Dez em cada 100.000 mulheres são afetadas por cancro do ovário, a quinta causa de morte por doença oncológica nas mulheres, a seguir ao cancro da mama, do pulmão, do intestino e do pâncreas, segundo dados europeus. Falámos com a médica oncologista Carolina Camacho sobre cancro do ovário.
O que é o
cancro do ovário? E que outros tumores ginecológicos existem?
O cancro do ovário é um tumor
maligno que na realidade engloba um conjunto heterogéneo de neoplasias
malignas. Estas neoplasias diferem no tipo de células que origina a neoformação
e, segundo a classificação histológica, dividem-se em dois grandes grupos:
tumores epiteliais e os não-epiteliais. Cerca de 90% são tumores epiteliais que
se classificam em serosos, endometrioides, mucinosos, células claras, etc.
Quanto às neoplasias não
epiteliais do ovário, distingue-se por serem tumores mais raros e que
frequentemente atingem faixas etárias mais jovens. Estes incluem os tumores de
Células Germinativas, Células dos Cordões Sexuais e do Estroma.
Existem outros tumores
malignos ginecológicos, como por exemplo o cancro do endométrio, cancro do colo
do útero, cancro da vulva, etc.
O que faz
deste cancro o mais letal?
As células tumorais de origem
no ovário/trompas, que se multiplicam de forma descontrolada, desenvolvem um
tumor cujo potencial maligno é determinado pela capacidade de migrar por
diferentes vias (hematogenica, linfática e transcelómica) e se propagar à distância
(metastização). Este é um tipo de tumor que geralmente inicia o seu crescimento
e propagação pelo peritoneu de forma silenciosa e assintomática. Não raras
vezes é diagnosticado em fases mais avançadas da doença impedindo terapêuticas
com intuito curativo.
As faixas
etárias com taxa de incidência mais elevada para esta neoplasia, com mais de 10
casos por cada 100 000 pessoas-ano, situam-se em mulheres com idades superior a
50 anos
Quais são
os principais sintomas?
O desenvolvimento de uma
neoplasia do ovário pode ser assintomática em estadios iniciais (chamada doença
silenciosa), ou manifestar apenas ligeiros incómodos que não são valorizados e
que não determinam a procura por cuidados de saúde. A mulher pode experienciar
depois o agravamento progressivo do aumento do volume abdominal (“barriga
inchada”), sensação de enfartamento precoce, perda de peso não explicada,
desconforto na área pélvica, fadiga ou cansaço, dor a nível lombar, alternância
dos hábitos intestinais como obstipação, ou alteração do padrão de micção
(“vontade de urinar mais vezes”, urgência miccional), devendo determinar uma
observação célere da mulher pelo medico assistente/ginecologista.
A partir
de que idade devem as mulheres ficar mais atentas?
Segundo os últimos dados
nacionais disponíveis – RON 2020 – as faixas etárias com taxa de incidência
mais elevada para esta neoplasia, com mais de 10 casos por cada 100 000
pessoas-ano, situam-se em mulheres com idades superior a 50 anos. Entre os
75-79 anos a taxa de incidência é a mais elevada com 19,1/100.000 mulheres.
Para este pico de incidência relacionam-se mais frequentemente os carcinomas de
tipo epitelial.
Por outro lado, os tumores do
ovário que afetam faixas etárias mais jovens, entre 15-30 anos, são tumores de
Células Germinativas, Células dos Cordões Sexuais ou do Estroma Gonadal. Assim,
recomenda-se alerta a sinais e sintomas em todas as idades, com especial
atenção ao período após a menopausa.
Há formas
de prevenir e rastrear?
Apesar da importância da
deteção precoce do cancro do ovário e de reconhecermos que muitas vezes é uma
patologia maligna silenciosa, não existem testes com especificidade e
sensibilidade suficientes para serem implementados na população geral. Assim
não existe nenhum exame de rastreio eficaz.
