Por: Emanuel Guedes
José Serge de Freitas, um
madeirense de 45 anos, escolheu um caminho singular, o da caminhada, para se reconectar
consigo mesmo e com o seu passado. Partindo dos Vosges, caminha todos os dias
em direção a Portugal, numa viagem de mais de 4 meses e 3 dias que terminará a
13 de julho no santuário de Fátima. Esta jornada não é apenas uma provação
física, mas uma busca de significado profundamente marcada por eventos pessoais
e grande motivação.
Um novo
começo após a tempestade
Antes de embarcar nesta
aventura, José Serge de Freitas era dono de um bar. Uma vida que mudou da noite
para o dia. "Minha esposa saiu com um cliente. Depois deste acontecimento,
tomei a decisão de deixar tudo: coloquei o estabelecimento em liquidação e
assumi a guarda do meu filho, o mais novo, de 11 anos", confidenciou ao
LusoJornal enquanto caminhava em direção a Portugal. A necessidade de se
encontrar, de limpar a mente e, acima de tudo, de se reinventar veio à tona.
"Essa aventura foi para refletir, para me encontrar, para começar de
novo", explica ele.
Foi também em crise de saúde
que decidiu empreender esta caminhada: "Queria deixar de fumar. Comecei a
andar." Não foi uma ideia preconcebida, mas sim um impulso que se
transformou em um projeto de vida.
Uma
homenagem em movimento
Seu itinerário França-Portugal
está longe de ser trivial. José Serge de Freitas não escolheu esse caminho ao
acaso. "Conheço muito português, e parte da minha história é marcada por
essa comunidade", explica. Mas esta viagem assume uma dimensão ainda mais
pessoal e emocional. Ele é para sua sobrinha que está doente, que é uma das
poucas pessoas na França a ser acompanhada por um cão de assistência.
"Levo-a comigo em minha mente para ir rezar em Fátima, um lugar simbólico
para todos os portugueses."
Isso não é tudo. José Serge de
Freitas também marcha para honrar a memória de todos os portugueses que, na
década de 1960, deixaram a pé a sua terra natal, na esperança de um futuro
melhor em França. "Esta jornada também é uma homenagem àqueles que nunca
chegaram e que perderam a vida ao longo do caminho", diz ele. É nessa
abordagem que Jorge encontra seu slogan: "Com fé, você pode fazer o que
quiser".
Preparação
meticulosa
Para fazer essa viagem, nada
foi deixado ao acaso. "Pensei no itinerário, mas fui apoiado por uma
equipe de 7 pessoas." Entre eles, pessoas que se encarregaram do clima,
publicidade, mas também médicos especializados – um cardiologista e um pneumologista
– que acompanham seu estado de saúde durante toda a caminhada. Trabalho de
preparação meticuloso, que inclui gerenciamento de fadiga, dias de descanso e
distâncias diárias a serem percorridas. "Decidiram que os meus dias de
folga seriam quarta-feira e domingo e que devia caminhar entre 20 e 25km por
dia", disse ao LusoJornal.
O objetivo é claro: chegar a
Fátima no dia 13 de julho. "Minha família e amigos estarão lá para me
receber", diz ele com orgulho.
Financiamento
de projetos
Financiar essa viagem é um
desafio considerável. José Serge de Freitas pôde contar com o apoio do seu
melhor amigo e da sua "namorada" para o ajudar a angariar um
orçamento entre os 5.000 e os 7.000 euros. O equipamento necessário para tal
viagem é caro, especialmente os sapatos de caminhada, que são essenciais para
atravessar diferentes terrenos em condições muitas vezes difíceis.
No entanto, pode também contar
com a solidariedade da comunidade portuguesa. Ao longo de sua jornada, vários
membros dessa comunidade lhe ofereceram acomodação para pernoitar e, às vezes,
até assistência financeira na forma de doações. "É uma loucura, há uma
espécie de corrente que foi criada, e as pessoas me seguem aos poucos",
explica ele com gratidão.
Objetivos
de José Serge de Freitas
Para além do seu objetivo de
chegar a Fátima, esta viagem incorpora também outras aspirações pessoais. Um
dos seus grandes desejos é assistir ao fogo-de-artifício na Ilha da Madeira, um
evento anual que marca o final do ano na sua ilha natal. Além disso, a partir
de setembro, José Serge de Freitas está planejando um novo começo em sua vida
profissional com o início de um novo emprego. Esta viagem representa, portanto,
uma busca interior e um ponto de virada em direção a um futuro mais sereno e
realizado.
Treinamento
e desafios
A aventura não começa no dia 9
de março, mas um ano antes, em março de 2024, quando José Serge de Freitas
inicia a sua formação. "Era essencial treinar em todas as condições
climáticas. Quando nevava nos Vosges, eu saí, caminhava no frio e na chuva. Foi
uma forma de testar minhas habilidades", explica ele com determinação.
A viagem começou com neve
persistente e, nas últimas duas semanas, ele também enfrentou o vento.
"Tive alguns dias difíceis, mas não tive escolha. Eu tenho que me manter
firme." O trailer que o acompanha, carregado de equipamentos de campismo, medicamentos,
produtos de higiene e roupa, torna-se o seu aliado indispensável. "Ele
substitui a mochila, porque depois de uma operação no ombro esquerdo, eu não
conseguia mais carregar peso dessa maneira. Ela pesa entre 35 e 40
quilos." Ele carrega esse peso todos os dias, em estradas departamentais e
regionais, que muitas vezes não são muito seguras. "Eu coloco minha vida
em perigo todos os dias", ele confidencia, ciente dos riscos que está
correndo.
A fase
final
Para ele, caminhar em direção
a Fátima é mais do que apenas um ato físico. É um ato simbólico, uma viagem
pelo seu passado, suas provações e uma promessa feita àqueles que ama e àqueles
que o inspiraram. Esta jornada é o testemunho de um homem que, a cada passo,
busca se reinventar, encontrar a paz interior e honrar as vidas que o
precederam.
No dia 13 de julho, quando
chegar, estará cercado por sua família e amigos. Mas este momento de celebração
será acima de tudo o de uma vitória pessoal que ele alcançou com fé e
determinação.
Fonte: Luso Jornal (França)
Nenhum comentário:
Postar um comentário