Por: Alexandra Jorge
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A ginecologista e cofundadora
da MS Medical Institutes, Mónica Gomes Ferreira, destaca a importância do
diagnóstico precoce e do acompanhamento personalizado em condições como a
endometriose e a transição para a menopausa. Nesta entrevista, aborda desde o
uso do diário de sintomas até tratamentos hormonais, cirúrgicos e de suporte,
sublinhando cuidados essenciais para a saúde integral da mulher ao longo das
diferentes fases da vida.
Considerando que o cancro da
mama afeta cerca de 9.000 mulheres por ano em Portugal, que sinais iniciais
além do autoexame devem ser observados e com que frequência cada mulher deve
discutir estas alterações com o seu médico de família?
Além do autoexame mamário,
existem outros sinais de alerta que devem ser cuidadosamente vigiados. Entre
eles, destacam-se: alterações no tamanho ou forma da mama, presença de nódulos
palpáveis a nível da mama ou axilares (mesmo que indolores), alterações na pele
(como vermelhidão, ondulações ou aspeto de “casca de laranja”), retração do
mamilo, secreção mamilar (sobretudo se com sangue) e dor persistente
localizada.
É importante reforçar que nem
todos os sinais indicam necessariamente a presença de cancro, mas qualquer
alteração suspeita deve ser avaliada por um profissional de saúde.
A frequência com que uma
mulher deve discutir estas alterações com o seu médico de família depende da
sua idade, historial pessoal e familiar. De forma geral, recomenda-se que
qualquer mulher a partir dos 20 anos esteja atenta ao seu corpo e que, pelo menos
uma vez por ano, partilhe com o seu médico de família qualquer alteração
detetada ou dúvida relacionada com a sua saúde mamária. A partir dos 40 anos —
ou antes, caso haja fatores de risco — o rastreio mamográfico bienal
recomendado pelo Programa Nacional de Rastreio do Cancro da Mama torna-se
também fundamental.
A vigilância regular e o
diálogo aberto com o médico são aliados essenciais na deteção precoce,
aumentando significativamente as hipóteses de sucesso no tratamento.
A Síndrome dos Ovários
Policísticos (SOP) manifesta-se frequentemente por ciclos menstruais
irregulares e excesso de hormonas androgénicas. Que outros sintomas menos
óbvios como alterações de humor ou cansaço persistente devem levar a mulher a
pedir uma avaliação hormonal?
Para além dos sintomas mais
conhecidos da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), como os ciclos
menstruais irregulares, acne persistente, aumento de pelos corporais
(hirsutismo) e dificuldade em engravidar, existem sinais menos óbvios que
também merecem atenção e podem justificar uma avaliação hormonal. Entre estes
sinais destacam-se as alterações de humor, incluindo ansiedade, irritabilidade
ou mesmo sintomas depressivos; o cansaço persistente, que ocorre mesmo após um
descanso adequado; a dificuldade em perder peso ou o ganho de peso inexplicado,
especialmente na zona abdominal; a queda de cabelo ou o enfraquecimento
capilar; os distúrbios do sono, como insónias ou sono não reparador; e ainda o
desejo sexual diminuído, por vezes relacionado com desequilíbrios hormonais.
Estes sintomas, quando
persistentes ou associados a alterações no ciclo menstrual, devem ser
valorizados. Muitas vezes, são desvalorizados ou atribuídos ao stress, mas
podem refletir alterações hormonais que interferem não só com a saúde
reprodutiva, mas também com o bem-estar geral.
É fundamental que qualquer
mulher que experiencie estes sinais procure o seu ginecologista. Um diagnóstico
precoce permite uma abordagem mais eficaz, ajudando a prevenir complicações a
longo prazo, como a resistência à insulina ou o risco aumentado de diabetes
tipo 2.
O diagnóstico da Síndrome dos
Ovários Policísticos (SOP) baseia-se numa combinação de avaliação clínica,
exames de imagem e análises laboratoriais.
Em que consistem os principais
exames e análises laboratoriais para confirmar o diagnóstico de SOP?
