sábado, 13 de julho de 2024

“Cultura: ESCRITOS DE GARCIA LORCA INSPIRAM PRÓXIMO ESPETÁCULO DA "TEMPORADA DARCOS"


Visiones, concerto baseado em escritos de Garcia Lorca, é o próximo espetáculo que será apresentado no âmbito da “Temporada Darcos”. Será levado ao palco do Teatro-Cine de Torres Vedras no próximo dia 19 de julho, pelas 21h30.

“Ciclicamente, somos fustigados por ventos oscilantes, onde as raízes que nos prendem à mundividência parecem soltar-se. Oscilamos, qual barca à deriva, sem norte, sem vento, sem maré. É o caminho da incerteza, de sombras oblíquas, povoado de visões e espetros. Até onde caminhamos?”. Federico García Lorca (1898-1936), figura maior da lírica castelhana do século XX, refletiu na sua obra este sentir inquietante, sendo por essa razão a mesma impregnada de visões poético-musicais de paixão e morte, de premonições, de desenganos, num arrebatamento desconcertante sem paralelo na história da poesia ocidental. Disso é exemplo o Divã de Tamarit, coletânea de 21 poemas escritos durante os verões de 1931 a 34, na Huerta de San Vicente, a casa familiar de veraneio de Lorca, às portas de Granada. Os poemas dessa coletânea dividem-se em 12 gazeis e 9 casidas, formas poéticas da herança árabe granadina (divã é o termo para, justamente, uma coleção de gazeis e casidas).

Visiones, um novo ciclo de canções de Nuno Côrte-Real (1971), em estreia absoluta, parte precisamente de sete poemas do Divã de Garcia Lorca: os gazeis Del amor imprevisto, Del amor desesperado, Del amor maravilloso e Del niño muerto; e as casidas De la mujer tendida; De la muchacha dorada e De las palomas oscuras. Como motivo unificador, em Visiones é interpretado o tema do 1.º andamento do trio op. 97 de Beethoven (1770-1827), uma idée fixe que percorre a atmosfera elegíaca do ciclo de canções apresentado, encerrando-o. Do programa de Visiones fazem ainda parte dois corais de J.S. Bach (1685-1750), pontos de referência no horizonte obscuro da lírica de Lorca, nas palavras de Côrte-Real. São espetros poético-musicais, onde a dignidade, e a sua ausência, amor e morte, vão para além do surrealismo lírico, em jeito de apaziguamento pétreo.

Visiones foi projetado para a voz caleidoscópica de Maria Mendes (1985), figura aclamada do jazz europeu. O concerto será dirigido por Nuno Côrte-Real e levado a cabo pelo grupo Ensemble Darcos, que será constituído na ocasião por: Francisco Lima Santos (violino), Paula Carneiro (violino), Reyes Gallardo (viola), Filipe Quaresma (violoncelo), Domingos Ribeiro (contrabaixo), Sónia Pais (flauta), Marco Fernandes (percussão), Hélder Marques (piano) e Ana Ester Santos (harpa).

 

O programa de Visiones é o seguinte:

 

I. Preludio

II. Del amor maravilloso

II. Del niño muerto

IV. Coral I

V. De la mujer tendida

VI. Del amor desesperado

VII. De las palomas oscuras

VIII. Coral II

IX. De la muchacha dorada

X. Del amor imprevisto

XI. Posludio

O preço dos bilhetes para se assistir a Visiones no Teatro-Cine de Torres Vedras é de cinco euros. O espetáculo será apresentado de novo no dia 20 de julho, pelas 21h30, no Cistermúsica - Festival de Música de Alcobaça.

 

Sobre Maria Mendes

 

Nascida em Portugal e residindo atualmente na Holanda, a cantora e compositora Maria Mendes foi quatro vezes nomeada ao Grammy Americano e Latino pelo seu universo musical vibrante e virtuoso residente na fusão do jazz com outras estéticas diversas. Aclamada pela prestigiante revista de jazz DownBeat como "uma cantora de jazz da mais alta ordem", e com um “futuro promissor” vaticinado por Quincy Jones, viu o seu mais recente trabalho - Saudade, Colour of Love (um casamento perfeito entre o jazz e o fado) - ser eleito melhor álbum de jazz de 2022 pela Downbeat, Jazziz, Jazzthing, Jazzwise e Jazzsism.

Com quatro álbuns a solo, Maria Mendes gravou e colaborou em palco com músicos e orquestras de renome internacional: Metropole Orkest, Anat Cohen, John Beasley e a Brussels Jazz Orchestra. Encantou plateias em contextos como o renomado Concertgebouw e o Bimhuis e os festivais de jazz North Sea e Montreux.

Até à data, Maria Mendes teve a honra de: ser a primeira artista de jazz portuguesa a receber quatro nomeações ao Grammy Americano e Grammy Latino na categoria de Melhor Arranjo Musical; vencer o prémio holandês Edison Jazz em Melhor Álbum Vocal de Jazz com o seu álbum Close to Me; ser convidada por Wayne Shorter e John Beasley para estrear na Alemanha a peça de jazz sinfónica contemporânea Gaia; encabeçar o cartaz do icónico Blue Note Jazz Club de Nova Iorque; e ter a sua canção Inverso (com a participação de Anat Cohen) a integrar a banda sonora da telenovela Ouro Verde, vencedora do Emmy internacional.

Maria Mendes estudou em Nova Iorque, Bruxelas, Porto e Roterdão, tendo nesta última cidade completado o mestrado em Jazz Vocal. Colabora ativamente com as seguintes universidades de música europeias: Codarts, Conservatorium Maastricht, Artez, ESMAE e Universidade Lusíada de Lisboa.

 

Sobre a “Temporada Darcos”

 

A “Temporada Darcos" constitui-se como uma iniciativa singular no panorama musical nacional, na qual se divulga a música clássica segundo as suas diversas abordagens e matizes estilísticas, sendo dirigida pelo compositor e maestro torriense Nuno Côrte-Real. Os espetáculos desta temporada são na sua maioria interpretados pelo grupo Ensemble Darcos, um dos mais prestigiados grupos de música de câmara portugueses da atualidade, o qual é dirigido também por Nuno Côrte-Real e apresenta uma formação que varia consoante o programa de concerto. De realçar que têm participado nos concertos da “Temporada Darcos” aclamados solistas e orquestras nacionais e internacionais, bem como proeminentes figuras do panorama musical nacional como comentadores. Sendo coorganizada pela Câmara Municipal de Torres Vedras e pela Darcos - Associação Cultural, a “Temporada Darcos” tem como ponto de partida o concelho de Torres Vedras. Em 2024 tem a sua 17.ª edição.

Fonte: Câmara Municipal Torres Vedras

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