Por: Professor Doutor Tiago Bilhim (radiologista de intervenção no Hospital São Louis)
As
varizes pélvicas são veias dilatadas que surgem principalmente na mulher,
afetando o útero, mas que também podem afetar as trompas de falópio ou os
ovários. Um artigo do Professor Doutor Tiago Bilhim, radiologista de
intervenção.
O
que são as varizes pélvicas?
As
varizes pélvicas são veias dilatadas que surgem principalmente na mulher,
afetando o útero, mas que também podem afetar as trompas de falópio ou os
ovários.
As
varizes pélvicas não têm cura, mas os sintomas, se existirem, podem ser
controlados com medicamentos, ou com a embolização.
Porque
é que se chama síndrome de congestão venosa pélvica às varizes pélvicas
femininas?
Síndrome
quer dizer que é um conjunto de sintomas, ou seja, queixas como dores e sinais,
ou seja, algo objectivado ao exame objectivo como varizes vulvares ou vaginais.
Denomina-se síndrome de congestão venosa pélvica pois traduz um conjunto de
sintomas e sinais (como dor pélvica, dor durante o acto sexual, sensação de
peso pélvico e varizes na vagina, vulva, coxas ou região glútea) associados à
presença de veias dilatadas ou varicosas na região pélvica. Estas veias
dilatadas levam a que o sangue venoso se acumule na região pélvica levando à
congestão venosa pélvica. Como a queixa dominante é a dor pélvica crónica de
longa duração, a associação entre varizes pélvicas e dor pélvica
crónica/síndrome de congestão venosa pélvica foi feita em 1938.
Quais
causas das varizes pélvicas?
As
varizes pélvicas são frequentemente secundárias à dilatação e refluxo da veia
ovárica esquerda. As varizes na região
pélvica podem surgir apenas por fatores genéticos, no entanto, são mais comuns
após a gravidez, pois o corpo precisa dilatar as veias nessa região para
transportar todo o sangue necessário para a gestação. Além disso, as hormonas
produzidas durante a gravidez também dilatam todas as veias do corpo da mulher.
As válvulas no interior das veias pélvicas deixam de funcionar e o sangue
venoso acumula-se nas veias da pélvis, levando a estase e ectasia ou aumento do
tamanho das veias da pélvis ou seja – varizes. As causas da síndrome de
congestão pélvica são multifactoriais. Pode resultar de anomalias anatómicas
obstrutivas, patologias que originem congestão venosa secundária, factores
hereditários, hormonais, cirurgias pélvicas, antecedentes de varizes ou
multiparidade. A ausência de válvulas de veia ovárica, 15% à esquerda e 6% à
direita, pode explicar a maior frequência das varizes pélvicas na dependência
da veia ovárica esquerda em relação à direita, onde é rara.
Quais
são as queixas associadas às varizes pélvicas?
As
varizes pélvicas normalmente não causam nenhum tipo de sintoma, no entanto,
algumas mulheres podem apresentar:
Varizes
visíveis na região da vagina, coxas ou na região glútea;
Dor
abdominal;
Dor
durante o contato íntimo;
Sensação
de peso na região íntima;
Incontinência
urinária;
Aumento
da menstruação.
Os
sintomas podem melhorar quando a mulher está sentada ou deitada, pois o sangue
tem mais facilidade para voltar ao coração, no entanto, várias mulheres referem
uma dor que está sempre presente. Normalmente, o ginecologista faz o
diagnóstico das varizes pélvicas através de exames como ecografia com doppler,
tomografia abdominal ou pélvica e ressonância manética, por exemplo.
Como
posso fazer o diagnóstico?
O
diagnóstico de síndrome de congestão venosa pélvica não é fácil. Observa-se
geralmente em mulheres de meia-idade, multíparas, com dor pélvica crónica,
exacerbada pelos esforços e posição ortostática, por vezes associada a dor
durante o acto sexual (dispareunia) ou durante a menstruação (dismenorreia),
urgência na micção, sensação de peso no região pélvica e períneo. Não existem
sinais patognomónicos ou típicos de síndrome de congestão venosa pélvica e de
varizes pélvicas, mas em alguns casos apresentam-se como varizes vaginais ou
vulvares ou como recidiva de varizes dos membros inferiores depois da cirurgia.
A
maior parte dos exames incluindo o ginecológico e os diversos exames de
imagiologia podem ser negativos. O diagnóstico de varizes pélvicas pode ser
feito por ecografia ginecológica, ou por eco-Doppler ginecológico. Por vezes,
as varizes pélvicas também podem ser evidentes em tomografia computorizada (TC)
e ressonância magnética (RM). Contudo, muitas mulheres podem ter dores crónicas
e não terem varizes pélvicas ou o síndrome de congestão venosa pélvica. Também
é verdade que muitas mulheres podem ter varizes pélvicas, mas não terem
quaisquer queixas (varizes pélvicas sem síndrome de congestão venosa pélvica).
