Por: Emanuel Guedes
Neste mês de abril, a cidade
de Hendaye será palco de um evento em memória dos emigrantes e exilados
ibéricos que marcaram a história da França e da Europa. Organizado pelo
Colectivo para a Memória dos Estrangeiros na Resistência em França 1940-1945,
em parceria com a associação "Mémoire Vive – Memória Viva" e outros
25 signatários, entre os quais o LusoJornal, este evento decorrerá de 14 a 23
de Abril.
Esta iniciativa insere-se num
quadro histórico particularmente rico. Porque em 2025, o mundo comemora o
80ºÉsimo o aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, a libertação da França
e da Europa da dominação nazista, bem como o 51º aniversário da Revolução dos
Cravos em Portugal e o 50º aniversário do fim do franquismo na Espanha. Neste
contexto, os organizadores desejam honrar a memória dos espanhóis e portugueses
que cruzaram os Pirenéus em busca de liberdade e melhores condições de vida.
Um
programa agitado
Durante estes dez dias de
comemoração, vários eventos marcarão esta homenagem. Serão realizadas
cerimónias em memória dos emigrantes e exilados ibéricos, bem como dos
combatentes da Resistência que contribuíram para a libertação de França.
Uma placa comemorativa será
inaugurada na estação Hendaye, um local simbólico para a passagem de muitos
refugiados políticos. Paralelamente, serão oferecidas exposições, exibições de
filmes e uma grande conferência-debate sobre a história das migrações ibéricas
para França e Europa nos séculos XIX e XX. Uma forma de os organizadores
homenagearem esses emigrantes e refugiados que contribuíram para a libertação
da França em 1940-45, na reconstrução da França de 1920 a 1936 e de 1950 a
1980.
Hendaye,
um lugar repleto de memória
Localizada na fronteira
franco-espanhola, Hendaye ocupa um lugar central na história das migrações
ibéricas. A estação ferroviária internacional, as fronteiras dos Pirenéus, a
Ponte de Santiago e o rio Bidasoa foram travessias cruciais para milhares de espanhóis
e portugueses que decidiram fugir dos regimes ditatoriais dos seus países.
Muitos tentaram se juntar à França Livre, mas sua jornada muitas vezes parava
em Hendaye, onde eram bloqueados na fronteira.
A SNCF, parceira desta
homenagem, também tem o dever de recordar. Mais de 10.000 trabalhadores
ferroviários perderam a vida em combate durante a Segunda Guerra Mundial, sob
bombardeios, baleados ou deportados. Há mais de 30 anos, a empresa ferroviária
está ativamente envolvida no trabalho de memória para homenagear esses
combatentes da resistência e as vítimas da Shoah.
Um dever
de lembrar
Através destas comemorações, o
Coletivo para a Memória dos Estrangeiros na Resistência em França, liderado por
Manuel Dias de Bordéus, e os seus parceiros querem lembrar-nos da importância
dos valores carregados pela Segunda República Espanhola e pela Revolução dos
Cravos. Longe de ser um simples olhar para o passado, esta homenagem pretende
transmitir às novas gerações a história destes homens e mulheres que
contribuíram, com a sua coragem e empenho, para a construção de um futuro de
liberdade e democracia.
Apoiado pelo Conselho Regional
da Nouvelle-Aquitaine, pela SNCF, pela Câmara Municipal de Hendaye, pela DGACCP
Portugal e pela ONAC-VG Pyrénées-Atlantiques, este evento pretende ser um forte
momento de reconhecimento e recordação, para que a memória possa perdurar no
tempo.
Fonte: Luso Jornal (frança)