Por: J.M.A/Com a opinião de Carla Cardoso - Diretora Investigação & Desenvolvimento Crioestaminal
Foto: Freepik/jcomp
A paralisia cerebral engloba
um conjunto de condições que afetam maioritariamente o movimento, a postura, o
tónus muscular e a coordenação motora. É uma das condições neurológicas mais
comuns na infância. A gravidade e os sintomas variam bastante entre indivíduos,
podendo incluir dificuldades motoras, problemas de fala, visão ou audição, além
de dificuldades cognitivas em alguns casos.
Em Portugal, os estudos mais
recentes remetem para uma prevalência de 1,55 casos por 1 000 nados-vivos. A
paralisia cerebral ocorre geralmente devido a lesões no cérebro em
desenvolvimento, antes, durante ou logo após o nascimento. Algumas das
principais causas incluem complicações durante a gravidez (como infeções ou
exposição a substâncias tóxicas), dificuldades no parto (como falta de
oxigénio), ou ainda prematuridade, baixo peso ao nascer ou infeções neonatais.
O tratamento pode incluir
terapia física e ocupacional, cirurgia ortopédica, terapia medicamentosa ou
injeções de toxina botulínica, entre outros. Ainda assim, de um modo geral, as
terapias atualmente disponíveis não têm permitido alcançar os resultados desejados.
Neste contexto, células estaminais de diferentes fontes, mas particularmente do
sangue do cordão umbilical, têm vindo a ser testadas para o tratamento de
crianças com paralisia cerebral, com múltiplos estudos a indicarem que o sangue
do cordão umbilical pode melhorar a função motora destas crianças.
Foi recentemente publicado um
artigo de revisão, na prestigiada revista científica Pediatrics, que demonstra
que a terapia com células do sangue do cordão umbilical melhora as capacidades
motoras de crianças com paralisia cerebral. Este artigo é o resultado de uma
colaboração internacional que realizou uma meta-análise de 11 estudos que
incluíram mais de 400 crianças com paralisia cerebral.
Sangue do
cordão umbilical melhora capacidades motoras de crianças com paralisia cerebral
Os resultados desta análise
mostram que o tratamento com sangue do cordão umbilical é seguro e que crianças
tratadas com sangue do cordão umbilical conseguem maiores ganhos nas
capacidades motoras comparativamente às crianças não tratadas com recurso a esta
terapia celular. A análise revelou ainda que as melhorias nas pontuações da
função motora atingem o pico entre seis e 12 meses após a terapia, e que existe
uma relação dose-resposta com doses mais elevadas de células associadas a
maiores melhorias nas capacidades motoras. Além disso, o tratamento com sangue
do cordão umbilical foi mais eficaz para crianças com menos de cinco anos e com
paralisia cerebral mais ligeira no início do tratamento.
A hipótese proposta para o
mecanismo através do qual o sangue do cordão umbilical conduz a estas melhorias
em crianças com paralisia cerebral baseia-se na redução da neuroinflamação e na
estimulação da reparação cerebral através de efeitos parácrinos desencadeados
pelas células infundidas, levando a um aumento da conectividade cerebral.
Dado que a paralisia cerebral
pode ser diagnosticada com precisão aos cinco – seis meses de idade, o
diagnóstico precoce abre portas para que os tratamentos se iniciem o mais cedo
possível. Conhecendo os benefícios do sangue do cordão umbilical, as famílias
poderão vir a beneficiar desta terapia durante o período de neuroplasticidade
cerebral ideal. Além disso, o tratamento precoce pode facilitar a obtenção de
doses celulares mais elevadas, e permitir a opção de múltiplas administrações
antes das crianças crescerem para além da janela de eficácia terapêutica.
Segundo os autores deste artigo, o sangue do cordão umbilical em conjunto com a
reabilitação intensiva pode aumentar a neuroplasticidade e permitir atingir
melhores resultados.
Por: Sapo on-line Saúde
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