O diagnóstico da Síndrome dos
Ovários Policísticos (SOP) baseia-se numa combinação de avaliação clínica,
exames de imagem e análises laboratoriais. Os critérios mais utilizados para
confirmar o diagnóstico são os critérios de Rotterdam, que exigem pelo menos
dois dos seguintes três sinais: ciclos menstruais irregulares ou ausência de
menstruação, o que indica disfunção ovulatória; presença de quistos nos ovários
identificados por ecografia pélvica, geralmente múltiplos pequenos folículos
dispostos na periferia do ovário; e sinais clínicos ou laboratoriais de excesso
de androgénios, como acne, hirsutismo ou níveis elevados de testosterona.
Entre os exames e análises
mais comuns contam-se a ecografia transvaginal ou pélvica, que permite observar
a morfologia dos ovários, e as análises hormonais, que incluem a medição da
testosterona total e livre, dos níveis de LH e FSH e da sua relação, da
prolactina, do TSH para excluir alterações da tiroide, bem como da 17-OH
progesterona para descartar outras patologias. Além disso, é importante a
avaliação da resistência à insulina através da medição da glicemia, insulina e
do índice HOMA-IR, assim como a análise do perfil lipídico e da função
hepática, dependendo do quadro clínico apresentado.
Para além da medicação, que
mudanças no estilo de vida (alimentação, exercício, sono) se mostram mais
eficazes no controlo dos sintomas da SOP?
Para além da medicação, as
mudanças no estilo de vida são um pilar essencial no controlo da Síndrome dos
Ovários Policísticos (SOP), especialmente em casos associados a resistência à
insulina ou excesso de peso. Pequenas alterações consistentes podem ter um
impacto significativo nos sintomas e na qualidade de vida.
No que diz respeito à
alimentação, recomenda-se optar por uma dieta anti-inflamatória e de baixo
índice glicémico, rica em legumes, fruta fresca, cereais integrais,
leguminosas, frutos secos e gorduras saudáveis, como o azeite e o abacate. É
igualmente importante reduzir o consumo de açúcares refinados, bebidas
açucaradas e alimentos ultraprocessados, que podem agravar a resistência à
insulina. Deve-se dar prioridade a fontes de proteína magra — como peixe, ovos,
tofu ou frango — e a hidratos de carbono complexos, assim como fracionar as
refeições ao longo do dia para manter os níveis de energia estáveis.
No que toca ao exercício
físico, a prática regular de atividade moderada a intensa, como caminhadas
rápidas, natação, corrida ou treino de força, pelo menos 150 minutos por
semana, ajuda a regular o ciclo menstrual, melhorar a sensibilidade à insulina
e promover o bem-estar psicológico. O treino de resistência, como musculação ou
pilates, também se tem mostrado eficaz no equilíbrio hormonal.
A qualidade do sono é outro
fator determinante. Dormir entre sete a nove horas por noite, com horários
regulares, é fundamental, pois o sono insuficiente ou irregular pode agravar
desequilíbrios hormonais e aumentar os níveis de stress. Para promover um sono
reparador, recomenda-se evitar o uso de ecrãs antes de dormir, reduzir a
cafeína ao final do dia e criar um ambiente calmo e escuro no quarto
estratégias simples, mas eficazes.
Por fim, a gestão do stresse
desempenha um papel importante. Técnicas como meditação, ioga, respiração
consciente ou terapia psicológica podem ajudar a controlar sintomas como
ansiedade, irritabilidade ou cansaço persistente, frequentemente associados à SOP.
Estas mudanças não substituem
o acompanhamento médico, mas são fundamentais para potenciar os efeitos da
medicação e promover um equilíbrio hormonal mais estável. A chave está na
consistência e na adaptação das rotinas ao estilo de vida de cada mulher.
A endometriose afeta uma em
cada dez mulheres em idade reprodutiva, mas o atraso até ao diagnóstico pode
chegar a oito anos. Que sintomas cíclicos — como dores fortes durante a
menstruação ou desconforto ao urinar — devem ser valorizados e anotados num diário
de sintomas?
Dados apontam para que a
endometriose afete 10% das mulheres em idade reprodutiva e, dessa percentagem,
estima-se que 30 a 50% venha a sofrer algum tipo de infertilidade. Trata-se de
uma doença inflamatória crónica, que se caracteriza por um crescimento anormal
do tecido endometrial fora do útero. A endometriose é muitas vezes
subdiagnosticada, sendo um dos principais desafios precisamente a normalização
dos sintomas — como as “dores menstruais” — que, quando intensas ou
incapacitantes, não devem ser ignorados.
