quarta-feira, 16 de abril de 2025

“José Serge de Freitas: Uma viagem a pé de mais de 4 meses, entre os Vosges e Fátima, um caminho para si mesmo”


Por: Emanuel Guedes

José Serge de Freitas, um madeirense de 45 anos, escolheu um caminho singular, o da caminhada, para se reconectar consigo mesmo e com o seu passado. Partindo dos Vosges, caminha todos os dias em direção a Portugal, numa viagem de mais de 4 meses e 3 dias que terminará a 13 de julho no santuário de Fátima. Esta jornada não é apenas uma provação física, mas uma busca de significado profundamente marcada por eventos pessoais e grande motivação.

 

Um novo começo após a tempestade

 

Antes de embarcar nesta aventura, José Serge de Freitas era dono de um bar. Uma vida que mudou da noite para o dia. "Minha esposa saiu com um cliente. Depois deste acontecimento, tomei a decisão de deixar tudo: coloquei o estabelecimento em liquidação e assumi a guarda do meu filho, o mais novo, de 11 anos", confidenciou ao LusoJornal enquanto caminhava em direção a Portugal. A necessidade de se encontrar, de limpar a mente e, acima de tudo, de se reinventar veio à tona. "Essa aventura foi para refletir, para me encontrar, para começar de novo", explica ele.

Foi também em crise de saúde que decidiu empreender esta caminhada: "Queria deixar de fumar. Comecei a andar." Não foi uma ideia preconcebida, mas sim um impulso que se transformou em um projeto de vida.

 

Uma homenagem em movimento

 

Seu itinerário França-Portugal está longe de ser trivial. José Serge de Freitas não escolheu esse caminho ao acaso. "Conheço muito português, e parte da minha história é marcada por essa comunidade", explica. Mas esta viagem assume uma dimensão ainda mais pessoal e emocional. Ele é para sua sobrinha que está doente, que é uma das poucas pessoas na França a ser acompanhada por um cão de assistência. "Levo-a comigo em minha mente para ir rezar em Fátima, um lugar simbólico para todos os portugueses."

Isso não é tudo. José Serge de Freitas também marcha para honrar a memória de todos os portugueses que, na década de 1960, deixaram a pé a sua terra natal, na esperança de um futuro melhor em França. "Esta jornada também é uma homenagem àqueles que nunca chegaram e que perderam a vida ao longo do caminho", diz ele. É nessa abordagem que Jorge encontra seu slogan: "Com fé, você pode fazer o que quiser".

 

Preparação meticulosa

 

Para fazer essa viagem, nada foi deixado ao acaso. "Pensei no itinerário, mas fui apoiado por uma equipe de 7 pessoas." Entre eles, pessoas que se encarregaram do clima, publicidade, mas também médicos especializados – um cardiologista e um pneumologista – que acompanham seu estado de saúde durante toda a caminhada. Trabalho de preparação meticuloso, que inclui gerenciamento de fadiga, dias de descanso e distâncias diárias a serem percorridas. "Decidiram que os meus dias de folga seriam quarta-feira e domingo e que devia caminhar entre 20 e 25km por dia", disse ao LusoJornal.

O objetivo é claro: chegar a Fátima no dia 13 de julho. "Minha família e amigos estarão lá para me receber", diz ele com orgulho.

 

Financiamento de projetos

 

Financiar essa viagem é um desafio considerável. José Serge de Freitas pôde contar com o apoio do seu melhor amigo e da sua "namorada" para o ajudar a angariar um orçamento entre os 5.000 e os 7.000 euros. O equipamento necessário para tal viagem é caro, especialmente os sapatos de caminhada, que são essenciais para atravessar diferentes terrenos em condições muitas vezes difíceis.

No entanto, pode também contar com a solidariedade da comunidade portuguesa. Ao longo de sua jornada, vários membros dessa comunidade lhe ofereceram acomodação para pernoitar e, às vezes, até assistência financeira na forma de doações. "É uma loucura, há uma espécie de corrente que foi criada, e as pessoas me seguem aos poucos", explica ele com gratidão.

 

Objetivos de José Serge de Freitas

 

Para além do seu objetivo de chegar a Fátima, esta viagem incorpora também outras aspirações pessoais. Um dos seus grandes desejos é assistir ao fogo-de-artifício na Ilha da Madeira, um evento anual que marca o final do ano na sua ilha natal. Além disso, a partir de setembro, José Serge de Freitas está planejando um novo começo em sua vida profissional com o início de um novo emprego. Esta viagem representa, portanto, uma busca interior e um ponto de virada em direção a um futuro mais sereno e realizado.

 

Treinamento e desafios

 

A aventura não começa no dia 9 de março, mas um ano antes, em março de 2024, quando José Serge de Freitas inicia a sua formação. "Era essencial treinar em todas as condições climáticas. Quando nevava nos Vosges, eu saí, caminhava no frio e na chuva. Foi uma forma de testar minhas habilidades", explica ele com determinação.

A viagem começou com neve persistente e, nas últimas duas semanas, ele também enfrentou o vento. "Tive alguns dias difíceis, mas não tive escolha. Eu tenho que me manter firme." O trailer que o acompanha, carregado de equipamentos de campismo, medicamentos, produtos de higiene e roupa, torna-se o seu aliado indispensável. "Ele substitui a mochila, porque depois de uma operação no ombro esquerdo, eu não conseguia mais carregar peso dessa maneira. Ela pesa entre 35 e 40 quilos." Ele carrega esse peso todos os dias, em estradas departamentais e regionais, que muitas vezes não são muito seguras. "Eu coloco minha vida em perigo todos os dias", ele confidencia, ciente dos riscos que está correndo.

 

A fase final

 

Para ele, caminhar em direção a Fátima é mais do que apenas um ato físico. É um ato simbólico, uma viagem pelo seu passado, suas provações e uma promessa feita àqueles que ama e àqueles que o inspiraram. Esta jornada é o testemunho de um homem que, a cada passo, busca se reinventar, encontrar a paz interior e honrar as vidas que o precederam.

No dia 13 de julho, quando chegar, estará cercado por sua família e amigos. Mas este momento de celebração será acima de tudo o de uma vitória pessoal que ele alcançou com fé e determinação.

Fonte: Luso Jornal (França)

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