Por: Pedro Zagacho Goncalves
No mundo atual, a busca pela
próxima pandemia ou doença tornou-se um tema recorrente em discussões
científicas e cinematográficas. Antes da chegada da Covid-19, muitas produções
imaginavam os cenários mais sombrios diante da possibilidade de um novo vírus
mortal. No entanto, a realidade superou a ficção em 2020, quando o mundo foi
assolado por uma pandemia que afetou todos os cantos do planeta. Agora, os
especialistas estão em uma corrida contra o tempo para identificar e conter os
agentes patogénicos que podem representar a próxima grande ameaça à saúde
global. E segundo especialistas, tudo indica que se tratará de patógenos que
afetam as vias respiratórias.
Entre os vírus que estão sob
vigilância constante, a gripe ocupa um lugar de destaque. O surgimento de novas
estirpes da gripe aviária e suína tem preocupado os especialistas, que alertam para
o potencial pandémico destes vírus. Adolfo García-Sastre, famoso virólogo do
Instituto de Saúde Global e Patógenos Emergentes em Nova York, enfatiza em
entrevista ao El Mundo que “quanto mais
diversidade e quantidade de vírus circulantes existirem, maior será o risco
para a saúde pública”.
Esta preocupação é
compartilhada por Colin Russell, do Departamento de Microbiologia Médica da
Universidade de Amsterdão, que destaca a diversidade dos vírus da gripe aviária
e suína como uma ameaça real. “A
probabilidade de uma futura pandemia vir de um vírus respiratório é de 100%,
resta saber qual o horizonte temporal”, indica.
Um estudo recente, publicado
na revista Travel Medicine and Infectious Disease, revelou que o vírus da gripe
(influenza) é considerada o principal patógeno de preocupação com potencial
pandémico por mais da metade dos especialistas mundiais em doenças infeciosas.
Jon Salmanton-García, investigador da Universidade de Colónia, destaca que “a influenza, juntamente com a doença X [ainda
desconhecida], o SARS-CoV-2, o SARS-CoV e o vírus do Ebola são os patógenos
mais preocupantes em termos de seu potencial pandêmico”.
Além da gripe, outros vírus
também estão no radar dos especialistas, incluindo o vírus da febre hemorrágica
de Crimeia-Congo, o Zika, o Ebola e o MERS-CoV. A rápida disseminação destes
vírus e a sua capacidade de causar surtos epidémicos preocupam as autoridades
de saúde em todo o mundo.
Em relação à gripe, o
professor Raúl Ortiz de Lejarazu, diretor emérito do Centro Nacional de Gripe
de Valladolid, destaca sua capacidade de variabilidade genética, afirmando que “os vírus de gripe junto com o VIH são os que mais
capacidade de variabilidade genética têm”. O especialista compara a velocidade
de mutação dos vírus da gripe ou do VIH com a do SARS-CoV-2, dizendo que “a
velocidade de mutação de vírus de gripe ou do VIH é a de um Ferrari e a do
SARS-CoV-2 a de um utilitário”.
Mark Woolhouse, catedrático de
Epidemiologia de Enfermidades Infeciosas na Universidade de Edimburgo e assessor
científico dos governos do Reino Unido e da Escócia, destaca que a próxima
pandemia pode surgir de um vírus estritamente zoonótico, como a gripe aviária,
ou de um completamente novo. Ele explica que “não
podemos evitar a próxima pandemia, mas podemos detetá-la mais rapidamente, o
que nos permitiria contê-la ou mesmo detê-la, como fizemos com o vírus SARS
original”.
Os especialistas são unânimes
em concordar que a deteção precoce de qualquer sinal de mutação ou adaptação
desses vírus é crucial para conter a propagação e evitar uma crise global
semelhante à da Covid-19.
Fonte: Executive Digest/Sapo
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