Dunquerque deu as boas-vindas a 40 dos maiores iates do mundo de várias nações como parte das Tall Ships Races 2025 de 10 a 13 de julho
Por: António Marrucho
Entre os grandes, outros
menores, um português, o Vera Cruz, que como os outros barcos pararam em Le
Havre entre 4 e 7 de julho, atualmente está a caminho de Aberdeen onde os
barcos serão visíveis entre 19 e 22 de julho, antes de chegar a Kristiansand entre
30 de julho e 2 de agosto, terminando o épico em Esbjerg, Dinamarca, entre 6 e
9 de agosto.
Numa visita esta manhã de
domingo, assistimos à sucessão da equipa juvenil da Vera Cruz, sendo uma das
razões da existência desta caravela promover o sabor do mar aos jovens, ao
mesmo tempo que incutir espírito de equipa, entreajuda, missão a cumprir, a descobrir-se,
a sentir-se responsável por uma tarefa... a equipe deixou Le Havre dando lugar
a outra equipa de jovens que vieram de Portugal para navegar para o próximo
ancoradouro na Escócia. Os jovens se abraçaram, cantaram. À hora da nossa
visita, aproximava-se a hora de almoço, pairava o bom cheiro da gastronomia
portuguesa, o vento levava-a tanto para além de estibordo como de bombordo, num
dos porões as especialidades do país que estavam expostas... o bacalhau manteve
seu lugar.
A Vera Cruz, que pertence à Associação Aporvela, Associação Portuguesa de Treino de Vela, é uma réplica exata das antigas caravelas inventadas e utilizadas pelos portugueses durante a Época dos Descobrimentos, nos séculos XV e XVI. Este navio foi construído em 2000 no estaleiro de Vila do Conde, como parte das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil.
A tripulação do Vera Cruz é
constituída inteiramente por amadores, incluindo o capitão, Filipe Costa, bem
como os líderes de equipa, incluindo João Palma com quem tivemos a oportunidade
de conversar. Composta por 20 a 30 membros, a equipa deste evento é composta
por 21 jovens e líderes divididos em três equipes.
Em conversa com o Capitão
Filipe Costa, lamenta não ter qualquer apoio do Governo português, até porque
todos os anos o barco Vera Cruz representa Portugal nos quatro cantos do
planeta, na ausência este ano do barco Sagres e do Santa Maria Madalena que navegam
ou se preparam para o fazer noutros mares. A campainha do navio não parava de
tocar, pensávamos que tínhamos sido convidados... cada vez que o sino tocava,
era preciso deixar uma doação para ajudar nas despesas do barco... Muitos não
leram a instrução, infelizmente.
Visitar o Vera Cruz é
simultaneamente uma viagem ao presente recente, à sua construção, mas também
uma viagem ao passado e ao que o barco representa e simboliza.
A caravela é uma embarcação
inventada e utilizada pelos portugueses na época da exploração marítima e
geográfica, nos séculos XV e XVI. É uma embarcação rápida, fácil de manobrar,
adequada para navegação contra o vento e de proporções modestas. Foi a bordo de
uma caravela idêntica a esta que Bartolomeu Dias atravessou o Cabo da Boa
Esperança em 1488.
A Vera Cruz destina-se a
proporcionar treinos e experiências de vela no mar, a participar em provas e
outros eventos náuticos, e a estudar o comportamento e as manobras de caravelas
antigas. Na sua construção foram utilizadas madeiras de câmbala, pinheiro-bravo,
carvalho e sobreiro.
Esta caravela portuguesa, com
as suas duas velas triangulares, ao contrário da caravela redonda, podia virar,
o que significava que podia navegar contra o vento. Assim, mesmo com vento ou
corrente contrária, como era o caso na costa oeste da África, a caravela podia
navegar. Por ser raso, pequeno e muito manobrável, também poderia tentar subir
rios, encontrar uma passagem para o Oceano Índico, principal objetivo da
navegação no Atlântico Sul.
As dimensões do Vera Cruz são
de 27,69 metros de altura, com o comprimento do casco de 23,82 metros.
Construído em Vila do Conde, o seu porto de origem é em Lisboa.
Recordamos-mos, enquanto
deambulamos pela Vera Cruz, que é a cópia de outras caravelas portuguesas que
abriram rotas marítimas: em 1425 Lisboa-Madeira com João Gonçalves Zarco nos
comandos; 1433 Lisboa-Açores com Gonçalo Velho Cabral; 1434 Lagos – Cabo Bojador-Arbuim
com Gil Eanes ao leme; 1482 Lisboa – Costa Africana com Diogo Cão; 1488, Lisboa
– Cabo da Boa Esperança com Bartolomeu Dias; 1498 Lisboa – Índia com Vasco da
Gama; 1500 Lisboa – Brasil – Índia com Pedro Álvares Cabral ao leme; 1519
Circunavegação com Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano...
Dunquerque teve a honra de
receber os veleiros deste ano, intitulados "Les Voiles de Légende".
Uma novidade em Dunquerque! Pela primeira vez desde a sua criação, as Corridas
de Tall Ships pararam em Dunquerque.
A ideia de uma corrida
internacional para navios-escola, com tripulações compostas por cadetes e
marinheiros em treinamento, foi mencionada pela primeira vez em 1953. Bernard
Morgan, um advogado aposentado de Londres, sonha em ver o nascimento de uma "irmandade
do mar". A ideia pegou e o Comitê Internacional de Regatas de Treinamento
de Vela foi criado. Uma primeira corrida foi organizada entre Torbay (Reino
Unido) e Lisboa (Portugal), em 1956.
600.000 visitantes vieram a
Dunquerque entre 10 e 13 de julho para admirar barcos como o francês Belém, o
gigante polonês Dar Meodziezy, o Fréderyk Chopin, o Morgenster, o Eendracht e
muitos outros.
Para todos os amantes da vela
e do mar que não puderam ir a Dunquerque, o capitão do Vera Cruz, Filipe Costa,
convidou-os para Antuérpia no próximo ano.
Fonte: Luso Jornal/França -
Parceria
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