A Barraca regressa a cena no
Teatro Cinearte com " Amor é um fogo que arde sem se ver...” de Hélder
Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra, e música original de António Victorino
de Almeida, 27 Março às 21:00, DIA MUNDIAL DO TEATRO.
Amor é um fogo que arde sem se
ver... é um espetáculo poético que remete para a História sabendo que entre a
Poesia, a Verdade e a História há um belo mal entendido.
TEXTO DO AUTOR|ENCENADOR
Amor é um fogo que arde sem se
ver, porquê?
Um espectáculo do género
histórico/poético, não pode transportar cargas poeirentas e ultrapassadas.
Homenagear os clássicos é
modernizá-los e torná-los acessíveis ao público dos nossos dias.
É nessa dificuldade que
consiste em o prazer de conseguir demonstrar que as histórias antigas têm a ver
com o sempre constante e irregular comportamento humano. Camões é um dos
símbolos mais importantes do nosso século de oiro, o século XVI. E é um testemunho
vivo do intelectual moderno e progressista na linha de Erasmo e Tomas More,
seus contemporâneos. Através dos séculos foi sempre referido como um patriota
pelos liberais e Republicanos, e também utilizado pela famílias mais
reaccionárias (descendentes dos mesmos que sempre o perseguiram e lhe negaram
qualquer apoio e protecção económica).
Por isso, era necessário fazer
uma “operação de limpeza” ao nosso Camões e mostrá-lo em toda a sua grandeza e
independência. Para exemplo aos jovens e intelectuais dos nossos dias.
Não é minha intenção propor um
novo olhar para o ícone Camões e para o período das grandes navegações
portuguesas, mas é preciso conhecer todas as realidades que eram sonegadas e
ocultadas. Na linha de Gil Vicente, Fernão Mendes Pinto, Damião de Góis e Chiado
que denunciaram nessa mesma época que esse período áureo se devia ao trabalho
de cientistas e ao povo que era arrastado para as naus. E que Descobrimento foi
frequentemente sinónimo de roubo e massacres a nível Universal. A História não
se pode corrigir, mas eu só posso gostar do meu país (ou de qualquer outro) se
conhecer os lados positivos e os condenáveis.
Mas, também muito importante e
interessante, é pensar que esse importante texto épico – além de oferecer aos
navegadores portugueses o Amor como prémio na Ilha dos Amores, também é a
grande aventura da língua portuguesa.
Hélder Mateus da Costa
¿SOBRE O ESPECTÁCULO | UMA
BIOGRAFIA?
AMOR É UM FOGO QUE ARDE SEM SE
VER (2024) conta a viagem de Luís Vaz, o navegador da língua portuguesa,
transportando memórias de amores e desamores, muitas perdas e maus tratos e
prisões operados em sigilosos conluios por muitos inimigos seus contemporâneos.
Tempo de disputas, glórias e intrigas, os perigos da inquisição ameaçaram
sempre um dos homens mais livres do seu tempo e sem dúvida o seu maior poeta.
Depois de aventuras e desventuras que lhe vão acontecendo na sua pátria vai de
viagem na rota de Gama. E consigo leva a língua portuguesa, ainda em
construção.
Olhado como um texto épico Os
Lusíadas são também o grande relato da aventura da língua portuguesa que nessa
obra/ viagem se confirma e consagra.
Perseguindo sempre a aventura
mais arriscada, seja ela o amor, a viagem ou a poesia, na Índia conhece Garcia
d’Orta, Diogo do Couto, apaixona-se, conhece Macau conhece a Ilha de
Moçambique, Dinamene. Num naufrágio perde a amada e salva a nado o poema ao qual
já dedicara anos de vida.
17 anos passados sobre a
partida para a India, regressa à pátria. Sempre mais rico, sempre mais pobre,
quase sempre só. Traz consigo apenas o escravo Jau que o acompanhará até ao
fim. Não sabemos quem morreu primeiro, são ambos eternos.
Em Portugal apresenta os
Lusíadas ao censor do Santo Ofício, embora com cenas eliminadas a obra é
autorizada. A sua visão da” máquina do mundo” não é aceite e a cena da ilha dos
amores é quase truncada. O passo seguinte é mostrá-la a Dom Sebastião. O rei
gosta dos Lusíadas e aprova a concessão de uma tença de sobrevivência ao poeta.
Não fosse a doença as coisas pareciam começar a correr melhor ao poeta e a vida
começava a passar.
Tempo último…
Camões vai a Belem ver sair os
barcos para Alcácer – Quibir. Ele está no fim. E Portugal está perto do
Desastre. Juntam-se as duas sortes. Regresso a casa… Camões é apoiado pelo
escravo Jau que lhe dá de comer e o acompanha. E o poeta do amor, tal como os
marinheiros do Gama passa à eternidade embalado pela música do mar e das ninfas
da ilha dos amores.
Momento feliz enfim… O
reencontro com a beleza acompanha o regresso do poeta à sua ilha recuperada
numa invocação da paz a que todos aspiramos.
Maria do Céu Guerra
Encenação Hélder Mateus da
Costa e Maria do Céu Guerra
Assistência de encenação Gil
Filipe
Elenco Adérito Lopes, Beatriz
Dinis e Silva, Érica Galiza, Gil Filipe, Luís Ilunga, Maria do Céu Guerra,
Manuel Petiz, Rita Mendes Nunes, Samuel Moura, Sérgio Moras, Teresa Mello
Sampayo, Vasco Lello, Maria Baltazar (estagiária)
Produção Inês Costa
Apoio à Produção Gil Filipe,
Manuel Petiz, Teresa Mello Sampayo
Direcção Musical e Música
Original Maestro António Victorino D'Almeida
Cenografia A Barraca
Concepção de Vídeo André Letria
Desenho de Luz Vasco Letria
Operação de Luz Sara Arede
Operação de Som e Vídeo Sara
Arede
Guarda-roupa Mestra Alda Cabrita
Adereços Tina Simões
Design Gráfico Inês Costa
Cartaz e Telão Luis Henriques
Fotos Paulo Chaves
Classificação M/12
Duração 120 m
Bilhetes 10,00€
Fonte: A BARRACA