Existe, ainda, a hipótese de as mulheres terem varizes pélvicas de pequenas
dimensões com muitas queixas de síndrome de congestão venosa pélvica (dores
pélvicas e sensação de peso pélvico) e os exames de imagem serem negativos.
Nestes casos, muitas vezes recorre-se a laparoscopia para fazer o diagnóstico.
Contudo, a flebografia selectiva da veia ovárica (cateterismo feito antes da
embolização), que é um exame relativamente simples, minimamente invasivo,
efectuado em regime ambulatório, confirma ou exclui, com segurança, a
possibilidade de a doente ter varizes pélvicas.
Tenho
dores pélvicas crónicas: porque é que ninguém me falou da embolização?
A
síndrome de congestão venosa pélvica é um desafio diagnóstico e uma entidade
desconhecida de muitos médicos. A dor pélvica crónica, não cíclica e com uma
duração de pelo menos 6 meses é a principal manifestação clínica das varizes
pélvicas. Contudo é um sintoma muito frequente, mas inespecífico, com muitas
causas possíveis, entre elas as varizes pélvicas. A dor pélvica crónica motiva
10-40% das consultas de ginecologia. Uma das causas mais comuns da dor pélvica
crónica é o síndrome de congestão pélvica, descrito por Richet em 1857 e que
corresponde a varizes pélvicas secundárias ao fluxo retrógrado (refluxo) nas
veias ováricas com válvulas incompetentes. A dor pélvica associada às varizes
pélvicas na síndrome de congestão venosa pélvica surge em ortostatismo (quando
se stá muito tempo em pé), melhora com o decúbito e pode estar associada a
outras varizes nas coxas, nádegas ou perineo e vagina. Os sintomas podem
aumentar após o parto.
As
varizes pélvicas são perigosas?
As
varizes pélvicas normalmente não são perigosas, no entanto, existe um risco
muito reduzido de formação de coágulos no interior dessas veias, que podem ser
transportados até ao pulmão e causar uma embolia pulmonar, uma situação
bastante grave que deve ser tratada o mais rápido possível no hospital.
Quando
devo fazer o tratamento por embolização?
O
tratamento para varizes pélvicas normalmente é feito quando surge algum tipo de
sintoma e é iniciado com uso de medicamentos, que ajudam a diminuir a dilatação
das veias. Além disso, se os sintomas não melhorarem com a medicação ou se
forem muito intensos, então a possibilidade de fazer uma embolização das veias
pélvicas deve ser considerada. A embolização é um procedimento que consiste em
inserir um cateter muito fino pela veia até ao local das varizes, onde, depois,
é libertada uma substância que diminui as varizes e aumenta a força da parede
das veias.
A
tratamento por embolização é feito com uma flebografia é uma técnica de
radiologia de intervenção em que se introduz um cateter (pequeno tubo de
plástico com 1 a 2mm) nas veias e se injecta contraste para estudar as veias
pélvicas. Permite não só diagnosticar a presença de varizes pélvicas e de
síndrome de congestão venosa pélvica, com permite ainda tratar na mesma sessão
as varizes através da embolização. A embolização é o nome que se dá ao
tratamento com um cateter em que se provoca a obstrução ou entupimento das
varizes pélvicas. Com a embolização, o cateter é avançado até às varizes
pélvicas que são ocluídas ou tapadas com material específico para este efeito.
Como
é feito o tratamento por embolização?
A
embolização das varizes pélvicas é um procedimento minimamente invasivo,
totalmente indolor, de recuperação imediata e que se faz em regime de
ambulatório, ou seja, a doente entra de manhã e sai à tarde, pelo próprio pé,
com se não tivesse realizado nenhum tratamento. A embolização das varizes
pélvicas no tratamento da síndrome de congestão venosa pélvica geralmente
inclui uma flebografia (angiografia selectiva de veia) da veia ovárica, sob
anestesia local, através de uma veia na virilha ou pescoço utilizando um tubo
de plástico muito fino com 1 a 2mm (catéter). O cateter é colocado na veia cava
inferior, depois na veia renal esquerda e por fim super selectivamente na veia
ovárica esquerda sob controlo angiográfico. Confirma-se a existência de varizes
pélvicas na dependência da veia ovárica pelo refluxo de contraste injectado
através do cateter que se acentua com a manobra de Valsalva (fazer força com a
barriga para aumentar a pressão intra-abdominal). Após confirmar o diagnóstico
das varizes pélvicas, o cateter é avançado para o terço distal da veia ovárica
esquerda e é feita a oclusão ou embolização das varizes pélvicas.
Que
materiais são utilizados durante a embolização?
Existem
vários tipos de agentes utlizados para embolizar as veias ováricas: as espirais
metálicas, os balões, agentes esclerosantes e cola. No nosso centro temos uma
vasta experiência em embolização das varizes pélvicas no tratamento da síndrome
de congestão venosa pélvica utilizando esclerosantes como o polidocanol. Após a
embolização das varizes pélvicas, as doentes podem sair do hospital cerca de 2
horas depois do tratamento, sem dores e com recuperação imediata. As doentes
podem retomar a sua actividade profissional normal no dia seguinte.
