Por: Margarida Ribeiro
Falámos com Ana Gisela
Oliveira, uma pediatra do Grupo Trofa Saúde, sobre a tosse convulsa, uma
condição que tem dado muito que falar nos últimos tempos.
Durante os últimos meses, o
número de casos de tosse convulsa aumentou, significativamente, em todo o
mundo. Por exemplo, em Portugal, segundo a Direção-Geral de Saúde (DGS),
registaram-se 200 casos nos primeiros quatro meses de 2024, quando em todo o ano
anterior tinha registado 22.
Mais especificamente, os
números nacionais referem-se a pacientes com "idade pediátrica (86%),
sobretudo em crianças entre os 10 e 13 anos (21%) e com idade inferior a 1 ano
(20%)".
Para entender melhor esta
condição, assim como os sintomas e os potenciais riscos, o Lifestyle ao Minuto
falou com Ana Gisela Oliveira, uma pediatra do Grupo Trofa Saúde.
O que é a
tosse convulsa? É uma doença contagiosa?
Tosse convulsa (também
conhecida como tosse coqueluche, pertússis ou tosse dos 100 dias) é uma doença
contagiosa que atinge o aparelho respiratório.
É pediatra do Grupo Trofa
Saúde© Ana Gisela Oliveira
Quais são
as causas mais comuns? Como acontece o contágio?
É causada pela bactéria
Bordetella pertussis, sendo os humanos o único reservatório. O contágio ocorre
através da inalação de gotículas respiratórias de uma pessoa infetada emitidas
por espirros ou tosse ou pelo contacto com objetos contaminados com secreções.
Já o período de incubação é de sete a 10 dias, mas pode variar entre cinco a 21
dias.
Quais os
sintomas mais comuns?
São habitualmente moderados e
semelhantes aos de uma constipação: corrimento e congestão nasal, olhos
lacrimejantes e vermelhos, febre e tosse.
Esta divide-se em três fases:
Primeira fase, a catarral,
dura de uma a duas semanas, e ocorre corrimento nasal, tosse não produtiva e
febre baixa;
Segunda fase, a paroxística,
tem uma duração de duas a seis semanas, com agravamento da tosse, mais
frequente à noite, e que pode terminar com um guincho inspiratório - um ruído
característico da doença que surge com respiração, no final do acesso de tosse
- ou vómito. Pode ser acompanhada de cianose, a coloração azulada da pele e dos
lábios;
Terceira, e última fase, a de
convalescença, tem uma duração de duas a seis semanas, e ocorre a diminuição
progressiva da tosse em intensidade e frequência.
Contudo, a tosse convulsa não
se manifesta de igual forma em todos os doentes. Por exemplo, os
recém-nascidos, assim como os bebés, podem ter uma fase catarral muito curta ou
mesmo ausente, podendo o guincho inspiratório estar ausente e ocorrer apneia - pausa
respiratória - e dificuldade respiratória.
Já em crianças vacinadas,
adolescentes e jovens adultos, a sintomatologia é, habitualmente, menos
pronunciada, podendo manifestar-se apenas como tosse persistente.
Está
associada a possíveis complicações? Quais?
Complicações mais frequentes
incluem: apneia, pneumonia e perda de peso. Contudo, outras complicações como
pneumotórax, epistaxis (sangramento nasal), hemorragia subconjuntival, hematoma
subdural, prolapso rectal, convulsões e morte podem ocorrer, nomeadamente em
crianças mais pequenas e não vacinadas.
É
possível prevenir o contágio? Como?
A melhor forma de prevenção da
tosse convulsa é a vacinação, com cumprimento do esquema completo. Por exemplo,
em Portugal, a vacina é gratuita e está incluída no Programa Nacional de
Vacinação (PNV), em cinco doses aos 2, 4, 6, 18 meses e 5 anos de idade.
Também faz parte do PNV para
as grávidas, devendo ser realizada em cada gravidez, entre as 20 e a 36 semanas
de gestação, idealmente até às 32 semanas, com o objetivo de proteger o
recém-nascido e o lactente nas primeiras semanas de vida (antes do início da
vacinação aos 2 meses).
Após o diagnóstico de tosse
convulsa, as crianças devem ser isoladas e não frequentar o local de ensino até
cumprirem cinco dias de antibiótico ou na ausência de tratamento, o isolamento
deve ser de 21 dias após o início dos sintomas.
Torna-se também essencial uma
correta etiqueta respiratória, tal como a utilização de máscara e higiene
frequente das mãos.
Como é
feito o diagnóstico?
O diagnóstico de tosse
convulsa é clínico, contudo, existem vários exames laboratoriais para a sua
confirmação através da pesquisa da bactéria.
Quais os
tratamentos mais recomendados?
O tratamento da tosse convulsa
consiste na toma de um antibiótico que permite eliminar a Bordetella pertussis,
limitando o contágio. Na fase catarral esta terapêutica diminui ou elimina os
sintomas, contudo, na fase paroxística não altera o estado clínico do doente.
Deve ser proporcionado um
ambiente tranquilo, reforçada a hidratação e alimentação adequada.
Em alguns casos, é necessário
internamento hospitalar, nomeadamente em bebés menores de seis meses, casos com
dificuldade respiratória, intolerância alimentar (incapacidade de se
alimentar), cianose, apneia e convulsões.
Os elementos do agregado
familiar e contactos íntimos expostos à infeção devem realizar tratamento
antibiótico profilático.
Quais as
maiores diferenças entre uma tosse normal e tosse convulsa? É fácil de
confundir com outras condições?
Tosse convulsa destaca-se pela
longa duração da tosse e pelo guincho e a cianose associados que, como
referido, nem sempre estão presentes. O diagnóstico de tosse convulsa em fases
mais precoces pode ser difícil porque os sinais e sintomas são muito semelhantes
aos de outras doenças respiratórias, como constipações e gripes.
Está a tornar-se um problema
muito comum. Porquê? Que fatores estão a causar um aumento do número de
infeções em múltiplos países?
Trata-se de uma doença
endémica na União Europeia e em todo o mundo, com picos previsíveis a cada três
a cinco anos, correspondendo este ano a um ano de surto.
Embora a vacinação sistemática
tenha reduzido significativamente a incidência da doença, nem a infeção nem a
vacinação conferem imunidade permanente, sendo possível ter tosse convulsa mais
do que uma vez na vida. A ausência de reforço natural, decorrente da diminuição
da doença, associada à perda de imunidade vacinal ao longo do tempo leva a que
adolescentes e adultos não imunes, bem como indivíduos não vacinados, possam
contrair a doença e serem fontes de contágio para pequenos bebés suscetíveis
(com cobertura vacinal parcial ou ausente).
Fonte: Notícias ao Minuto
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