quarta-feira, 16 de abril de 2025

“Escola de Paris vai passar a chamar-se Escola Cesária Évora”


Por: Carlos Pereira

O Conselho de Paris, que reuniu durante quatro dias, entre 8 e 11 de abril, deliberou que a Escola polivalente pública situada no 141 boulevard Macdonald, no 19° bairro da capital, vai passar a chamar-se Escola Cesária Évora em homenagem à cantora cabo-verdiana.

A Deliberação foi proposta ao Conselho de Paris pela Maire Anne Hidalgo explicando que Cesária Évora nasceu em 1941 em São Vicente e faleceu a 17 de dezembro de 2011. “Originária de uma família popular, esteve num orfanato depois da morte do pai e ali ficou entre os 7 e os 13 anos. Foi lá que aprendeu a cantar integrando a coral do orfanato. Começou a ser cantora aos 16 anos e no início dos anos 70 começou a ter sucesso em todas as ilhas de Cabo Verde. Os anos 1990 marcaram uma viragem na sua carreira, e tornou-se uma cantora com dimensão internacional”.

Anne Hidalgo explica ainda que Cesária Évora cantava sobretudo em crioulo de Cabo Verde e que se produziu nas mais prestigiadas salas do mundo, entre as quais o Olympia de Paris. Referiu ainda alguns dos prémios que recebeu durante a sua carreira, nomeadamente duas vezes a “Victoire de la Musique”, em 1999 e em 2004, e um Grammy Award do melhor Álbum World Music em 2004.

A atribuição do nome de Cesária Évora a uma escola decorre de uma proposta aprovada pelo Conselho de Paris de julho de 2020 de “dar visibilidade no espaço público às mulheres que, pelo seu percurso, contribuíram à propagação dos valores de Paris e da República”.

O Conselho da nova Escola Cesária Évora e a comunidade educativa participaram ativamente neste projeto de “batismo” do estabelecimento de ensino.

 

Uma exposição sobre Cesária Évora nas margens do Seine

 

No mesmo Conselho de Paris que decorreu, foi aprovada a realização de uma exposição, coorganizada pela associação “Les Arts Voyagent”, intitulada “Cesária Évora”, entre os dias 28 de abril e 2 de junho, na rampa Châtelet, nas margens do rio Seine, no 4° bairro da capital.

A exposição pode ainda voltar a ser apresentada num outro bairro de Paris durante o corrente ano de 2025 e “inscreve-se no quadro dos 50 anos da independência de Cabo Verde e dos países lusófonos da África, no seguimento da Revolução dos Cravos em Portugal, em 1974”.

Trata-se de cerca de 30 fotografias, algumas das quais inéditas, que convidam à descoberta do universo da cantora que “soube dar uma voz universal à cultura de Cabo Verde”. Vai ser dada uma atenção especial à carreira de Cesária Évora, nomeadamente em Paris onde começou a carreira internacional.

Segundo a Deliberação aprovada no Conselho de Paris, “a exposição desvenda as múltiplas facetas de Cesária Évora: a mulher, a artista, a embaixadora cultural, e sobretudo, uma voz livre que entrou nos corações de quem assistiu aos concertos nas salas mais prestigiosas do mundo, a começar pelo Théâtre de la Ville, que acolheu a primeira data parisiense. A intenção é de mostrar que a música, tal como ela praticou, é uma linguagem universal capaz de unir as culturas para além das fronteiras, e de preservar uma memória coletiva”.

 

Cesária Évora já tem uma rua em Paris

 

Desde 2014 Cesária Évora já tem uma rua em Paris, no 19° “arrondissement”, não muito longe da nova escola com o nome da cantora, no seguimento de uma proposta formulada em dezembro de 2011, pelo então Maire-Adjoint Hermano Sanches Ruivo.

Trata-se de uma rua vegetalizada paralela ao boulevard Macdonald dos detrás dos antigos entrepostos Macdonald por onde passa a linha de tramway T3b e onde está a Gare Rosa Parks do RER E.

Fonte: Luso Jornal (França)

“Cancro colorretal: investigadores portugueses mais perto de nova imunoterapia”


Investigadores portugueses descobriram que um tipo de glóbulos brancos que conseguem identificar e matar células tumorais pode ser a chave para uma nova imunoterapia contra o cancro colorretal, o de maior incidência em Portugal

 

Por: Lusa

No estudo, liderado por Bruno Silva-Santos, investigador principal na Fundação GIMM – Gulbenkian Institute for Molecular Medicine, e pela investigadora Sofia Mensurado e hoje publicado na revista científica Nature Cancer, a equipa provou que esta nova terapia celular, designada por células DOT e que provém da expansão e estimulação destes glóbulos brancos para os tornar mais potentes a eliminar tumores, é eficaz no caso do cancro colorretal, o segundo que mais mata em Portugal.

