Por: Emanuel Guedes
Depois de mais de quatro meses
de caminhada, 1.906 quilómetros percorridos e um reboque de quase 40 quilos
rebocado nas estradas, José Serge de Freitas chegou finalmente a Fátima no dia
13 de julho. Ao sair dos Vosges, este luso-francês de 46 anos embarcou num
desafio que é tão físico quanto pessoal: uma viagem a pé para se reconstruir,
virar uma página difícil e homenagear tanto a sobrinha como o português que, na
década de 1960, tomou o caminho para chegar a França.
Apoiado por uma equipa
dedicada e acompanhado pela sua família e seguidores nas redes sociais,
enfrentou o frio, a chuva, as colinas íngremes e o inesperado, carregado pela
fé e determinação.
Hoje, quando a aventura ficou
para trás, ele olha para trás conosco em sua jornada, suas emoções e seus
planos para o futuro.
Agora que
chegou a Fátima, como se sente?
Após esta longa viagem, pude
desfrutar de uma curta estadia em Portugal. Mas então, o retorno à realidade
foi complicado. De um dia para o outro, tudo para: não há mais reuniões diárias,
não há mais momentos compartilhados na estrada. Encontrei-me um pouco perdido,
sem contato humano direto, mesmo que eu mantenha trocas nas redes sociais.
Também tive alguns problemas de concentração: por exemplo, estava assistindo a
um filme na TV, mas não conseguia acompanhar a história. E então, às vezes
perco a noção da hora e das datas.
Que
recordações tem da sua chegada a Fátima?
Em 13 de julho, quando
cheguei, não fiz nada além de chorar. Eu era como uma criança, dominada pela
emoção. Encontrei meu filho, meus amigos, mas também pessoas que eu não
conhecia, que vieram expressamente para me receber. Alguns fizeram a viagem de
Paris ou mesmo da Alsácia. Tiramos fotos, eu estava em uma bolha, como se nada
mais existisse ao meu redor. Olhei para o céu, para a igreja do Santuário de
Nossa Senhora de Fátima... O padre abençoou o meu trailer, que ficou no Museu
de Fátima, e recebi um certificado por esta doação. As boas-vindas foram
incríveis, calorosas e sinceras.
Qual é a
sua avaliação desta aventura?
É uma experiência
extraordinária. Os quatro meses de caminhada me ensinaram muito, mesmo que
algumas etapas tenham sido mais difíceis. As cinco semanas que passei na
Espanha foram as mais difíceis, principalmente por causa da barreira do idioma:
no começo, estava tudo bem, mas quanto mais eu avançava, mais complicado se
tornava me comunicar. Foi aí que perdi mais peso.
Quais
encontros mais te marcaram?
Houve muitos, mas dois em
particular permanecerão gravados em minha memória. O primeiro, na França: um
cavalheiro, Christophe Emanuel. Passei em frente à casa dele e ele me convidou
para fazer um churrasco, pois eu havia mencionado nas redes meu desejo de comer
um. Acabamos passando um fim de semana inteiro à mesa! E meus amigos me
surpreenderam ao se juntarem a mim lá com meu filho. O segundo é um casal de
portugueses, Maria e Francisco. Eles viajaram 160 km para me buscar, depois me
trouxeram de volta no dia seguinte ao lugar exato onde eu havia parado minha
caminhada. Mantemos contato e, a cada ligação, temos lágrimas nos olhos. São
pessoas com grandes corações.
O que
você guarda dessa experiência, além das memórias?
Aprendi a cheirar as coisas
enquanto caminhava, o que você não faz quando dirige. Também fiquei emocionado
com a generosidade das pessoas. Um dia, uma senhora que eu não conhecia parou
apenas para me oferecer croissants. Fisicamente, ainda tenho algumas sequelas:
minhas pernas ainda doem, mas continuo andando um pouco para evitar lesões. Meu
sono mudou: tenho mais dificuldade em adormecer. E até dirigir ficou diferente,
como se meu ritmo tivesse mudado.
Essa
aventura mudou sua visão do futuro?
Sim, completamente. Quando
você caminha tanto, você tem tempo para pensar... E eu nunca pensei tanto na
minha vida. Antes, tinha pressa em mudar-me para Portugal. Hoje, não tenho
pressa: não me apresso mais. Eu peso minhas decisões, analiso as coisas. Essa
caminhada me ensinou a contemporizar, a seguir em frente de maneira diferente.
Hoje, uma nova vida está começando. Começo um novo emprego no dia 1º de
setembro graças a um assinante que acompanhou minha aventura.
Você ainda quer ir em
uma aventura novamente?
Sim, esse desejo permanece.
Talvez não imediatamente, mas há dias em que ela volta mais forte. Às vezes
tenho esse impulso de voltar à estrada. Mas acho que seria em um formato mais
curto, quinze dias ou um mês, não quatro meses como desta vez.
Há mais
alguma coisa que você gostaria de acrescentar?
Sim. Gostaria de agradecer
sinceramente a todas as pessoas que me acolheram, acompanharam e apoiaram ao
longo desta jornada. Obrigado à minha família, meus filhos e todos os
assinantes que vieram caminhar comigo em alguns dos palcos. Esses momentos
compartilhados me permitiram me sentir menos sozinho no caminho e os guardo em
minha memória.
Fonte: Luso Jornal/França
(parceria)
Nenhum comentário:
Postar um comentário