Anotar os sintomas num diário
é uma ferramenta útil tanto para a mulher como para os profissionais de saúde,
ajudando a identificar padrões e encurtar o caminho até ao diagnóstico.
Entre os sintomas cíclicos que
devem ser valorizados e registados incluem-se dores menstruais intensas
(dismenorreia) que interferem com a rotina diária e não aliviam com analgésicos
comuns; dor pélvica crónica, mesmo fora do período menstrual; dor durante as
relações sexuais (dispareunia), especialmente em posições mais profundas; dor
ou desconforto ao urinar ou evacuar, sobretudo durante a menstruação;
menstruação abundante ou irregular; inchaço abdominal por vezes descrito como
“barriga de grávida” e alterações intestinais cíclicas, como obstipação ou
diarreia; fadiga inexplicável, especialmente nos dias que antecedem a
menstruação; e dificuldade em engravidar, que pode ser o primeiro sinal em
alguns casos.
Dados apontam para que a
endometriose afete 10% das mulheres em idade reprodutiva e, dessa percentagem,
estima-se que 30 a 50% venha a sofrer algum tipo de infertilidade.
Como se deve usar o diário de
sintomas?
No diário de sintomas deve
anotar-se diariamente os níveis de dor (numa escala de zero a dez), a sua
localização, duração e qualquer sintoma gastrointestinal ou urinário. Deve
também ser registado o ciclo menstrual, incluindo início, duração e intensidade
do fluxo, bem como alterações de humor, energia ou sono. A toma de medicação e
a eficácia dos tratamentos utilizados — ou a ausência de alívio — são
igualmente dados importantes a registar.
Este diário pode ser mantido
num caderno, numa aplicação móvel ou em formato digital, e deve ser partilhado
nas consultas médicas. Permite documentar o impacto real da doença e constitui
um aliado na obtenção de um diagnóstico mais rápido e preciso.
A dor intensa não deve ser
considerada “normal” só por ocorrer durante a menstruação.
Que opções de tratamento
existem hoje para a endometriose?
O tratamento da endometriose
deve ser sempre personalizado, tendo em conta a gravidade dos sintomas, a
localização das lesões, o desejo de engravidar e o impacto da doença no
bem-estar físico e emocional da mulher. Hoje, existem diversas opções — hormonais,
cirúrgicas e de suporte — que podem ser combinadas para alcançar um controlo
eficaz dos sintomas.
No âmbito do tratamento
hormonal, o objetivo é suprimir o ciclo menstrual e, com isso, travar o
crescimento dos focos de endometriose. Entre as opções mais comuns encontram-se
as pílulas combinadas (com estrogénio e progestativo) ou apenas com progestativo,
o dispositivo intrauterino (DIU) com libertação hormonal, e as injeções de
análogos da GnRH, embora estas últimas tenham um uso mais limitado, pois
provocam efeitos de menopausa temporária.
Os principais benefícios deste
tipo de tratamento incluem a eficácia na redução da dor, o facto de ser não
invasivo e de existirem opções com poucos efeitos secundários. No entanto,
também apresenta desvantagens: pode causar efeitos colaterais como alterações
de humor, retenção de líquidos ou diminuição da libido; não elimina as lesões
existentes; nem todas as mulheres toleram bem a terapêutica hormonal; e não é
indicado quando há desejo imediato de engravidar.
Já o tratamento cirúrgico tem
como objetivo remover ou destruir os focos de endometriose, libertar aderências
e restaurar a anatomia pélvica. A técnica principal é a laparoscopia, uma
cirurgia minimamente invasiva que permite tratar a doença e confirmar o
diagnóstico. Em alguns casos, pode recorrer-se à cirurgia robótica assistida —
uma tecnologia avançada que permite ao cirurgião operar com maior precisão,
flexibilidade e visualização tridimensional, sendo especialmente útil em casos
de endometriose profunda ou com envolvimento de órgãos delicados, como a bexiga
ou o intestino. Os benefícios desta abordagem incluem a possibilidade de
proporcionar alívio significativo e duradouro da dor, a melhoria da fertilidade
em alguns casos, e a remoção de lesões profundas que não respondem à
terapêutica médica. Contudo, trata-se de um procedimento invasivo com riscos
associados (ainda que baixos), há possibilidade de recidiva dos sintomas, e
pode ser necessário mais do que uma cirurgia ao longo da vida.
