Por: Carlos Pereira
A edição deste ano da Feira,
Festa e Romaria de Nanterre iniciou-se durante três dias, no Espace Chevreul,
com expositores de 20 municípios portugueses, que se deslocaram a França com os
respetivos autarcas. Duas Câmaras municipais marcaram presença pela primeira
vez Fafe e Mogadouro mas a grande maioria dos municípios está presente na Feira
deste o seu início.
A Feira de Nanterre, como já é
conhecida é organizada pela Associação Recreativa e Cultural dos Originários de
Portugal (ARCOP) de Nanterre, instituição com 40 anos, presidida por Manuel
Brito.
Como
surgiu a ideia de organizar esta Feira?
Foi em 2003. Nós começámos
esta Feira na Mairie de Nanterre, numa sala na parte de baixo da Mairie, e
tivemos três Câmaras portuguesas no primeiro ano. Fizemos uma segunda edição no
mesmo sítio, mas no terceiro ano já não dava para fazer nesse espaço, porque já
era muito pequeno, já havia muitas Câmaras municipais interessadas em estar
presentes. No nosso país, em Portugal, havia uma grande crise e nessa época eu
vi as pequenas empresas a sofrer mais e achámos que devíamos ajudar essas
empresas, nomeadamente as da gastronomia, as dos produtos da terra… devíamos
ajudar sobretudo os pequenas comerciantes a virem cá, promoverem os produtos e
conseguirem deixar aqui a mercadoria deles e foi isso que aconteceu.
Hoje, 21
anos depois, considera que o objetivo foi atingido?
Claramente, porque nós, 21
anos depois, temos cá comerciantes que dizem que graças à Feiras de Nanterre as
empresas deles continuam vivas. Nessa altura, se não fossemos nós, eles
dizem-nos que teriam fechado a casa. O terem vindo cá, permitiu que arranjassem
novos clientes aqui. Agora vêm cá regulamente os camiões descarregar produtos
durante todo o ano.
Então
eles não vêm cá vender apenas nos 3 dias da Feira…
A Feira foi o primeiro ponto,
hoje já têm os seus clientes todo o ano, eles fazem os seus negócios aqui, com
os produtos que trazem para a Feira, mas depois expande-se. Por exemplo, nós
temos o vinho Alvarinho, há 21 anos ainda não era conhecido aqui no mercado
como é hoje, hoje estamos com o vinho Alvarinho por todo lado. Temos um
empresário que manda todas as semanas uma carrinha com produtos para França.
Estamos contentes porque, mais uma vez, estamos a trabalhar para a nossa
sociedade, estamos a trabalhar para o povo português e é isso que me faz
prazer.
Por que
razão fazem a Feira nesta data?
A Feira é sempre no Domingo de
Ramos, um fim de semana antes da Páscoa, porque no fim de semana seguinte, nós
mantemos a tradição de estar em família e vamos comprar os produtos uma semana
antes. Depois, vamos comer o queijo, o salpicão, o presunto, o azeite, o vinho…
todos esses produtos fazem com que a Páscoa tenha mais sabor a Portugal.
E por que
razão apenas aceitam as Câmaras que enviem os seus autarcas?
Há também uma razão muito
especial, e penso que tivemos uma boa ideia. Na verdade, a nossa emigração está
um pouco afastada do nosso país nós não estamos afastados, estamos sempre com o
coração no nosso país, Portugal é que não está muito atento aos seus
emigrantes. Então nós dizemos sempre que queremos os Presidentes de Câmara ou
então um Vereador presente, para reforçar a proximidade entre os autarcas e os
Portugueses da terra que moram no estrangeiro. Isso é importante para nós.
Esta é uma Festa da Saudade,
aqui os emigrantes matam saudades. Muitos conhecem aqui os Presidentes de
Câmara e muitos Presidentes de Câmara descobrem aqui os seus concidadãos, que
não conheciam ainda. E eu constato que muitas vezes os Presidentes dizem às
pessoas para os irem visitar quando lá estiverem de férias, no mês de agosto.
