Por: Emanuel Guedes
Partir de Paris e chegar a
Arcos de Valdevez, no norte de Portugal, exclusivamente a pé. Esse é o desafio
que José Maria Canossa da Cunha se propôs realizar: um percurso de cerca de
2.000 quilómetros, atravessando França e Espanha até alcançar a sua terra
natal. A partida foi no dia 17 de maio, junto à Torre Eiffel e o peregrino vai
passar por um dos lugares simbólicos da peregrinação: Fátima, onde deve chegar
amanhã, dia 23 de agosto.
Começou
esta viagem no dia 17 de maio. Quando prevê chegar a Fátima?
Sim, iniciei a caminhada no
dia 17 de maio. A minha chegada a Fátima está prevista para sábado, dia 23 de
agosto, entre as 10h00 e o meio-dia. Já não estou muito longe, encontro-me a
cerca de 60 quilómetros de Fátima. No entanto, o meu objetivo final é continuar
até à minha terra natal: Arcos de Valdevez.
Quais as
emoções que espera viver na chegada a Fátima?
Vai ser um momento muito duro,
mas também de enorme orgulho. Ao longo desta viagem enfrentei calor, frio,
fome, dor… mas levo comigo a bandeira portuguesa, porque sou português e tenho
muito orgulho nisso. Orgulho também porque segui caminhos que muitos portugueses
fizeram no passado, em busca de uma vida melhor. Alguns perderam a vida nesses
mesmos caminhos, e eu sinto que de alguma forma lhes presto homenagem.
Como pode
descrever o seu dia a dia durante esta caminhada?
Os últimos quilómetros de cada
etapa são sempre os mais difíceis, porque já se sente o cansaço acumulado.
Pensava que a parte em Portugal seria mais leve, mas está a ser bastante dura.
No entanto, graças a Deus, tudo tem corrido bem. Tenho encontrado pessoas muito
boas, que me acolhem como se fosse da família, e isso torna a viagem muito mais
fácil.
Foi
acolhido na fronteira portuguesa por uma equipa médica e pelo Município de
Almeida. Como se passou esse momento?
Sim, fui acolhido pelo
Município de Almeida, a quem tenho de agradecer muito. Também tive o apoio de
um posto médico que me recebeu com enorme cuidado. Trataram muito bem de mim,
até dos pés, e por isso estou-lhes profundamente grato.
Quais
foram os grandes momentos que guarda desta caminhada?
Houve momentos bons e outros
menos bons. Os mais difíceis aconteceram em Espanha, onde cheguei a estar quase
a ser assaltado, felizmente sem consequências porque estava acordado. Essa foi
talvez a pior parte da viagem. Já em Portugal, o percurso entre Vilar Formoso e
a Guarda foi muito duro. Mas, graças a Deus, também encontrei pessoas
extraordinárias, que tornaram o caminho mais leve.
Durante a
viagem, sobretudo em Espanha, conseguiu comunicar facilmente ou sentiu a
barreira da língua?
Não tive dificuldades, porque
compreendo bem espanhol e também falo. Trabalhei há uns anos em Espanha e isso
ajudou bastante.
Houve
algum encontro que lhe ficou particularmente na memória?
Houve muitos. Aqui em Portugal
fui muito bem acolhido em todos os lugares por onde passei. Esses encontros são
sempre especiais e dão-me força para continuar.
E como
viveu os momentos de maior solidão?
Foram momentos duros, muito
duros. Isto não é apenas uma aventura, mas sim uma promessa que faço por um
motivo muito especial. É esse motivo que me leva até Fátima. Nunca me passou
pela cabeça voltar atrás, mesmo quando as pernas e os pés doíam. O meu olhar
esteve sempre fixo no objetivo. Depois de Fátima, quero continuar até à minha
terra natal, Arcos de Valdevez. Para uns, esta caminhada poderia acabar em
Fátima, mas para mim deve continuar. Quero levá-la até ao fim.
Disse que
mais tarde gostaria de deixar um testemunho dessa caminhada. De que forma?
Quero mandar fazer uma placa
gravada, uma para cada filho meu, para que guardem essa lembrança com orgulho.
Será um símbolo desta caminhada e daquilo que ela representa.
E depois
desta longa viagem, que projetos tem para o futuro?
É inevitável que uma
experiência destas mude um pouco a vida de uma pessoa. Tenho a ideia de dar a
volta a França, conhecer o país canto por canto, porque é lindíssimo. Outra
sugestão que me deram, e que quero concretizar, é escrever um livro sobre esta viagem,
contando toda a história em detalhe. Muitas pessoas ajudaram-me ao longo do
caminho, e acho que escrever esse livro é também uma forma de agradecer e
partilhar lugares que muitos nunca tiveram oportunidade de conhecer.
Fonte: Luso Jornal/França