Todos os anos morrem mais de quatro mil portugueses vítimas de um enfarte agudo do miocárdio. Recolhemos as explicações e recomendações de três cardiologistas.
O Enfarte Agudo do Miocárdio
(EAM) ou ataque cardíaco ocorre quando uma das artérias do coração fica
obstruída, deixando uma parte do músculo cardíaco em sofrimento por falta de
oxigénio e nutrientes. Esta obstrução é habitualmente causada pela formação de
um coágulo devido à rutura de uma placa de colesterol.
"As artérias coronárias
são responsáveis pelo fornecimento de oxigénio ao coração e quando uma destas
artérias fica obstruída e impede a passagem do sangue, provoca uma redução de
oxigénio no músculo cardíaco, provocando lesão e morte celular de parte deste
tecido, desencadeando o enfarte agudo do miocárdio", explica o médico
cardiologista Severo Torres.
O EAM é uma das principais
causas de morte em Portugal e o seu prognóstico está diretamente relacionado
com o tempo de evolução entre o início dos sintomas e o seu tratamento.
"Esta doença cardiovascular é a causa de morte de mais de quatro mil portugueses
todos os anos", refere o médico.
O principal sinal de alerta é
a dor no meio do peito, que se pode estender para um ou para os dois braços,
para as costas, pescoço, maxilar ou estômago, seguindo-se de outros sintomas
como fraqueza ou fadiga inexplicáveis, falta de ar, suores, náuseas, vómitos,
palidez e desmaio.
"Na presença destes
sintomas é importante ligar imediatamente para o número de emergência médica -
112 - e esperar pela ambulância que estará equipada com aparelhos que registam
e monitorizam a atividade do coração e permitem diagnosticar o enfarte. A
pessoa não deve tentar chegar a um hospital pelos seus próprios meios",
salienta o também médico cardiologista João Brum Silveira.
Segundo dados da Sociedade
Portuguesa de Cardiologia, estima-se que mais de dois terços da população
portuguesa não conhecem os sintomas do enfarte do miocárdio e que cerca de 50%
dos doentes com sintomas recorrem a uma unidade hospitalar sem capacidade para
realizar o tratamento, o que conduz a um atraso significativo no início da
terapêutica adequada.
O que
fazer em caso de suspeita de enfarte?
Perante a suspeita de um EAM,
é crucial ligar imediatamente para o número de emergência médica 112, por dois
motivos essenciais: rapidez no diagnóstico e transporte em segurança para um
hospital com capacidade de tratamento do EAM.
"A atuação rápida do
INEM, com profissionais treinados e equipados para fazer o diagnóstico de EAM
em ambiente pré-hospitalar, permite o transporte direto do doente para um
hospital com capacidade para realizar angioplastia primária (reabertura da artéria
ocluída), o tratamento de eleição do EAM, evitando a admissão em hospitais sem
condições para fazer este tratamento e reduzindo drasticamente os tempos de
atraso relacionados com o transporte inter-hospitalar", esclarece Sílvia
Monteiro é médica cardiologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
(CHUC).
"Por outro lado, o
transporte feito pelo INEM é mais seguro, uma vez que os profissionais estão
treinados para identificar e tratar de imediato as principais complicações do
EAM, nomeadamente a paragem cardiorrespiratória e a insuficiência cardíaca aguda,
mais frequentes nas primeiras horas após o início dos sintomas e quase sempre
fatais na ausência de um tratamento emergente", sublinha.
Rastreios
a partir dos 40 anos
"O rastreio dos fatores
de risco cardiovascular na população assintomática deve ser feito nos homens a
partir dos 40 anos e nas mulheres a partir dos 50 anos ou após a menopausa. Um
jovem sem sintomas, sem fatores de risco (nos quais se incluem os antecedentes
familiares), com um exame físico sem alterações e um eletrocardiograma normal
terá pouca probabilidade de ter qualquer alteração cardiovascular",
adverte Severo Torres.
"Na presença de fatores
de risco e de acordo com a avaliação do risco global, serão definidos os
necessários exames complementares, que poderão incluir o eletrocardiograma, o
ecocardiograma, a prova de esforço, o doppler carotídeo, a tomografia axial
computorizada cardíaca, a ressonância magnética nuclear cardíaca e outros mais
específicos, decorrentes de eventuais alterações detetadas nestes exames
prévios", acrescenta este cardiologista.
Para prevenir a doença, o
especialista aconselha: "fazer cinco refeições por dia, privilegiando o
consumo de vegetais, fruta, cereais e peixe, beber um litro e meio de água por
dia, fazer exercício, dormir cerca de seis a oito horas por dia e evitar
bebidas alcoólicas e alimentos salgados ou ricos em gorduras e açúcares".
Quais os
fatores de risco associados a um novo evento cardiovascular?
A probabilidade de recorrência
de EAM varia de doente para doente e está associada ao risco de progressão da
doença aterosclerótica inerente ao próprio doente, mas depende sobretudo da
qualidade do controlo dos fatores de risco cardiovascular presentes e da adesão
e persistência terapêutica.
"Felizmente, a
recorrência de eventos cardiovasculares não é uma inevitabilidade para todos os
doentes pós-EAM, particularmente para aqueles que conseguem adotar um estilo de
vida saudável e cumprir rigorosamente a medicação prescrita ao longo do tempo",
afirma a cardiologista Sílvia Monteiro.
Fonte: Sapo on-line saúde