Quando os emigrantes tiverem um qualquer problema nas vidas particulares, nas casas
ou nalgum terreno, já falam diretamente com o Presidente da Câmara sem terem
aquele receio… já falam mais à vontade. A Feira de Nanterre aproximou muito a
nossa Comunidade com os Presidentes de Câmara.
E são
Câmaras de várias regiões do país…
Sim, do Alto Minho ao sul, mas
tentamos ter sempre Câmaras de zonas de grande emigração, porque se chamarmos
outras Câmaras que não tenham emigração, já não dá tão bem. Isto tem de fazer
sentido e nós constatamos que os Presidentes de Câmara que vêm cá, saem daqui
felizes por partilharem com os seus concidadãos. E no domingo, quando os
Presidentes fazem o seu discurso, eu olho para as pessoas e vejo que sentem
orgulho nos discursos dos seus autarcas. Isso é muito importante para mim.
E que
tipo de público atrai esta Feira?
São essencialmente
portugueses, claro, mas atualmente já temos muitos franceses e muita gente de
outras nacionalidades que vêm cá para comprar feijão, o nosso queijo na Serra
da Estrela, vêm buscar mel, azeite… muitos franceses que vêm buscar presunto,
salpicão, enchidos, muita coisa. Outra coisa interessante é o encontro de
pessoas da mesma terra que não se vêm durante o ano, mas encontram-se aqui na
Feira de Nanterre. Há amigos que não se vêm há 20 ou 30 anos e encontram-se
aqui na Feira, fazem-se aqui convívios espetaculares, para as pessoas matarem
saudades.
E agora,
como pode evoluir esta Feira?
Para mim, não podemos
continuar a desenvolver mais por causa do espaço. O espaço já não dá para mais.
E para crescer teríamos de ter outro estatuto, uma outra organização. Mas o
ponto principal é mesmo a capacidade, porque já estamos acima das nossas
capacidades.
Toda a
equipa é voluntária, não é?
Exatamente. Aqui ninguém ganha
nada, essa é uma boa questão, porque muita gente pensa que a associação de
Nanterre ganha muito dinheiro nesta Feira. Mas, se tivéssemos de pagar as
pessoas que aqui trabalham na Feira, não nos dava para pagar as despesas. Eu
costumo dizer que os melhores patrocinadores que nós temos na nossa associação
são os sócios, não temos outros patrocinadores. Sem esta gente de garra, sempre
disponível para ir para a frente, nós não conseguiríamos fazer isto.
Mas têm o
reconhecimento da autarquia. O Maire está sempre aqui presente…
Sem o apoio da Mairie não
conseguiríamos fazer nada. Eu costumo dizer aos Presidentes de outras
associações que nós necessitamos das Mairies. São um pilar fundamental para que
se possa continuar a promover Portugal. E aqui, em Nanterre, temos tido um
Maire que tem estado sempre ao nosso lado.
E apoios
de Portugal?
De Portugal, temos a
particularidade de termos hoje tanto apoio como tivemos no primeiro ano: zero.
Temos um pequeno subsídio da Mairie de Nanterre e temos o apoio total em
instalações: a nossa sede, terremos de futebol, salas para ensaios do grupo
folclórico, o espaço desta Feira… De Portugal nunca recebemos nada para a
associação, nem para esta Feira. Eu encontro aqui muitos Presidentes de Câmara,
por exemplo o Presidente dos Arcos de Valdevez que visita muitas Comunidades
pelo mundo inteiro, da Venezuela aos Estados Unidos, diz-me que já viu muita
festa portuguesa, mas Feira como a de Nanterre é única. Então temos de
continuar a trabalhar, continuar a sermos honestos e se nós tivéssemos
subsídios, talvez outras associações que necessitam ainda mais, passariam a ter
menos… Nós fazemos mais de 2.500 refeições durante estes três dias, nada vem
dos restaurantes, tudo é feito aqui por gente voluntária da associação. As
pessoas pensam que esta festa dura três dias, mas na verdade dura uma semana
inteira.
Quantas
pessoas costumam vir à Feira de Nanterre?
Habitualmente passam aqui
entre 10.000 e 15.000 pessoas durante os três dias. Num sábado à noite, já
tivemos aqui 3.000 pessoas… é muita gente para este espaço.
Fonte: Luso Jornal (França)
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