domingo, 9 de fevereiro de 2025

“Mau funcionamento da tiroide tem "sintomas e sinais muito inespecíficos"


O alerta é de Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo

 

Quando não estamos bem e há sintomas que persistem sem que se consiga perceber porquê, a nossa saúde mais parece um puzzle para o qual é preciso encontrar a peça em falta. E essa peça pode ser a tiroide. É que, afirma Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, o mau funcionamento desta glândula pode traduzir-se "em sintomas e sinais muito inespecíficos". E isso conduz a uma ausência de diagnóstico: a Sociedade Americana da Tiroide estima que cerca de 60% das pessoas com distúrbios da tiroide não são diagnosticadas, o que significa que centenas de milhões de pessoas sofrem, em todo o mundo, sem saber a causa dos seus sintomas.

Em Portugal, os dados da SPEDM e do Grupo de Estudos da Tiroide revelam que, dos 7,4% da população adulta afetada por estes distúrbios, "a disfunção tiroideia não diagnosticada pode abranger mais de 5%".

É para dar um nome a estes problemas que a Merck, em conjunto com a SPEDM e a Associação das Doenças da Tiroide, realiza um rastreio para ajudar a encontrar a peça em falta no puzzle da saúde. No dia 27 de maio, entre as 10 e as 17 horas, o CascaiShopping recebe uma ação de rastreios onde, além do teste TSH que permite identificar pessoas em risco de hipotiroidismo, se pretende partilhar informação sobre os sinais e sintomas desta doença, para aumentar a sensibilização e a literacia em saúde.

De entre os distúrbios da tiroide mais frequentes, o destaque vai para o hipotiroidismo, "uma das doenças endocrinológicas mais comuns, que é mais prevalente em caucasianos e mulheres (cinco a oito vezes mais do que em homens)" e que se manifesta através de um conjunto de sintomas que se podem confundir com os de outras doenças. "Podemos referir a intolerância ao frio, redução da sudorese, cansaço, letargia, sonolência, anorexia, mialgias ou dores musculares, dores articulares; depressão, perturbação amnésica ou alterações da memória, obstipação, visão turva, diminuição do número de ciclos menstruais anuais ou até ausência de fluxo menstrual, síndrome do túnel cárpico, perda capilar (no couro cabeludo, axilar, púbico)", explica Paula Freitas.

Pelo que, acrescenta, "obviamente é recomendado que em qualquer pessoa com sintomas compatíveis com doença tiroideia, mesmo que algo inespecíficos, seja efetuada uma avaliação laboratorial". Ou seja, a consulta a um médico é essencial na presença destes e de outros sintomas, que podem traduzir a existência de hipotiroidismo, hipertiroidismo, nódulos na tiroide ou qualquer outra disfunção nesta glândula, para que possa ter início o tratamento. Até porque, refere a especialista, "o não diagnóstico significa que as pessoas com a doença e com critérios para tratamento não estão a ser tratadas. A disfunção tiroideia pode ter impacto em todos os órgãos e sistemas do organismo, e o não tratamento tem obviamente impacto na 'quantidade' e qualidade de vida. Dado que cerca de 4 a 6,5% dos nódulos da tiroide podem ser malignos, o não tratamento também poderá impactar na quantidade e qualidade de vida das pessoas, sobretudo naqueles com tumores de maior risco".

Fonte: Notícias ao minuto

“Já ouviu falar de tosse convulsa? Médica explica tudo o que deve saber”


Por:  Margarida Ribeiro

Falámos com Ana Gisela Oliveira, uma pediatra do Grupo Trofa Saúde, sobre a tosse convulsa, uma condição que tem dado muito que falar nos últimos tempos.

Durante os últimos meses, o número de casos de tosse convulsa aumentou, significativamente, em todo o mundo. Por exemplo, em Portugal, segundo a Direção-Geral de Saúde (DGS), registaram-se 200 casos nos primeiros quatro meses de 2024, quando em todo o ano anterior tinha registado 22.

Mais especificamente, os números nacionais referem-se a pacientes com "idade pediátrica (86%), sobretudo em crianças entre os 10 e 13 anos (21%) e com idade inferior a 1 ano (20%)".

Para entender melhor esta condição, assim como os sintomas e os potenciais riscos, o Lifestyle ao Minuto falou com Ana Gisela Oliveira, uma pediatra do Grupo Trofa Saúde.

 

O que é a tosse convulsa? É uma doença contagiosa?

 

Tosse convulsa (também conhecida como tosse coqueluche, pertússis ou tosse dos 100 dias) é uma doença contagiosa que atinge o aparelho respiratório.

É pediatra do Grupo Trofa Saúde© Ana Gisela Oliveira 

 

Quais são as causas mais comuns? Como acontece o contágio?

 

É causada pela bactéria Bordetella pertussis, sendo os humanos o único reservatório. O contágio ocorre através da inalação de gotículas respiratórias de uma pessoa infetada emitidas por espirros ou tosse ou pelo contacto com objetos contaminados com secreções. Já o período de incubação é de sete a 10 dias, mas pode variar entre cinco a 21 dias.