Para além dos tratamentos
médicos, existem ainda terapias de suporte que podem complementar a abordagem
clínica. Estas incluem fisioterapia pélvica, psicoterapia ou apoio emocional,
nutrição funcional com base numa dieta anti-inflamatória, acupunctura e técnicas
de relaxamento. Estas terapias promovem o bem-estar global, ajudam a lidar com
o impacto físico e emocional da doença e complementam eficazmente os
tratamentos convencionais. No entanto, requerem compromisso e continuidade, e
nem sempre estão acessíveis nos cuidados de saúde públicos.
Como decidir a melhor
abordagem?
Decidir a melhor abordagem
depende de múltiplos fatores. Cada mulher é diferente e o tratamento ideal deve
respeitar a sua história, objetivos e qualidade de vida. Uma decisão partilhada
com o médico, baseada em informação clara e atualizada, é essencial. Avaliar os
riscos e benefícios, fazer perguntas, partilhar expectativas e manter um
acompanhamento regular são passos fundamentais para viver melhor com a
endometriose.
Na transição para a menopausa,
que diferenças há entre sintomas naturais (irregularidade dos ciclos,
afrontamentos) e sinais que podem indicar doenças associadas (osteoporose,
distúrbios cardiovasculares)?
A transição para a menopausa —
chamada perimenopausa — é um período natural na vida da mulher, mas pode
levantar dúvidas importantes sobre o que é esperado e o que pode sinalizar uma
doença. Saber distinguir os sintomas típicos da menopausa de sinais de possíveis
problemas de saúde associados é essencial para garantir um envelhecimento
saudável e com qualidade de vida.
Os sintomas naturais da
transição para a menopausa decorrem das flutuações e da queda progressiva dos
estrogénios e são, em grande parte, considerados normais. Entre os mais
frequentes encontram-se a irregularidade dos ciclos menstruais, que se tornam
mais espaçados ou imprevisíveis; os afrontamentos (ondas de calor) e os suores
noturnos; as alterações de humor, como ansiedade, irritabilidade ou uma maior
sensibilidade emocional; as perturbações do sono; a secura vaginal e o
consequente desconforto nas relações sexuais; bem como alguma dificuldade de
concentração ou lapsos de memória ligeiros. Estes sintomas podem ser incómodos,
mas geralmente não indicam qualquer doença e tendem a estabilizar após a
menopausa, definida como 12 meses consecutivos sem menstruação.
Contudo, durante esta fase, o
risco de certas doenças aumenta, muitas vezes de forma silenciosa, e alguns
sinais devem ser valorizados, pois podem indicar problemas como osteoporose ou
doença cardiovascular — duas das principais preocupações no período pós-menopausa.
No caso da osteoporose ou fragilidade óssea, os sinais de alerta incluem perda
de altura visível ou postura curvada, dores ósseas ou fraturas após traumas
ligeiros (como quedas da própria altura), histórico familiar de osteoporose,
sedentarismo, dieta pobre em cálcio e vitamina D, ou uso prolongado de
corticoides. Já os sinais de risco cardiovascular incluem palpitações
frequentes, falta de ar ao esforço ou dores no peito, alterações súbitas na
pressão arterial ou colesterol elevado, ganho de peso abdominal sem causa
aparente, bem como cansaço persistente ou intolerância ao esforço físico.
Perante este cenário, é
essencial manter um acompanhamento regular com o ginecologista. Este
acompanhamento pode incluir a avaliação do risco cardiovascular e
osteoarticular, a realização de exames de sangue, densitometria óssea ou
ecocardiograma, conforme indicado, e a discussão sobre terapias hormonais ou
não hormonais para alívio dos sintomas. Paralelamente, é fundamental promover
um estilo de vida saudável, que integre uma alimentação equilibrada, a prática
regular de exercício físico, o controlo do stress e um sono de qualidade.
A menopausa não é uma doença,
mas sim uma etapa de transição e pode ser vivida com bem-estar se acompanhada
com atenção, informação e cuidado preventivo.
