segunda-feira, 8 de abril de 2024

“Cultura: Livro lançamento “Memórias de um Futuro Radiante” de José Vieira, na presença do autor”


Por: Dominique Stoenesco

Na sexta-feira, dia 29 de março, na livraria Atout livre, em Paris, teve lugar o lançamento do livro "Memórias de um futuro radiante", de José Vieira, que acaba de ser editado pela Chandeigne, na novíssima coleção Brûle-Frontières.

José Vieira foi mais conhecido como cineasta e realizador, autor de cerca de trinta documentários, entre os quais "Os Emigrantes", "O Maio Engraçado – Crónica dos Anos de Lama", "A Foto Rasgada", "O País Onde Nunca Voltamos", "Gente do Salto", ou o filme "Memórias de um Futuro Radiante" (2014), uma história cruzada de duas favelas que foram construídas com 40 anos de diferença. nos arredores da comuna de Massy, nos subúrbios de Paris: a "Bidonville des Portugais", onde o autor chegou com os pais, em 1965, aos 7 anos, "numa época de crescimento e de futuro brilhante", e a "Favela Roma", formada no início dos anos 2000.

Com o mesmo título do filme "Memórias de um futuro radiante", escrito numa linguagem sensível e poética, comovente e precisa ao mesmo tempo, este primeiro livro de José Vieira revela, inquestionavelmente, um escritor talentoso. Cada uma de suas frases, geralmente curtas, é densa de lembranças e reflexões, e muitas vezes de revolta.

Oscilando entre o passado e o presente, José Vieira percorre na sua história as memórias da sua infância, da sua história pessoal, bem como a da sua família. A transmissão da memória e a luta contra o esquecimento e a exclusão guiam constantemente o autor-narrador em sua busca irredutível não pelo tempo perdido, "mas por aqueles dias em que vivemos despojados de nossa história".

Cinquenta anos depois da cambalhota de 1965, e depois de tomar o Sud-Express com a filha para tentar apagar memórias do seu êxodo, diz-lhe: "Já passaram mais de cinquenta anos desde que viemos. Foi um êxodo que tirou um milhão e meio de pessoas. Foi um repúdio a uma ditadura. Sabe, há momentos em que sair é resistir, é recusar a bagunça que a opressão causa em nossas vidas. Aldeias inteiras se amontoaram antes que a miséria as estrangulasse. As pessoas escaparam para afastar o destino em que se sentiam presas, um país onde nada parecia mais possível. Os jovens abandonaram suas famílias para fugir das guerras coloniais. Eles não estavam procurando um lugar para ganhar a vida, estavam fugindo".

Em "Memórias de um futuro radiante", o autor mistura o seu próprio percurso, aquele em que as pessoas dizem ter dado a cambalhota (saltaram as fronteiras) com o dos migrantes dos nossos dias, "com quem temos uma história comum", diz, e que "forçam as fronteiras a mudar vidas", os que vêm de África e que dizem ter "queimado as fronteiras".

No seu conteúdo, "Memórias de um Futuro Brilhante" não é apenas um testemunho pessoal, mas também um grito de revolta e indignação contra a injustiça, o racismo e a miséria em que ainda hoje vivem milhares de famílias de imigrantes. E por sua forma, este texto ressoa como uma narrativa poética em várias vozes, comovente e lúcida ao mesmo tempo.

Fonte: Luso Jornal (França)

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