Por: SIF // AMG
Fonte: Lusa
A portuguesa Filipa Martins
vai participar pela terceira vez nos Jogos Olímpicos quando competir em
Paris2024, de olho na final do concurso completo na ginástica artística após
batalhar contra lesões e por carreiras mais longas na modalidade.
Aos 28 anos, a ginasta natural
do Porto vai igualar o ‘tri’ de Ana Rente, no trampolim, em Pequim2008,
Londres2012 e Rio2016, e de Esbela da Fonseca, em Roma1960, Tóquio1964 e
México1968.
A presença na capital francesa
vai engrossar a lista de feitos de Martins, que tem um movimento homónimo
inscrito no Código oficial, um marco inédito para Portugal na ginástica, depois
de já ter sido a primeira numa final de Europeu, nas paralelas assimétricas, em
2021.
O 21.º lugar, e quarto entre
atletas sem quota para Paris2024, nos Mundiais de 2023, na final de ‘all
around’, garantiu o bilhete tão desejado num ciclo marcado por lesões e
problemas físicos, que espera debelados.
“Temos tido várias competições
a correr bastante bem. Estamos contentes com o percurso até aqui, estamos no
bom caminho. Está perto, mas ainda falta um bocadinho. Estamos ansiosos, mas a
viver um dia de cada vez e dar o nosso melhor”, explica, em entrevista à Lusa
na Maia, onde treina.
O “nós” do seu discurso diz
respeito ao trabalho que faz com a sua equipa, encimada pelo treinador José
Ferreirinha, para se manter ao mais alto nível ao longo de “muitos anos de
treino e de impactos”, algo que nesta idade “é sempre um bocadinho mais
difícil, com demasiada sobrecarga”.
“Não tenho nenhuma lesão
específica, [mas] tenho lesões crónicas de demasiado treino, demasiados anos,
demasiados impactos. Tento gerir o treino por causa disso. Tenho já cinco
cirurgias. Há dias que acordamos melhor e outros pior”, acrescenta.
A portuguesa congratula-se por
ver a ginástica como uma modalidade de carreira “cada vez mais longa, com
bastantes ginastas internacionais acima dos 25 anos”, com a portuguesa, aos 28,
e a ‘superestrela’ Simone Biles, de 27, à cabeça.
“Quando eu entrei, acabava ali
nos 18, 20 anos. Já se dizia que eram velhas. Temos a exceção da Oksana
Chusovitina, com 49 anos ainda a praticar. Dizia ela que queria continuar até
aos próximos Jogos… é sempre bom. A evolução dos aparelhos também nos permite
sofrer menos um bocadinho com tantos impactos”, reflete.
Ainda assim, esperava ver
agora “talvez a vida mais estruturada” e outro apoio, dadas as limitações de
uma carreira no desporto em Portugal, estando também a cursar mestrado na área.
Essa longevidade, afirma, não
a leva a pensar já em Los Angeles2028, porque “tem de ser um dia de cada vez”.
Mesmo que atletas queiram
“sempre mais, e achem que ainda não fizeram o suficiente”, confessa já ver-se
como parte da história do desporto português, até pelo efeito “muito
gratificante” de ter crianças que a idolatram e seguem o seu trabalho.
O 17.º lugar histórico nas
paralelas assimétricas em Tóquio2020, com um 43.º lugar no concurso completo
(foi 37.ª no Rio2016), é uma fasquia para nova participação olímpica, embora
esta esteja sempre condicionada à disponibilidade física.
“Depende sempre do meu corpo,
hoje em dia é um bocadinho assim. Um dos principais objetivos é conseguir a
final do ‘all around’, logo no dia 28 [segundo dia dos Jogos, e data da
qualificação do concurso completo] saberemos. É o nosso principal objetivo. É
também aproveitar mais uma experiência incrível, [porque] a última foi muito
condicionada por causa da covid-19”, afirma.
Igualmente de regresso em
Paris2024 está Simone Biles, a norte-americana que somou quatro ouros e um
bronze no Rio2016 para, em Tóquio2020, citar problemas na saúde mental para
‘saltar’ algumas das provas, conseguindo uma prata e um bronze.
Depois de uma paragem, a
norte-americana está de volta e é, desde logo, uma das principais atrações
desta edição, um feito enaltecido, diz Filipa Martins, pela forma como o
conseguiu.
“Só o facto de ter voltado
para mais uns Jogos, querer fazer o que não conseguiu em Tóquio2020, mostra toda
a garra e resiliência que tem, o querer ainda mais do que já fez. Sem ela, não
será a mesma coisa, seja nuns Jogos como noutras competições”, elogia.
De resto, uma das principais
referências desportivas nacionais congratula-se com o crescimento entre os mais
novos numa das modalidades em que Portugal tem somado ‘pergaminhos’ nos Jogos
Olímpicos, mas deixa um alerta para lacunas no apoio e nos recursos
disponibilizados.
“Temos vindo a crescer cada
vez mais nos escalões mais novos. Há um longo percurso pela frente, não só para
atletas e treinadores, mas de coisas que precisamos para a nossa modalidade.
Psicólogos, fisioterapeutas, médicos, que acompanhem os escalões mais novos,
porque a nossa modalidade começa muito cedo”, aponta.
Entre as recomendações, fica
uma geral, dado que “ainda falta toda uma estrutura por detrás que apoie desde
mais cedo” os pequenos talentos, mesmo que tenham conseguido crescer sem isso.
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