Visiones, concerto baseado em escritos de Garcia Lorca, é o próximo espetáculo que será apresentado no âmbito da “Temporada Darcos”. Será levado ao palco do Teatro-Cine de Torres Vedras no próximo dia 19 de julho, pelas 21h30.
“Ciclicamente, somos fustigados
por ventos oscilantes, onde as raízes que nos prendem à mundividência parecem
soltar-se. Oscilamos, qual barca à deriva, sem norte, sem vento, sem maré. É o
caminho da incerteza, de sombras oblíquas, povoado de visões e espetros. Até
onde caminhamos?”. Federico García Lorca (1898-1936), figura maior da lírica
castelhana do século XX, refletiu na sua obra este sentir inquietante, sendo
por essa razão a mesma impregnada de visões poético-musicais de paixão e morte,
de premonições, de desenganos, num arrebatamento desconcertante sem paralelo na
história da poesia ocidental. Disso é exemplo o Divã de Tamarit, coletânea de
21 poemas escritos durante os verões de 1931 a 34, na Huerta de San Vicente, a
casa familiar de veraneio de Lorca, às portas de Granada. Os poemas dessa
coletânea dividem-se em 12 gazeis e 9 casidas, formas poéticas da herança árabe
granadina (divã é o termo para, justamente, uma coleção de gazeis e casidas).
Visiones, um novo ciclo de
canções de Nuno Côrte-Real (1971), em estreia absoluta, parte precisamente de
sete poemas do Divã de Garcia Lorca: os gazeis Del amor imprevisto, Del amor
desesperado, Del amor maravilloso e Del niño muerto; e as casidas De la mujer
tendida; De la muchacha dorada e De las palomas oscuras. Como motivo unificador,
em Visiones é interpretado o tema do 1.º andamento do trio op. 97 de Beethoven
(1770-1827), uma idée fixe que percorre a atmosfera elegíaca do ciclo de
canções apresentado, encerrando-o. Do programa de Visiones fazem ainda parte
dois corais de J.S. Bach (1685-1750), pontos de referência no horizonte obscuro
da lírica de Lorca, nas palavras de Côrte-Real. São espetros poético-musicais,
onde a dignidade, e a sua ausência, amor e morte, vão para além do surrealismo
lírico, em jeito de apaziguamento pétreo.
Visiones foi projetado para a
voz caleidoscópica de Maria Mendes (1985), figura aclamada do jazz europeu. O
concerto será dirigido por Nuno Côrte-Real e levado a cabo pelo grupo Ensemble
Darcos, que será constituído na ocasião por: Francisco Lima Santos (violino),
Paula Carneiro (violino), Reyes Gallardo (viola), Filipe Quaresma (violoncelo),
Domingos Ribeiro (contrabaixo), Sónia Pais (flauta), Marco Fernandes
(percussão), Hélder Marques (piano) e Ana Ester Santos (harpa).
O
programa de Visiones é o seguinte:
I. Preludio
II. Del amor maravilloso
II. Del niño muerto
IV. Coral I
V. De la mujer tendida
VI. Del amor desesperado
VII. De las palomas oscuras
VIII. Coral II
IX. De la muchacha dorada
X. Del amor imprevisto
XI. Posludio
O preço dos bilhetes para se
assistir a Visiones no Teatro-Cine de Torres Vedras é de cinco euros. O
espetáculo será apresentado de novo no dia 20 de julho, pelas 21h30, no
Cistermúsica - Festival de Música de Alcobaça.
Sobre
Maria Mendes
Nascida em Portugal e
residindo atualmente na Holanda, a cantora e compositora Maria Mendes foi
quatro vezes nomeada ao Grammy Americano e Latino pelo seu universo musical
vibrante e virtuoso residente na fusão do jazz com outras estéticas diversas.
Aclamada pela prestigiante revista de jazz DownBeat como "uma cantora de
jazz da mais alta ordem", e com um “futuro promissor” vaticinado por
Quincy Jones, viu o seu mais recente trabalho - Saudade, Colour of Love (um
casamento perfeito entre o jazz e o fado) - ser eleito melhor álbum de jazz de
2022 pela Downbeat, Jazziz, Jazzthing, Jazzwise e Jazzsism.
Com quatro álbuns a solo,
Maria Mendes gravou e colaborou em palco com músicos e orquestras de renome
internacional: Metropole Orkest, Anat Cohen, John Beasley e a Brussels Jazz
Orchestra. Encantou plateias em contextos como o renomado Concertgebouw e o
Bimhuis e os festivais de jazz North Sea e Montreux.
Até à data, Maria Mendes teve
a honra de: ser a primeira artista de jazz portuguesa a receber quatro
nomeações ao Grammy Americano e Grammy Latino na categoria de Melhor Arranjo
Musical; vencer o prémio holandês Edison Jazz em Melhor Álbum Vocal de Jazz com
o seu álbum Close to Me; ser convidada por Wayne Shorter e John Beasley para
estrear na Alemanha a peça de jazz sinfónica contemporânea Gaia; encabeçar o
cartaz do icónico Blue Note Jazz Club de Nova Iorque; e ter a sua canção
Inverso (com a participação de Anat Cohen) a integrar a banda sonora da
telenovela Ouro Verde, vencedora do Emmy internacional.
Maria Mendes estudou em Nova
Iorque, Bruxelas, Porto e Roterdão, tendo nesta última cidade completado o
mestrado em Jazz Vocal. Colabora ativamente com as seguintes universidades de
música europeias: Codarts, Conservatorium Maastricht, Artez, ESMAE e
Universidade Lusíada de Lisboa.
Sobre a
“Temporada Darcos”
A “Temporada Darcos"
constitui-se como uma iniciativa singular no panorama musical nacional, na qual
se divulga a música clássica segundo as suas diversas abordagens e matizes
estilísticas, sendo dirigida pelo compositor e maestro torriense Nuno
Côrte-Real. Os espetáculos desta temporada são na sua maioria interpretados
pelo grupo Ensemble Darcos, um dos mais prestigiados grupos de música de câmara
portugueses da atualidade, o qual é dirigido também por Nuno Côrte-Real e
apresenta uma formação que varia consoante o programa de concerto. De realçar
que têm participado nos concertos da “Temporada Darcos” aclamados solistas e
orquestras nacionais e internacionais, bem como proeminentes figuras do
panorama musical nacional como comentadores. Sendo coorganizada pela Câmara
Municipal de Torres Vedras e pela Darcos - Associação Cultural, a “Temporada
Darcos” tem como ponto de partida o concelho de Torres Vedras. Em 2024 tem a
sua 17.ª edição.
Fonte: Câmara Municipal Torres
Vedras
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