É
possível que os materiais utilizados para embolizar as veias pélvicas se
desloquem para outros locais?
Com
a experiência e cuidados que temos e com base no tipo de agente embolizante que
utilizamos este risco é praticamente nulo. Ou seja, todo o material que
utilizamos para embolizar as varizes pélvicas fica na pélvis e não se desloca
para outras partes do corpo.
A
embolização das varizes pélvicas / síndrome de congestão venosa pélvica é
segura e eficaz?
A
embolização das varizes pélvicas no tratamento da síndrome de congestão venosa
pélvica é muito segura, sem complicações associadas e com excelentes taxas de
sucesso clínico. As taxas de sucesso clínico variam entre 96.7%-98%, com
remissão completa dos sintomas entre
57.9% e 58.5% das doentes e parcial em mais de 90% da doentes. A dor pélvica
crónica sem evidência de qualquer patologia é um problema ginecológico comum. A
inespecificidade dos sintomas e a necessidade de recorrer a um exame invasivo
para a confirmação diagnóstica fazem com que a síndrome de congestão venosa
pélvica seja pouco diagnosticada. Mulheres com dor pélvica crónica e sem doença
aparente podem ter síndrome de congestão venosa pélvica, particularmente quando
exacerbada pela posição ostostática prolongada, pela marcha e por vezes
associada a varizes vulvares e dos membros inferiores. A embolização das
varizes pélvicas na síndrome de congestão venosa pélvica permite estabelecer o
diagnóstico definitivo e tem a vantagem de permitir no mesmo procedimento a
realização de embolização terapêutica. Da nossa experiência embolização das
varizes pélvicas na síndrome de congestão venosa pélvica é segura e eficaz,
sendo necessário que os clínicos e os doentes estejam alertados para a
existência desta síndrome de difícil diagnóstico e para a melhor abordagem
diagnóstica e terapêutica a efectuar.
Como
é a recuperação após a embolização do varicocelo?
É
excelente, com uma recuperação imediata. No final do procedimento é colocado um
penso na virilha ou no pescoço. Como se trata de um procedimento realizado
através de uma veia, a doente pode ter alta e começar a andar normalmente 1 a 2
horas após o tratamento. A recuperação é feita num quarto durante 2 horas.
Geralmente as doentes não têm dores e poderão ter alta do hospital no mesmo dia
da embolização, ou seja, um tratamento em ambulatório. Recomendamos um descanso
ligeiro no próprio dia e evitar grandes esforços físicos no dia seguinte. O
retorno às práticas normais de vida diária pode ser imediato. Como o
procedimento não causa dores, geralmente não é preciso nenhuma medicação.
Contudo, em alguns casos de dor ligeira pode ser prescrita medicação analgésica
para as dores e anti-inflamatória para diminuir a inflamação que possa surgir
após a embolização.
Quando
começo a notar melhorias?
Durante
a primeira semana após a embolização as melhorias começas a ser notórias. A
sensação de dor e peso pélvico que tinha desaparecem gradualmente nos dias
seguintes ao tratamento por embolização.
Quanto
tempo dura o tratamento?
Geralmente
o tratamento é definitivo, ou seja, dura para sempre.
Qual
a relação das varizes pélvicas com a minha função sexual?
Como
as varizes pélvicas podem causar dor durante o acto sexual e varizes vaginais e
vulvares, o tratamento por embolização pode melhorar a função sexual e o prazer
nas relações sexuais. Com a embolização das varizes pélvicas, a doente deixa de
ter dores durante o acto sexual e as varizes vaginais e vulvares desaparecem,
fazendo com que a doente tenha uma relação sexual mais satisfatória.
Como
é feito o acompanhamento após a embolização?
Após
o tratamento por embolização, a maioria dos doentes não tem qualquer dor. O
recobro é feito numa sala próxima à sala de angiografia onde foi feita a
embolização. É colocado um penso na virilha ou pescoço dependendo do local onde
se introduziu um cateter. A doente deverá ficar em repouso 2 horas até poder
começar a andar novamente. Geralmente as doentes não têm dores e poderão ter
alta do hospital no mesmo dia, ou seja, em ambulatório (não precisam de passar
uma noite internadas). No caso das doentes tratadas por embolização das varizes
pélvicas, a recuperação é imediata, sendo que as doentes podem comer logo após
o tratamento e não têm dores nem hemorragia. Praticamente todas as doentes após
a embolização têm alta do nosso hospital no mesmo dia da embolização e podem ir
para casa pelo próprio pé. A recuperação é imediata e sem dores. Nas doentes
com varizes pélvicas tratadas por embolização, a recuperação é imediata e
indolor, não necessitando geralmente de qualquer medicação.
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