Por: Catarina Ribeiro
Os cientistas encontraram um
mecanismo de alteração da resolução da visão central e periférica, que explica
vários fenómenos visuais como a visão em túnel (que implica a perda de visão
periférica). Este é mais um passo para a compreensão dos efeitos de
psicadélicos no ser humano.
Um novo estudo, liderado pela
Universidade de Coimbra (UC), revela um mecanismo que pode ajudar a explicar
alguns dos fenómenos associados aos efeitos visuais dos psicadélicos. Em
particular, foi encontrado um mecanismo de alteração da resolução da visão
central e periférica, que explica vários fenómenos visuais como a visão em túnel
(que implica a perda de visão periférica). Este é mais um passo para a
compreensão dos efeitos de psicadélicos no ser humano, em particular os
impactos no campo visual.
No artigo científico Rapid
effects of tryptamine psychedelics on perceptual distortions and early visual
cortical population receptive fields – recentemente publicado numa das revistas
de maior renome da área da imagem cerebral, a NeuroImage – a equipa de
investigação liderada pelo docente da Faculdade de Medicina da Universidade de
Coimbra (FMUC) e coordenador científico do Centro de Imagem Biomédica e
Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas
à Saúde (ICNAS) da UC, Miguel Castelo-Branco, estudou a ação da
dimetiltriptamina (de forma inalada, com ação breve), conhecida como DMT, em
diversos participantes.
A DMT é uma substância
psicadélica natural que simula os efeitos de um neurotransmissor cerebral, a
serotonina (que regula o humor, a sensibilidade sensorial, o sono, o apetite, a
sexualidade, a resposta ao stress, a memória e outras funções cognitivas).
Na alteração da perceção que
os cientistas identificaram, “o centro do campo visual pode aparecer como
definido de forma muito precisa e a periferia de forma obscura e difusa”,
explica Miguel Castelo-Branco. É como se “as pessoas com ação deste psicadélico
tivessem pixels maiores no cérebro visual, o que diminui a resolução, que gera,
por exemplo, distorção de objetos, sobretudo na periferia”, acrescenta.
Para conduzir esta
investigação, foi usada a ressonância magnética funcional, técnica para estudar
a atividade cerebral e as alterações funcionais das regiões que processam
informação visual. Desta forma, os investigadores conseguiram “mapear
modificações das propriedades de resposta das regiões do cérebro que respondem
a estímulos visuais”, avança o neurocientista.
“A identificação de uma
relação entre alterações dos mapas visuais e experiências percetuais
surpreendentes, como a que aconteceu neste nosso estudo, abre as portas para
relacionar alterações precisas dos mapas sensoriais com a emergência de
fenómenos, como determinadas formas de alucinação incluindo alterações da
perceção do espaço”, elucida Miguel Castelo-Branco.
Este estudo original no
contexto português – que tem como primeira autora a estudante de doutoramento e
investigadora do ICNAS, Marta Lapo Pais – insere-se num trabalho de
investigação que Miguel Castelo-Branco lidera, que tem procurado “estudar os
mecanismos de ação dos psicadélicos, a fenomenologia da perceção, os estados
mentais envolvidos, e os seus potenciais efeitos terapêuticos”, avança o
neurocientista.
“Pretendemos com esta
investigação abrir novos caminhos para o entendimento do impacto dos
psicadélicos nas dimensões afetivas, espirituais e cognitivas das pessoas, as
respostas cerebrais que originam e os seus possíveis impactos do ponto de vista
terapêutico”, sublinha o docente da UC.
Colaboraram também neste
artigo outras investigadoras: Marta Teixeira (CIBIT e ICNAS), Carla Soares
(CIBIT e ICNAS), Gisela Lima (ICNAS, FMUC e Universidade de Maastricht), Célia
Cabral (Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia, Instituto de
Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra, FMUC e Centro de Ecologia
Funcional do Departamento de Ciências da Vida da UC) e Patrícia Rijo (Instituto
de Investigação do Medicamento - Faculdade de Farmácia da Universidade de
Lisboa e Centro de Investigação em Biociências e Tecnologias da Saúde e da
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias).
Fonte: Universidade Coimbra
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