O cancro colorretal está entre
os tipos de cancro mais mortais, mas é também um tipo de tumor maligno onde o
rastreio regular tem um papel essencial por diminuir o risco de doença e de
mortalidade. Falámos com médico e cirurgião Nuno Figueiredo sobre esta doença,
que é a segunda principal causa de doença maligna em Portugal.
De acordo com dados da
Organização Mundial de Saúde, anualmente são detetados mais de 500 mil novos
casos de cancro colorretal, metade dos quais resultaram em morte. Um melhor
rastreio permite identificar os casos em fase inicial, o que dá ao doente 90% de
probabilidade de sobreviver, face a apenas 10% quando a doença é detetada em
estados avançados.
Por outro lado, 60% das mortes
poderiam ser evitadas se as pessoas com mais de 50 anos fizessem um rastreio
regular e se a população estivesse atenta aos principais fatores de risco desta
patologia.
Quais são
os fatores de risco do cancro colorretal?
Até à data, com excepção de
alguns síndromes genéticos hereditários, como é o caso da Polipose Adenomatosa
Familiar e o Síndrome de Lynch, não são conhecidas causas específicas para o
aparecimento de cancro colorretal. No entanto, estão identificados fatores de
risco que podem contribuir para o seu desenvolvimento. É importante referir que
estes fatores aumentam o risco de desenvolvimento do cancro colorretal, mas a
sua presença isolada não condiciona obrigatoriamente a existência de cancro.
Alguns destes fatores de risco
são modificáveis, pois estão relacionados com o estilo de vida, como é o caso
da: dieta com elevado consumo de carnes
vermelhas, carnes processadas e pobre em fibras; a obesidade; o tabagismo e o
sedentarismo. Outros fatores de risco não podemos modificar, pois dependem do
normal envelhecimento da população, da existência de doenças crónicas que podem
aumentar o risco de aparecimento de cancro colorretal (como é o caso da doença
inflamatória intestinal) ou da existência de história familiar de cancro
colorretal ou de outros tipos de cancro.
Um dos
aspetos mais importantes da prevenção assenta no diagnóstico precoce, através
do rastreio sistemático da população
Quais são
os sinais e sintomas?
Nas fases iniciais desta
doença podem não existir sinais nem sintomas e, mesmo quando estes surgem,
frequentemente passam despercebidos. Quando presentes, as queixas mais
frequentes são a perda de sangue nas fezes (por vezes sangue vermelho vivo ou
escuro, outras vezes, a presença de fezes de cor preta), a alteração recente
dos hábitos intestinais (obstipação ou diarreia), presença de muco nas fezes ou
mesmo emagrecimento e dor abdominal.
Em alguns casos, pode estar
presente anemia em análises efetuadas ao sangue, que se pode manifestar por
fadiga, cansaço fácil ou palidez.
Como se
pode prevenir este tumor?
É importante manter estilos de
vida saudáveis, evitando o tabagismo, praticando exercício físico regular e
cumprindo uma dieta equilibrada e rica em fibras. No entanto, um dos aspetos
mais importantes da prevenção assenta no diagnóstico precoce, através do
rastreio sistemático da população. Algumas organizações internacionais - como a
American Cancer Society - alteraram as suas recomendações no início deste ano,
antecipando para os 45 anos a idade aconselhada para dar início ao programa de
rastreio.
O rastreio, para além do
diagnóstico dos casos de cancro colorretal, pode evitar o seu desenvolvimento,
uma vez que a extração endoscópica de lesões ou pólipos nas formas iniciais de
displasia e nas fases precoces de neoplasia, pode evitar o desenvolvimento
deste tumor.
Qual a
melhor forma de rastrear o cancro colorretal?
Os programas de rastreio
incluem frequentemente a pesquisa de sangue oculto nas fezes, o teste
imunoquímico fecal, a colonografia por TAC e a colonoscopia.
Os testes realizados às fezes
são simples e permitem, de modo não invasivo, detetar pequenas quantidades de
sangue (ou de produtos derivados do sangue) que podem ter origem nas lesões
tumorais do intestino.
A colonografia por TAC é um
método não invasivo que permite observar o intestino, cólon e reto, detetando
lesões no seu interior.
Em
Portugal têm sido realizados esforços importantes no acesso aos programas de
rastreio e no atendimento e tratamento em tempo útil dos doentes com cancro do
cólon e do reto
A colonoscopia total permite a
visualização direta e completa do cólon e reto e, apesar de ser o método mais
invasivo, tem maior capacidade de diagnóstico para pequenas lesões. É o único
que também pode ser terapêutico. Durante a colonoscopia é possível a realização
de biópsia de leões suspeitas ou efetuar a excisão imediata de pólipos e de
lesões passíveis de remoção endoscópica.
Portugal
está no bom caminho no tratamento desta patologia?
Em Portugal, têm sido
realizados esforços importantes no acesso aos programas de rastreio e no
atendimento e tratamento em tempo útil dos doentes com cancro do cólon e do
reto.
No tratamento desta doença
estão disponíveis no nosso país as mais atualizadas opções terapêuticas,
médicas e cirúrgicas. No entanto, há sempre áreas passíveis de melhoria e
otimização. A par do desenvolvimento técnico e terapêutico é necessário também
o investimento e promoção de programas específicos de investigação científica
aplicada à clínica, na área do cancro do cólon e reto.
Fonte: Sapo on-line Saúde