Estes glóbulos brancos conseguem identificar e matar células de cancro, mas existem em baixa quantidade no organismo.

“Neste artigo exploramos dois pontos cruciais: provar que as células DOT têm potencial para o tratamento do cancro colorretal e identificar como poderíamos potenciar o seu efeito antitumoral”, explica Rafael Blanco-Domínguez, primeiro autor do estudo.

No caso do cancro colorretal, a maioria dos doentes não responde bem às imunoterapias disponíveis.

Neste trabalho, a equipa conseguiu provar em ensaios com células tumorais de doentes e em ratinhos que as células DOT têm potencial para tratar este tipo de cancro.

“Descobrimos que as células DOT são eficazes contra o cancro colorretal e que a sua ação antitumoral pode ser potenciada dando um suplemento aos ratinhos”, acrescenta Sofia Mensurado.

O suplemento em causa é o butirato, uma molécula que é produzida naturalmente pelas bactérias que existem no intestino e que aumenta a capacidade das células DOT de reconhecerem as células cancerígenas.

Adicionalmente, o bloqueio de barreiras moleculares (“immune checkpoints”) – uma estratégia imunoterapêutica já estabelecida com sucesso em alguns tipos de cancro – foi testado em combinação com as células DOT e aumentou a eficácia da terapia contra o cancro.

Em 2021, o investigador Bruno Silva-Santos viu pela primeira vez a sua descoberta das células DOT aplicada a doentes com leucemia mieloide aguda, num ensaio clínico nos Estados Unidos da América.

“As células DOT são especialmente interessantes como terapia porque não reagem a diferenças genéticas entre indivíduos. Esta característica faz com que seja possível produzir células DOT a partir de dadores saudáveis e criar um ‘banco de células’ prontas a usar, para tratar doentes diferentes, com a ambição de criar uma imunoterapia celular ‘universal'”, explica Bruno Silva-Santos.

O investigador acrescenta que tem dedicado a sua carreira ao estudo do sistema imunitário porque “a sua interação com as células tumorais é fascinante ao mesmo tempo que bastante desafiante na sua aplicação clínica”.

Os resultados agora obtidos abrem caminho à possibilidade de aplicar esta imunoterapia no tratamento de cancro colorretal e, por outro lado, deixa também semeada a prova de que poderá ser possível desenvolver imunoterapias mais eficientes para outros cancros sólidos.

A investigação foi desenvolvida na Fundação GIMM — Gulbenkian Institute for Molecular Medicine, em colaboração com o Centro Médico da Universidade de Leiden, Países Baixos; com a Universidade de Bordéus, França; com o Hospital Santa Maria e com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Fonte: Sapo on-line saúde

“José Serge de Freitas: Uma viagem a pé de mais de 4 meses, entre os Vosges e Fátima, um caminho para si mesmo”


Por: Emanuel Guedes

José Serge de Freitas, um madeirense de 45 anos, escolheu um caminho singular, o da caminhada, para se reconectar consigo mesmo e com o seu passado. Partindo dos Vosges, caminha todos os dias em direção a Portugal, numa viagem de mais de 4 meses e 3 dias que terminará a 13 de julho no santuário de Fátima. Esta jornada não é apenas uma provação física, mas uma busca de significado profundamente marcada por eventos pessoais e grande motivação.

 

Um novo começo após a tempestade

 

Antes de embarcar nesta aventura, José Serge de Freitas era dono de um bar. Uma vida que mudou da noite para o dia. "Minha esposa saiu com um cliente. Depois deste acontecimento, tomei a decisão de deixar tudo: coloquei o estabelecimento em liquidação e assumi a guarda do meu filho, o mais novo, de 11 anos", confidenciou ao LusoJornal enquanto caminhava em direção a Portugal. A necessidade de se encontrar, de limpar a mente e, acima de tudo, de se reinventar veio à tona. "Essa aventura foi para refletir, para me encontrar, para começar de novo", explica ele.

Foi também em crise de saúde que decidiu empreender esta caminhada: "Queria deixar de fumar. Comecei a andar." Não foi uma ideia preconcebida, mas sim um impulso que se transformou em um projeto de vida.

