Por: Margarida Martinho, especialista em Ginecologia e Obstetrícia
Estima-se que os miomas possam
afetar cerca de 80.000 mulheres em Portugal. Falámos com a médica Margarida
Martinho, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, sobre este tipo de tumores
O que são
miomas uterinos e porque surgem?
Os leiomiomas uterinos (também
chamados miomas e fibromiomas) são um tumor benigno que resulta de um
crescimento e proliferação localizada das células musculares lisas do musculo
uterino, o miométrio, rodeadas por uma pseudocápsula de fibras musculares normais
comprimidas.
Na sua origem estão envolvidos
fatores genéticos, hormonais e de crescimento. Estudos mostram que em cerca de
40% dos miomas apresentam anomalias nos cromossomas das suas células
(translocações, deleções e trissomias) e sugerem que cada mioma surge de uma
única célula de músculo liso. Também foi demostrado que as hormonas femininas
como os estrogénios e a progesterona assim como outras substâncias produzidas
pelas células musculares lisas e outras células do miométrio e designadas como
fatores de crescimento promovem o crescimento dos miomas
Quais são
os sinais e sintomas mais comuns dos miomas uterinos que as mulheres devem
estar atentas?
Os miomas uterinos habitualmente não se associam a sintomas, mas em 30-40% dos casos podem manifestar-se por sintomatologia dependente da localização e dimensões dos nódulos. Os sintomas mais graves são as hemorragias uterinas anormais que mais frequentemente se traduz por uma menstruação mais intensa em quantidade e duração, a dor pélvica que pode ser intensa, um aumento do volume abdominal e sintomas de compressão dos outros órgãos vizinhos do útero como a bexiga, sendo que as mulheres referem que têm de ir frequentemente urinar e sentem um peso pélvico incomodativo.
Existem
sintomas que são frequentemente ignorados ou subestimados pelas mulheres?
As mulheres com frequência não
valorizam o aumento das suas perdas menstruais assim como os sintomas que se
podem associar, como as dores menstruais e o cansaço progressivo, e também
demoram a valorizar um aumento progressivo do volume abdominal.
É
frequente termos mulheres que desconhecem o seu diagnóstico mesmo tendo
sintomas?
É frequente as mulheres
demorarem a relacionar alguns sintomas, como o cansaço fácil devido á anemia
atribuível às perdas menstruais, assim como o aumento de volume abdominal, com
uma patologia ginecológica nomeadamente com miomas.
Qual é a
prevalência dos miomas uterinos em Portugal? Há grupos etários mais propensos a
desenvolver esta condição?
Estima-se que os miomas possam
afetar cerca de 80 000 mulheres em Portugal. A maior prevalência ocorre durante
a quinta década de vida de uma mulher (pode chegar a 80%), quando podem estar
presentes em uma em cada quatro mulheres brancas e uma em cada duas mulheres
afro-americanas. Apesar de menos frequentes nas mulheres em idade reprodutiva,
podem mesmo assim ter prevalência clinicamente significativa em 20% a 40% em
mulheres entre 35 e 55 anos.
Existem
fatores de risco associados ao desenvolvimento de miomas uterinos?
Os fatores de risco mais
associados ao desenvolvimento de miomas uterinos são a idade, a menarca
precoce, a menopausa tardia, história de miomas em familiares de 1º grau, etnia
afro-americana, obesidade, hipertensão arterial, dieta (carnes vermelhas, álcool,
cafeína) e a nuliparidade.
Os miomas
uterinos podem afetar a vida sexual das mulheres e a sua fertilidade? Se sim,
de que forma?
Os miomas sintomáticos podem
interferir de forma significativa na forma como a mulher vive a sua
sexualidade.
A sua vida sexual passa a ser
frequentemente desconfortável, dolorosa e limitada pelo número de dias em que a
hemorragia vaginal é intensa. Esta situação pode levar muitas mulheres a evitar
ter relações sexuais, com o consequente impacto negativo na sua autoestima,
líbido e satisfação sexual e eventualmente nos seus relacionamentos.
Além dos efeitos diretos na
sexualidade feminina e na vida sexual, os miomas uterinos podem também
perturbar o ciclo reprodutivo e ter implicações na fertilidade, podendo
associar-se a dificuldades em conseguir uma gravidez e aumentando o risco de
aborto espontâneo e de parto prematuro.
Como é
feito o diagnóstico e quais são as principais opções de tratamento disponíveis?
O diagnóstico do mioma assenta
inicialmente na valorização dos sintomas apresentados e pode suspeitar-se logo
no exame ginecológico ao detetar-se um útero volumoso e nodular, mas é pela
ecografia ginecológica que a maioria dos miomas são diagnosticados. Muito mais
raramente e nas situações de dúvida pode ser necessário recorrer a uma
ressonância magnética pélvica.
O tratamento deve ser definido
em função da situação clínica da paciente e considerando a sua idade, mas
sobretudo o seu desejo reprodutivo e em manter o seu útero. Recentemente, os
tratamentos médicos como os estroprogestativos ou progestativos isolados, mas
sobretudo os Análogos da GnRH, os Moduladores Seletivos dos Recetores da
Progesterona (Selective Progesterone Receptors Modulators ou SPERMs) e, ainda
mais recentemente, os antagonistas da GnRH, pela eficácia no controle das
hemorragias uterinas, mas também pelo potencial efeito na diminuição dos miomas
têm assumido um papel importante, podendo mesmo evitar o recurso á cirurgia ou
melhorando as condições pré-operatórias da paciente.
Os antagonistas da GnRH
apresentam a vantagem de serem administrados por via oral, em tratamentos
prolongados e por obviar a alguns dos efeitos secundários associados a outros
similares como os análogos GnRH. O recurso ao tratamento cirúrgico é, ainda assim,
uma opção nas situações em que o tratamento médico não resulta ou a situação
clínica o indica numa decisão que deve ser sempre individualizada e partilhada
com a mulher após um aconselhamento adequado. Os tratamentos cirúrgicos podem
ser preservadores da fertilidade, como a miomectomia, ou mais radicais quando
se opta pela histerectomia total. Seja qual for a opção cirúrgica, devem ser
privilegiadas as técnicas minimamente invasivas como a abordagem laparoscópica
ou histeroscópica.
Margarida Martinho,
especialista em Ginecologia e Obstetrícia, é ainda assistente convidada da
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, assistente graduada em
Ginecologia no Centro Hospitalar Universitário de São João e Vice-Presidente da
Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
Fonte: Sapo on-line
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