Os meios de prevenção também
não são consensuais mas relacionam-se com prováveis fatores protetores como o
uso de contracetivos orais, e a paridade.
A escolha
do tratamento primário do cancro de ovário depende de fatores de prognostico
incluindo a presença de critérios de irressecabilidade
Quais são
os fatores de risco?
As causas para o
desenvolvimento do cancro do ovário não estão totalmente esclarecidas, sendo
que envolve diferentes fatores como genéticos, reprodutivos e ambientais.
De todos os fatores de risco
estudados os que reúnem maior robustez de evidência estão relacionados com a
história familiar e a predisposição genética. A ocorrência de familiares de 1º
e 2º grau com história de cancro do ovário e de mama, em especial em idades
mais jovens, prediz risco pessoal acrescido que, apesar de ser difícil de
quantificar, deve ser orientado a consulta de avaliação de risco familiar. As
síndromes de cancro hereditário identificadas estão associadas a mutações
genéticas como mutação BRCA no Síndrome hereditário de cancro de mama/ovário ou
o Síndrome de Lynch.
Outros fatores que determinam
o aumento de risco de desenvolver cancro do ovário ao longo da vida incluem o
envelhecimento, a obesidade, idade de início de menstruação precoce e/ou
menopausa tardia (relação de risco não totalmente esclarecido com o numero de
ovulações ao longo da vida), uso de terapêuticas hormonais de substituição, a
ausência de história pessoal de gravidez (nuliparidade), infertilidade, a
endometriose, e ainda alterações genéticas hereditárias (linhagem germinativa)
e história familiar de cancro do ovário.
Por outro lado, são hipóteses
associadas a prevenção da carcinogénese do ovário o uso de contracetivos orais,
a amamentação, a multiparidade e a laqueação tubar.
Quais são
as principais opções terapêuticas disponíveis?
A escolha do tratamento
primário do cancro de ovário depende de fatores de prognostico incluindo a
presença de critérios de irressecabilidade. Se considerada a abordagem
cirúrgica inicial com cito-redução ótima, é geralmente proposto o tratamento
adjuvante de quimioterapia com dupleto: carboplatino e paclitaxel, 6 ciclos,
com intervalo de 3 semanas cada.
Em casos selecionados, e
avaliados em sede multidisciplinar, pode ser proposta o tratamento primário de
quimioterapia de modo a reduzir o tamanho e a extensão do tumor, aumentando a
probabilidade de cito-redução máxima que constitui o mais forte fator de
prognóstico no cancro do ovário. A menor extensão cirúrgica possibilita também
uma menor morbi/mortalidade peri-operatória. Depois da cirurgia é retomada a
quimioterapia completado o total de 6 ciclos (3 após a cirurgia).
É
importante consciencializar a população e refletir que o cancro do ovário é uma
patologia maligna que tem vindo a aumentar a incidência
No capítulo das terapêuticas
inovadoras encontram-se disponíveis classes de medicamentos como por exemplo os
inibidores da PARP e anti-angiogenicos, cuja eficácia foi comprovada na redução
de risco de recorrência ou progressão da doença. A sua utilização segue
rigorosos critérios e aprovações específicas.
Em caso
de suspeita, a quem é que as mulheres se devem dirigir para procurar ajuda?
É importante consciencializar
a população e refletir que o cancro do ovário é uma patologia maligna que tem
vindo a aumentar a incidência, que pode ser uma doença silenciosa incutindo um
prognostico mais desfavorável, principalmente se diagnosticado em estadios mais
avançados. É importante salientar os sintomas e sinais de alerta para que as
mulheres afetadas possam recorrer a cuidados de saúde independentemente do
local onde vivam ou do estrato socioeconómico a que pertençam. O seu médico de
família deve ser sempre que possível consultado, não obstante da recomendação
de vigilância periódica e regular pelo médico ginecologista.
Fonte: Sapo on-line Saúde
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