A transição para a
menopausa chamada perimenopausa é um
período natural na vida da mulher, mas pode levantar dúvidas importantes sobre
o que é esperado e o que pode sinalizar uma doença.
Que marcadores de saúde como
densidade óssea, perfil lipídico e níveis hormonais devem ser avaliados
regularmente a partir dos 45 anos, e com que periodicidade?
A partir dos 45 anos, o corpo
feminino entra numa fase de transição marcada por alterações hormonais,
metabólicas e ósseas. É, por isso, uma altura-chave para intensificar a
vigilância de certos marcadores de saúde, mesmo que não existam sintomas. A
deteção precoce de alterações permite adotar medidas preventivas que reduzem
significativamente o risco de doenças cardiovasculares, osteoporose e outras
condições associadas à menopausa.
Existem vários marcadores de
saúde que devem ser monitorizados regularmente a partir dos 45 anos,
especialmente em mulheres, devido às alterações fisiológicas e hormonais que
ocorrem nesta fase da vida. Entre os principais destaca-se a densidade óssea, avaliada
através da densitometria óssea. Este exame permite avaliar o risco de
osteoporose e fraturas e deve ser realizado a partir dos 50 anos, ou mais cedo
(aos 45) se existirem fatores de risco como menopausa precoce, histórico
familiar, sedentarismo, tabagismo, baixo índice de massa corporal (IMC) ou uso
prolongado de corticoides. A sua repetição deve ocorrer a cada 2 a 5 anos,
dependendo do resultado inicial e do risco individual.
Outro marcador importante é o
perfil lipídico, que inclui a medição do colesterol total, LDL, HDL e
triglicerídeos. Esta avaliação é fundamental para determinar o risco
cardiovascular, o qual aumenta após a menopausa devido à queda dos estrogénios.
A vigilância deve iniciar-se a partir dos 45 anos, ou mais cedo em caso de
histórico familiar ou outros fatores de risco, sendo recomendável repetir
anualmente ou conforme orientação médica, caso haja alterações.
Também a glicemia em jejum e a
hemoglobina glicada devem ser vigiadas, uma vez que permitem a deteção precoce
de pré-diabetes ou diabetes tipo 2. A partir dos 45 anos, especialmente em
mulheres com excesso de peso, sedentarismo ou histórico familiar da doença,
estes parâmetros devem ser avaliados com uma frequência de um a três anos.
A função tiroideia, avaliada
através dos níveis de TSH e T4 livre, é outro aspeto a ter em conta, dado que
os problemas da tiroide como o hipotiroidismo são mais frequentes em mulheres
após os 45 anos. A primeira avaliação deve ocorrer entre os 45 e os 50 anos, ou
antes se existirem sintomas como fadiga, alterações de peso ou irregularidades
menstruais. A repetição dependerá dos resultados e da presença de sintomas,
sendo geralmente feita a cada um a três anos.
Os níveis hormonais sexuais,
nomeadamente FSH, LH, estradiol e progesterona, ajudam a compreender a
transição para a menopausa e podem ser úteis para explicar sintomas como ciclos
irregulares, afrontamentos ou alterações de humor. A sua medição deve ser considerada
quando há suspeita de perimenopausa ou menopausa precoce, embora não seja
necessário repetir estes exames com frequência, exceto em contextos clínicos
específicos.
Por fim, é fundamental
monitorizar a pressão arterial e o índice de massa corporal (IMC), dois
marcadores-chave no risco cardiovascular e metabólico. Devem ser avaliados em
todas as consultas de rotina a partir dos 45 anos.
Aos 45 anos, não se trata
apenas de tratar sintomas — é tempo de apostar na prevenção. Um plano de
vigilância adaptado, feito em conjunto com o médico de família ou
ginecologista, é essencial para garantir um envelhecimento saudável, ativo e
informado
O líquen escleroso vulvar
apresenta sintomas muitas vezes discretos, como prurido persistente e pele mais
clara. Como podem as mulheres distinguir estes sinais de simples irritações e
quando devem fotografar ou anotar alterações para mostrar ao especialista?
