quarta-feira, 27 de agosto de 2025

“Notícias alem fronteiras: Uma caminhada de fé e resistência: José Maria – a pé desde Paris – chega amanhã a Fátima…, mas continua”


Por: Emanuel Guedes

Partir de Paris e chegar a Arcos de Valdevez, no norte de Portugal, exclusivamente a pé. Esse é o desafio que José Maria Canossa da Cunha se propôs realizar: um percurso de cerca de 2.000 quilómetros, atravessando França e Espanha até alcançar a sua terra natal. A partida foi no dia 17 de maio, junto à Torre Eiffel e o peregrino vai passar por um dos lugares simbólicos da peregrinação: Fátima, onde deve chegar amanhã, dia 23 de agosto.

 

Começou esta viagem no dia 17 de maio. Quando prevê chegar a Fátima?

 

Sim, iniciei a caminhada no dia 17 de maio. A minha chegada a Fátima está prevista para sábado, dia 23 de agosto, entre as 10h00 e o meio-dia. Já não estou muito longe, encontro-me a cerca de 60 quilómetros de Fátima. No entanto, o meu objetivo final é continuar até à minha terra natal: Arcos de Valdevez.

 

Quais as emoções que espera viver na chegada a Fátima?

 

Vai ser um momento muito duro, mas também de enorme orgulho. Ao longo desta viagem enfrentei calor, frio, fome, dor… mas levo comigo a bandeira portuguesa, porque sou português e tenho muito orgulho nisso. Orgulho também porque segui caminhos que muitos portugueses fizeram no passado, em busca de uma vida melhor. Alguns perderam a vida nesses mesmos caminhos, e eu sinto que de alguma forma lhes presto homenagem.

 

Como pode descrever o seu dia a dia durante esta caminhada?

 

Os últimos quilómetros de cada etapa são sempre os mais difíceis, porque já se sente o cansaço acumulado. Pensava que a parte em Portugal seria mais leve, mas está a ser bastante dura. No entanto, graças a Deus, tudo tem corrido bem. Tenho encontrado pessoas muito boas, que me acolhem como se fosse da família, e isso torna a viagem muito mais fácil.

 

Foi acolhido na fronteira portuguesa por uma equipa médica e pelo Município de Almeida. Como se passou esse momento?

 

Sim, fui acolhido pelo Município de Almeida, a quem tenho de agradecer muito. Também tive o apoio de um posto médico que me recebeu com enorme cuidado. Trataram muito bem de mim, até dos pés, e por isso estou-lhes profundamente grato.

 

Quais foram os grandes momentos que guarda desta caminhada?

 

Houve momentos bons e outros menos bons. Os mais difíceis aconteceram em Espanha, onde cheguei a estar quase a ser assaltado, felizmente sem consequências porque estava acordado. Essa foi talvez a pior parte da viagem. Já em Portugal, o percurso entre Vilar Formoso e a Guarda foi muito duro. Mas, graças a Deus, também encontrei pessoas extraordinárias, que tornaram o caminho mais leve.

 

Durante a viagem, sobretudo em Espanha, conseguiu comunicar facilmente ou sentiu a barreira da língua?

 

Não tive dificuldades, porque compreendo bem espanhol e também falo. Trabalhei há uns anos em Espanha e isso ajudou bastante.

 

Houve algum encontro que lhe ficou particularmente na memória?

 

Houve muitos. Aqui em Portugal fui muito bem acolhido em todos os lugares por onde passei. Esses encontros são sempre especiais e dão-me força para continuar.

 

E como viveu os momentos de maior solidão?

 

Foram momentos duros, muito duros. Isto não é apenas uma aventura, mas sim uma promessa que faço por um motivo muito especial. É esse motivo que me leva até Fátima. Nunca me passou pela cabeça voltar atrás, mesmo quando as pernas e os pés doíam. O meu olhar esteve sempre fixo no objetivo. Depois de Fátima, quero continuar até à minha terra natal, Arcos de Valdevez. Para uns, esta caminhada poderia acabar em Fátima, mas para mim deve continuar. Quero levá-la até ao fim.

 

Disse que mais tarde gostaria de deixar um testemunho dessa caminhada. De que forma?

 

Quero mandar fazer uma placa gravada, uma para cada filho meu, para que guardem essa lembrança com orgulho. Será um símbolo desta caminhada e daquilo que ela representa.

 

E depois desta longa viagem, que projetos tem para o futuro?

 

É inevitável que uma experiência destas mude um pouco a vida de uma pessoa. Tenho a ideia de dar a volta a França, conhecer o país canto por canto, porque é lindíssimo. Outra sugestão que me deram, e que quero concretizar, é escrever um livro sobre esta viagem, contando toda a história em detalhe. Muitas pessoas ajudaram-me ao longo do caminho, e acho que escrever esse livro é também uma forma de agradecer e partilhar lugares que muitos nunca tiveram oportunidade de conhecer.

Fonte: Luso Jornal/França

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