Por: José Vieira
Conforme prometido no meu
artigo anterior, hoje falarei da estratégia para se combater este ataque
sistemático que é feito à imprensa regional, desde que somos uma democracia
plena de direitos, ou melhor dizendo, desde o 25 de abril de 1974.
Importa referir para enquadrar
algum histórico de protestos semelhantes, que raras vezes o jornalista ou o
jornalismo saiu à rua e protestou. Isso aconteceu 2 ou 3 vezes, com redações de
jornais nacionais com planos de encerramento/remodelação ou com protestos ao
nível salarial (ordenados em atraso). E estas ações de protesto nunca miraram a
tutela, mas sim as chefias. Importa agora também referir que a imprensa
regional nunca, mas nunca criou ou participou em alguma espécie de protesto
coletivo, que visasse demonstrar a sua insatisfação ao governo.
A função da imprensa regional
é acompanhar o dia a dia do seu povo, divulgando as suas atividades, as suas
alegrias e tristezas, sendo os primeiros a chegar às tragédias que se vivem,
sendo roubados pelos órgãos nacionais nos textos, vídeos e imagens que criam. E
são também os principais veículos de informação da nossa diáspora. Na altura de
se decidirem apoios, são sempre relegados para último e poucas migalhas
conseguem alcançar do repasto dos ricos jornais nacionais.
E chegou a altura de nas
próximas semanas/meses, começarmos a desenhar uma espécie de bloco central
estruturado, que vise informar o governo que a imprensa regional anda aqui há
muitos anos (muito antes do 25 de abril), sempre fez um trabalho extraordinário,
noticiando localmente o que as populações precisam de saber, substituindo-se
aos jornais nacionais que noticiam menos de 1% das realidades regionais. E
quando o fazem são quase sempre notícias de faca e alguidar, que é efetivamente
o que vende e dá “gostos” no Facebook.
Ressalvo que não pretendo com
este artigo incitar a nenhuma ação de protesto que não se enquadre no estrito
respeito pelo direito à integridade física e intelectual, de pessoas e bens,
sempre na defesa de uma ação elevadora e acima de qualquer crítica. Contudo,
precisamos de pensar em soluções mais musculadas, em termos intelectuais, para
passar a ideia de que iremos lutar, doe a quem doer.
Enquadrada que está a
necessidade de lutarmos (pela primeira vez), urge perceber como o podemos
fazer. Já percebemos que não vamos a lado nenhum com esta passividade a que nos
sujeitamos. Então, e partindo do princípio em que nada perderemos, ou não perderemos
mais, pois a continuação deste marasmo vais-nos levar ao fecho das nossas
publicações, só temos a alternativa de lutar, e tudo a ganhar. Já perdemos o
que tínhamos a perder.
E numa primeira ideia, pois
não sou profissional de protesto (que os há), é justo dizer-se que temos
connosco, em cada jornal em que trabalhamos, a espada certa para arrepiar
caminho. A nossa caneta! Há que abrir rúbricas por esta imprensa regional, de norte
a sul do país, e começarmos todos a escrever colunas de opinião que visem
denunciar este plano que está em curso há muito tempo, de apertar o pescoço aos
órgãos de comunicação regionais. Há que divulgar, massivamente, sem medos de
retaliação. Quem nada aufere do poder, nada pode perder. Muitos de nós aguardam
o regresso de São Sebastião, mas ele não volta mais. Morreu, está enterrado e
cabe-nos a nós armarmos os nossos cavaleiros para as batalhas que se avizinham.
Mas escrever artigos a
denunciar esta situação basta? Não, não basta. Há que encontrar uma base de
inteligência, que pode ter como quartel-general uma das associações de imprensa
existentes, ou todas, bastando haver vontade de cooperação entre as existentes,
e a partir daí desenhar outras ferramentas. Não podemos esquecer que a imprensa
regional é líder de audiências em Portugal, se estivermos unidos. Bastam 23%
das publicações regionais para atingirmos 10 milhões de pessoas mais a diáspora
em que somos mais 5 milhões lá fora e onde existem dezenas de órgãos de
comunicação, tutelados por Portugal, equiparados aos nossos jornais regionais,
com as mesmas dificuldades que nós sentimos. Os outros 77% são redundantes. Ou
seja, em suma, temos uma força editorial e uma capacidade de penetração nos
diversos públicos, nacionais e na diáspora, extraordinária, em que os nacionais
só sonham.
Então o que tem corrido mal? A
nossa desunião! Nunca fomos unidos, as nossas associações de imprensa nunca
protagonizaram grandes mudanças ou mesmo tiveram posições de grande força, e
fomos andando, esperando por quem nunca virá, fechando aqui e ali, definhando e
esmorecendo. Ora, isto não tem de ser assim. Pode ser diferente, se tivermos a
coragem de dar força ao setor e participarmos ativamente na construção de uma
força que efetivamente obrigue o governo a olhar para este setor com outros
olhos. Atualmente, a maioria dos nossos representantes associativos limita-se a
ser informado pela tutela das regras/apoios e pouco mais fazem para melhorar as
propostas. Mandam uns e-mails, sugerem a correção de algumas alíneas, fazem
umas reuniões e aceitam passivamente o que lhes é oferecido. Basta. Há que
inverter esta estratégia, há que informar a tutela que acabou o tempo de
andarem a brincar connosco. A brincadeira vai-lhes custar muitas dores de
cabeça, se continuam nesta direção. Podemos e devemos informar os 15 milhões de
portugueses a que teoricamente abrangemos, de que algo de podre se passa nesta
república. Com esta constância noticiosa, informando e formando os nossos
leitores de que a primeira força de defesa da democracia está ameaçada pelos
interesses de alguns escroques e corruptos, podemos começar a inverter esta
tendência de nos quererem subjugar, apertando cada vez mais o cerco e criando
condições de trabalho inatingíveis para a maioria dos nossos órgãos de
comunicação regionais.
O que aí vem nos próximos
meses não é bom, vai delapidar o nosso setor, e vamos, dentro de meia dúzia de
meses, ser cada vez menos. Alguns de nós irão sobreviver porque têm uma
dimensão regional robusta, e vão tomar conta deste setor. Os outros, que têm as
suas quotas de leitores (sendo muitos destes títulos centenários) vão fechar
porque não têm as mínimas condições de permanecer no mercado, com regras tão
apertadas.
Por isso, insto a que todos
nós, colegas de profissão e leitores, se juntem e defendam o jornalismo
regional. Há que fazer um novo 25 de abril. Há que escrever até à última gota
de tinta das nossas canetas e depois, marchar, marchar, marchar…
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