O líquen escleroso vulvar pode
manifestar-se de forma subtil, com sintomas como prurido persistente e
alteração da cor da pele, que pode ficar mais clara. Para as mulheres, pode ser
difícil distinguir estes sinais de irritações comuns. No entanto, se o prurido
não desaparecer com cuidados básicos de higiene, se notar alterações na textura
ou cor da pele, ou se surgirem fissuras, dores ou desconforto ao urinar ou
durante as relações sexuais, é importante estar atenta. Nestes casos, é
recomendável tirar fotografias regulares das áreas afetadas ou anotar as
alterações observadas para apresentar ao especialista numa consulta. Isto ajuda
a monitorizar a evolução e a obter um diagnóstico mais rápido e preciso.
Que percursos de tratamento tópico ou
sistémico estão disponíveis para o líquen escleroso, e que cuidados de higiene
e vestuário podem reduzir a sintomatologia diária?
Como ginecologista na MS
Medical Institutes, gostaria de realçar que o tratamento do líquen escleroso
vulvar deve ser individualizado, combinando abordagens tópicas e, quando
necessário, sistémicas. O tratamento tópico baseia-se habitualmente em corticosteroides
potentes, sempre que exista um momento de crise, que ajudam a reduzir a
inflamação e o prurido. Contudo, além destes, temos vindo a apostar cada vez
mais em terapias regenerativas, que promovem a reparação da pele e o
restabelecimento da sua funcionalidade, oferecendo uma alternativa ou
complemento aos tratamentos tradicionais.
No que respeita aos cuidados
diários, é fundamental manter uma higiene suave, utilizando produtos sem
perfume e específicos para a zona íntima, evitando lavagens vaginais
agressivas. O vestuário não deve ser apertado, preferencialmente de algodão,
para permitir a respiração da pele e evitar o contacto com tecidos sintéticos
que podem agravar a irritação.
Na MS Medical Institutes,
dispomos de tecnologias avançadas para tratamentos regenerativos, como a
terapia com plasma rico em plaquetas (PRP), radiofrequência, laser e outros
métodos que estimulam a regeneração dos tecidos, ajudando a melhorar os sintomas
e a qualidade de vida das pacientes.
Recomendo que todas as
mulheres com sintomas persistentes procurem avaliação especializada para que
possamos definir o melhor plano de tratamento personalizado.
O líquen escleroso vulvar pode
manifestar-se de forma subtil, com sintomas como prurido persistente e
alteração da cor da pele, que pode ficar mais clara.
Que conselhos práticos daria a
cada leitora para incorporar, na sua rotina, hábitos de autocuidado que
estimulem a deteção precoce (autoexame, consulta anual) e promovam o bem-estar
integral?
Primeiro, acredito que tudo
passa pela prevenção. Infelizmente, a vida hoje é tão cheia, tão acelerada que
não há tempo para pararmos, para pensarmos, anteciparmos e prevenirmos aquilo
que ainda é possível fazer. Claro que não há receitas milagrosas que evitem o
aparecimento de doenças, contudo, se apostarmos na prevenção com consultas e
exames regulares e se mantivermos um estilo de vida saudável, vamos estar mais
atentos a eventuais sinais de alerta. Além disso, quanto mais cedo detetarmos
os sinais e atuarmos, maior a probabilidade de sucesso.
Posto isto, e partindo do
princípio da prevenção, o meu conselho é que cada uma de nós cuide de si, tal
como cuida dos outros, sobretudo dos filhos. Que se priorize, que se valorize,
porque de nada vale cuidarmos bem dos outros, se depois não estivermos cá, com
saúde, para os acompanhar na sua jornada. Porque não criar uma rotina nossa de
autocuidado. Tal como levamos os nossos filhos às consultas anuais, também
devemos ter a nossa própria rotina. Ter um check upanual, sempre no início do
ano, por exemplo, ou no mês de aniversário, porque assim não há desculpas para
nos perdermos no tempo. Criar rotinas realistas, com, por exemplo, três dias de
exercício por semana, criar hábitos simples e saudáveis, como beber 1 litro e
meio de água por dia, privilegiar legumes e frutas na alimentação, tirar todas
as semanas algumas horas para nós, para fazer algo por nós. Pequenos gestos,
que fazemos diariamente pelos outros e que deixamos de fazer por nós. E
acreditem que priorizarmo-nos não é
egoísmo, é um ato de amor para connosco e para com os que nos rodeiam.
Fonte: Sapo on-line Saúde
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