Por: José Presa Fernandes
(Coordenador de Cirurgia Geral no Hospital CUF Trindade”
A tiroide, apesar de ter uma
pequena dimensão, ensina-nos uma verdade essencial: cuidar da saúde é
antecipar, planear e acompanhar, não apenas reagir. A prevenção começa pela
informação: saiba quais são os sintomas que o devem levar a procurar um médico.
A tiroide é uma pequena
glândula em forma de borboleta, situada na base do pescoço. Apesar do tamanho discreto, o seu papel é
fundamental: regula o metabolismo, o peso, a energia, o humor e o ritmo
cardíaco. Alterações da tiroide podem manifestar-se por sinais subtis ou
confundirem-se com outras doenças, permanecendo silenciosas durante muito
tempo.
Nos últimos anos, a maior
acessibilidade à ecografia cervical – recomendada por entidades nacionais e
internacionais – tem permitido detetar mais nódulos na tiroide. Embora a maioria seja benigna, uma pequena
percentagem pode corresponder a cancro da tiroide. A boa notícia? Quando
diagnosticado precocemente, este é um dos cancros com melhor prognóstico, com
opções de tratamento seguras e eficazes.
Recordo o caso de uma doente
que notou um “caroço” ao engolir. Não tinha outros sintomas e pensou tratar-se
de algo passageiro. A ecografia revelou um nódulo com características suspeitas
e a biópsia confirmou um carcinoma papilar. Foi submetida a uma cirurgia
parcial da tiroide, a lobectomia, recuperou rapidamente e nem sequer precisou
de medicação de substituição. Hoje tem uma vida completamente normal. Entre um
susto e uma doença grave, fez toda a diferença não ignorar um sinal do corpo.
A cirurgia tiroideia evoluiu
muito nas últimas décadas. Dispomos, hoje, de neuromonitorização dos nervos da
voz, técnicas minimamente invasivas e internamentos cada vez mais curtos. Em
casos selecionados, podem ainda ser escolhidas abordagens “remotas”, como a via
axilar ou pela boca, que evitam uma cicatriz visível no pescoço. Estes avanços
traduzem-se em cirurgias mais precisas e uma melhor qualidade de vida após o
tratamento.
Importa sublinhar que nem
todos os nódulos precisam de cirurgia. Muitos podem ser apenas vigiados com
ecografia e análises, de acordo com critérios bem definidos pela comunidade
científica. O objetivo é garantir a segurança e instituir tratamentos que sejam
estritamente necessários - decidir quem, quando e como tratar.
A prevenção começa pela
informação. Procure um médico se notar um nódulo no pescoço, dificuldade em
engolir ou sensação de pressão cervical, alterações recentes da voz, se tiver
história familiar de doença tiroideia ou exposição prévia a radiação na região
do pescoço. Perante estes sinais, uma avaliação por parte de um especialista
pode ter um impacto determinante.
O papel do cirurgião geral,
hoje, vai muito além da sala de operações: orientar, esclarecer dúvidas e
tranquilizar o doente fazem parte do tratamento. Na verdade, operar é apenas
uma das opções e deve sê-lo quando realmente indicado. A tiroide, apesar de ter
uma pequena dimensão, ensina-nos uma verdade essencial: cuidar da saúde é
antecipar, planear e acompanhar, não apenas reagir.
Fonte: Sapo on-line