 anos de idade, em 2004.
Fonte: Lusa