 

Uma homenagem em movimento

 

Seu itinerário França-Portugal está longe de ser trivial. José Serge de Freitas não escolheu esse caminho ao acaso. "Conheço muito português, e parte da minha história é marcada por essa comunidade", explica. Mas esta viagem assume uma dimensão ainda mais pessoal e emocional. Ele é para sua sobrinha que está doente, que é uma das poucas pessoas na França a ser acompanhada por um cão de assistência. "Levo-a comigo em minha mente para ir rezar em Fátima, um lugar simbólico para todos os portugueses."

Isso não é tudo. José Serge de Freitas também marcha para honrar a memória de todos os portugueses que, na década de 1960, deixaram a pé a sua terra natal, na esperança de um futuro melhor em França. "Esta jornada também é uma homenagem àqueles que nunca chegaram e que perderam a vida ao longo do caminho", diz ele. É nessa abordagem que Jorge encontra seu slogan: "Com fé, você pode fazer o que quiser".

 

Preparação meticulosa

 

Para fazer essa viagem, nada foi deixado ao acaso. "Pensei no itinerário, mas fui apoiado por uma equipe de 7 pessoas." Entre eles, pessoas que se encarregaram do clima, publicidade, mas também médicos especializados – um cardiologista e um pneumologista – que acompanham seu estado de saúde durante toda a caminhada. Trabalho de preparação meticuloso, que inclui gerenciamento de fadiga, dias de descanso e distâncias diárias a serem percorridas. "Decidiram que os meus dias de folga seriam quarta-feira e domingo e que devia caminhar entre 20 e 25km por dia", disse ao LusoJornal.

O objetivo é claro: chegar a Fátima no dia 13 de julho. "Minha família e amigos estarão lá para me receber", diz ele com orgulho.

 

Financiamento de projetos

 

Financiar essa viagem é um desafio considerável. José Serge de Freitas pôde contar com o apoio do seu melhor amigo e da sua "namorada" para o ajudar a angariar um orçamento entre os 5.000 e os 7.000 euros. O equipamento necessário para tal viagem é caro, especialmente os sapatos de caminhada, que são essenciais para atravessar diferentes terrenos em condições muitas vezes difíceis.

No entanto, pode também contar com a solidariedade da comunidade portuguesa. Ao longo de sua jornada, vários membros dessa comunidade lhe ofereceram acomodação para pernoitar e, às vezes, até assistência financeira na forma de doações. "É uma loucura, há uma espécie de corrente que foi criada, e as pessoas me seguem aos poucos", explica ele com gratidão.

 

Objetivos de José Serge de Freitas

 

Para além do seu objetivo de chegar a Fátima, esta viagem incorpora também outras aspirações pessoais. Um dos seus grandes desejos é assistir ao fogo-de-artifício na Ilha da Madeira, um evento anual que marca o final do ano na sua ilha natal. Além disso, a partir de setembro, José Serge de Freitas está planejando um novo começo em sua vida profissional com o início de um novo emprego. Esta viagem representa, portanto, uma busca interior e um ponto de virada em direção a um futuro mais sereno e realizado.

 

Treinamento e desafios

 

A aventura não começa no dia 9 de março, mas um ano antes, em março de 2024, quando José Serge de Freitas inicia a sua formação. "Era essencial treinar em todas as condições climáticas. Quando nevava nos Vosges, eu saí, caminhava no frio e na chuva. Foi uma forma de testar minhas habilidades", explica ele com determinação.

A viagem começou com neve persistente e, nas últimas duas semanas, ele também enfrentou o vento. "Tive alguns dias difíceis, mas não tive escolha. Eu tenho que me manter firme." O trailer que o acompanha, carregado de equipamentos de campismo, medicamentos, produtos de higiene e roupa, torna-se o seu aliado indispensável. "Ele substitui a mochila, porque depois de uma operação no ombro esquerdo, eu não conseguia mais carregar peso dessa maneira. Ela pesa entre 35 e 40 quilos." Ele carrega esse peso todos os dias, em estradas departamentais e regionais, que muitas vezes não são muito seguras. "Eu coloco minha vida em perigo todos os dias", ele confidencia, ciente dos riscos que está correndo.

 

A fase final

 

Para ele, caminhar em direção a Fátima é mais do que apenas um ato físico. É um ato simbólico, uma viagem pelo seu passado, suas provações e uma promessa feita àqueles que ama e àqueles que o inspiraram. Esta jornada é o testemunho de um homem que, a cada passo, busca se reinventar, encontrar a paz interior e honrar as vidas que o precederam.

No dia 13 de julho, quando chegar, estará cercado por sua família e amigos. Mas este momento de celebração será acima de tudo o de uma vitória pessoal que ele alcançou com fé e determinação.

Fonte: Luso Jornal (França)