Por: Joana Vaz*
“O
intervalo de tempo entre a juventude e a velhice é mais breve do que se
imagina. Quem não tem prazer ao penetrar no mundo dos idosos não é digno da sua
juventude (…) o ser humano morre quando, de alguma forma, deixa de se sentir
importante”.
Envelhecer traduz um processo
inevitável e, infelizmente, associado a uma imagem de perda de autonomia e
maior vulnerabilidade. Ser velho comporta ter doenças, ficar doente e acima de
tudo sentir-se doente. Perante esta imagem, muitos idosos sentem que “são um peso” para
os seus familiares e pouco úteis para a sociedade.
Relativamente aos dados
existentes e reportados pelo SNS, cerca de 26,8% dos adultos com mais de 85
anos expressam sentimentos de solidão, sendo esta percentagem maior em
indivíduos viúvos ou solteiros. De acordo com a Operação “Censos Sénior 2023” da GNR, mais de 44.000 idosos portugueses vivem
sozinhos e/ou isolados, ou em situação de vulnerabilidade, em razão da sua
condição física, psicológica.
A solidão entre os idosos é um
tema de grande relevância, pois reflete não apenas um estado emocional, mas
também uma questão social e de saúde. À medida que as pessoas envelhecem
enfrentam mudanças significativas nas suas vidas, como a perda de cônjuges,
amigos e familiares, o fim da vida profissional e até mesmo o aparecimento de
doenças, condicionando menor mobilidade física. Estes fatores podem contribuir
para um aumento do isolamento social e da solidão entre os idosos.
Um dos principais desafios
enfrentados pelos idosos é a perda de redes sociais e de apoio. À medida que os
amigos e familiares envelhecem, morrem ou se afastam, os idosos podem ver-se
cada vez mais isolados, com poucas oportunidades de interação social
significativa. Sabemos que existem idosos em cidades que vivem sozinhos em
prédios sem elevador, em situação de dependência física, ficando completamente
isolados e sós. Existem algumas respostas para alimentação, higiene nestes
idosos, mas faltam respostas para o isolamento social e solidão.
Mesmo quando estes idosos
recorrem aos recursos de saúde, a institucionalização não pode ser a única
opção uma vez que acarreta outras questões como desenraizamento, alteração de
rotinas/regras.
A solidão não afeta apenas o
bem-estar emocional, mas também contribui para consequências negativas na saúde
física. A solidão associa-se a maior risco de depressão, ansiedade, patologia
cardiovascular, défice cognitivo e aumento de mortalidade. Por outro lado,
conduz a hábitos menos saudáveis como dieta inadequada e sedentarismo.
É necessário reconhecer a
solidão entre os idosos como um problema e de que existem maneiras de ajudar a
mitigá-la. Iniciativas comunitárias, como grupos de apoio, centros de
atividades e programas de voluntariado, podem proporcionar oportunidades de
interação social e apoio emocional. Ao fazer isso, podemos ajudar a garantir
que os idosos desfrutem de uma melhor qualidade de vida, se sintam novamente
importantes e integrados nas suas comunidades.
* “Artigo de opinião internista na ULSM e vice-presidente
da AMIDI, sobre a solidão muitas vezes associada aos idosos”.
Fonte: Saúde Online
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