 

Quais os sintomas mais comuns?

 

São habitualmente moderados e semelhantes aos de uma constipação: corrimento e congestão nasal, olhos lacrimejantes e vermelhos, febre e tosse.

 

 Esta divide-se em três fases:

 

Primeira fase, a catarral, dura de uma a duas semanas, e ocorre corrimento nasal, tosse não produtiva e febre baixa;

Segunda fase, a paroxística, tem uma duração de duas a seis semanas, com agravamento da tosse, mais frequente à noite, e que pode terminar com um guincho inspiratório - um ruído característico da doença que surge com respiração, no final do acesso de tosse - ou vómito. Pode ser acompanhada de cianose, a coloração azulada da pele e dos lábios;

Terceira, e última fase, a de convalescença, tem uma duração de duas a seis semanas, e ocorre a diminuição progressiva da tosse em intensidade e frequência.

Contudo, a tosse convulsa não se manifesta de igual forma em todos os doentes. Por exemplo, os recém-nascidos, assim como os bebés, podem ter uma fase catarral muito curta ou mesmo ausente, podendo o guincho inspiratório estar ausente e ocorrer apneia - pausa respiratória - e dificuldade respiratória.

Já em crianças vacinadas, adolescentes e jovens adultos, a sintomatologia é, habitualmente, menos pronunciada, podendo manifestar-se apenas como tosse persistente.

 

Está associada a possíveis complicações? Quais?

 

Complicações mais frequentes incluem: apneia, pneumonia e perda de peso. Contudo, outras complicações como pneumotórax, epistaxis (sangramento nasal), hemorragia subconjuntival, hematoma subdural, prolapso rectal, convulsões e morte podem ocorrer, nomeadamente em crianças mais pequenas e não vacinadas.

 

É possível prevenir o contágio? Como?

 

A melhor forma de prevenção da tosse convulsa é a vacinação, com cumprimento do esquema completo. Por exemplo, em Portugal, a vacina é gratuita e está incluída no Programa Nacional de Vacinação (PNV), em cinco doses aos 2, 4, 6, 18 meses e 5 anos de idade.

Também faz parte do PNV para as grávidas, devendo ser realizada em cada gravidez, entre as 20 e a 36 semanas de gestação, idealmente até às 32 semanas, com o objetivo de proteger o recém-nascido e o lactente nas primeiras semanas de vida (antes do início da vacinação aos 2 meses).

Após o diagnóstico de tosse convulsa, as crianças devem ser isoladas e não frequentar o local de ensino até cumprirem cinco dias de antibiótico ou na ausência de tratamento, o isolamento deve ser de 21 dias após o início dos sintomas.

Torna-se também essencial uma correta etiqueta respiratória, tal como a utilização de máscara e higiene frequente das mãos.

 

Como é feito o diagnóstico?

 

O diagnóstico de tosse convulsa é clínico, contudo, existem vários exames laboratoriais para a sua confirmação através da pesquisa da bactéria.

 

Quais os tratamentos mais recomendados?

 

O tratamento da tosse convulsa consiste na toma de um antibiótico que permite eliminar a Bordetella pertussis, limitando o contágio. Na fase catarral esta terapêutica diminui ou elimina os sintomas, contudo, na fase paroxística não altera o estado clínico do doente.

Deve ser proporcionado um ambiente tranquilo, reforçada a hidratação e alimentação adequada.

Em alguns casos, é necessário internamento hospitalar, nomeadamente em bebés menores de seis meses, casos com dificuldade respiratória, intolerância alimentar (incapacidade de se alimentar), cianose, apneia e convulsões.

Os elementos do agregado familiar e contactos íntimos expostos à infeção devem realizar tratamento antibiótico profilático.

 

Quais as maiores diferenças entre uma tosse normal e tosse convulsa? É fácil de confundir com outras condições?

 

Tosse convulsa destaca-se pela longa duração da tosse e pelo guincho e a cianose associados que, como referido, nem sempre estão presentes. O diagnóstico de tosse convulsa em fases mais precoces pode ser difícil porque os sinais e sintomas são muito semelhantes aos de outras doenças respiratórias, como constipações e gripes.

Está a tornar-se um problema muito comum. Porquê? Que fatores estão a causar um aumento do número de infeções em múltiplos países?

Trata-se de uma doença endémica na União Europeia e em todo o mundo, com picos previsíveis a cada três a cinco anos, correspondendo este ano a um ano de surto.

Embora a vacinação sistemática tenha reduzido significativamente a incidência da doença, nem a infeção nem a vacinação conferem imunidade permanente, sendo possível ter tosse convulsa mais do que uma vez na vida. A ausência de reforço natural, decorrente da diminuição da doença, associada à perda de imunidade vacinal ao longo do tempo leva a que adolescentes e adultos não imunes, bem como indivíduos não vacinados, possam contrair a doença e serem fontes de contágio para pequenos bebés suscetíveis (com cobertura vacinal parcial ou ausente).

Fonte: Notícias ao Minuto