terça-feira, 22 de julho de 2025

“Notícias além-fronteiras: Vera Cruz, a pequena entre as grandes em "Les voiles de Légende" em Dunquerque”


Dunquerque deu as boas-vindas a 40 dos maiores iates do mundo de várias nações como parte das Tall Ships Races 2025 de 10 a 13 de julho

 

Por: António Marrucho

Entre os grandes, outros menores, um português, o Vera Cruz, que como os outros barcos pararam em Le Havre entre 4 e 7 de julho, atualmente está a caminho de Aberdeen onde os barcos serão visíveis entre 19 e 22 de julho, antes de chegar a Kristiansand entre 30 de julho e 2 de agosto, terminando o épico em Esbjerg, Dinamarca, entre 6 e 9 de agosto.

Numa visita esta manhã de domingo, assistimos à sucessão da equipa juvenil da Vera Cruz, sendo uma das razões da existência desta caravela promover o sabor do mar aos jovens, ao mesmo tempo que incutir espírito de equipa, entreajuda, missão a cumprir, a descobrir-se, a sentir-se responsável por uma tarefa... a equipe deixou Le Havre dando lugar a outra equipa de jovens que vieram de Portugal para navegar para o próximo ancoradouro na Escócia. Os jovens se abraçaram, cantaram. À hora da nossa visita, aproximava-se a hora de almoço, pairava o bom cheiro da gastronomia portuguesa, o vento levava-a tanto para além de estibordo como de bombordo, num dos porões as especialidades do país que estavam expostas... o bacalhau manteve seu lugar.

A Vera Cruz, que pertence à Associação Aporvela, Associação Portuguesa de Treino de Vela, é uma réplica exata das antigas caravelas inventadas e utilizadas pelos portugueses durante a Época dos Descobrimentos, nos séculos XV e XVI. Este navio foi construído em 2000 no estaleiro de Vila do Conde, como parte das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil.


A tripulação do Vera Cruz é constituída inteiramente por amadores, incluindo o capitão, Filipe Costa, bem como os líderes de equipa, incluindo João Palma com quem tivemos a oportunidade de conversar. Composta por 20 a 30 membros, a equipa deste evento é composta por 21 jovens e líderes divididos em três equipes.

Em conversa com o Capitão Filipe Costa, lamenta não ter qualquer apoio do Governo português, até porque todos os anos o barco Vera Cruz representa Portugal nos quatro cantos do planeta, na ausência este ano do barco Sagres e do Santa Maria Madalena que navegam ou se preparam para o fazer noutros mares. A campainha do navio não parava de tocar, pensávamos que tínhamos sido convidados... cada vez que o sino tocava, era preciso deixar uma doação para ajudar nas despesas do barco... Muitos não leram a instrução, infelizmente.

Visitar o Vera Cruz é simultaneamente uma viagem ao presente recente, à sua construção, mas também uma viagem ao passado e ao que o barco representa e simboliza.

A caravela é uma embarcação inventada e utilizada pelos portugueses na época da exploração marítima e geográfica, nos séculos XV e XVI. É uma embarcação rápida, fácil de manobrar, adequada para navegação contra o vento e de proporções modestas. Foi a bordo de uma caravela idêntica a esta que Bartolomeu Dias atravessou o Cabo da Boa Esperança em 1488.

A Vera Cruz destina-se a proporcionar treinos e experiências de vela no mar, a participar em provas e outros eventos náuticos, e a estudar o comportamento e as manobras de caravelas antigas. Na sua construção foram utilizadas madeiras de câmbala, pinheiro-bravo, carvalho e sobreiro.

Esta caravela portuguesa, com as suas duas velas triangulares, ao contrário da caravela redonda, podia virar, o que significava que podia navegar contra o vento. Assim, mesmo com vento ou corrente contrária, como era o caso na costa oeste da África, a caravela podia navegar. Por ser raso, pequeno e muito manobrável, também poderia tentar subir rios, encontrar uma passagem para o Oceano Índico, principal objetivo da navegação no Atlântico Sul.

As dimensões do Vera Cruz são de 27,69 metros de altura, com o comprimento do casco de 23,82 metros. Construído em Vila do Conde, o seu porto de origem é em Lisboa.

Recordamos-mos, enquanto deambulamos pela Vera Cruz, que é a cópia de outras caravelas portuguesas que abriram rotas marítimas: em 1425 Lisboa-Madeira com João Gonçalves Zarco nos comandos; 1433 Lisboa-Açores com Gonçalo Velho Cabral; 1434 Lagos – Cabo Bojador-Arbuim com Gil Eanes ao leme; 1482 Lisboa – Costa Africana com Diogo Cão; 1488, Lisboa – Cabo da Boa Esperança com Bartolomeu Dias; 1498 Lisboa – Índia com Vasco da Gama; 1500 Lisboa – Brasil – Índia com Pedro Álvares Cabral ao leme; 1519 Circunavegação com Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano...

Dunquerque teve a honra de receber os veleiros deste ano, intitulados "Les Voiles de Légende". Uma novidade em Dunquerque! Pela primeira vez desde a sua criação, as Corridas de Tall Ships pararam em Dunquerque.

A ideia de uma corrida internacional para navios-escola, com tripulações compostas por cadetes e marinheiros em treinamento, foi mencionada pela primeira vez em 1953. Bernard Morgan, um advogado aposentado de Londres, sonha em ver o nascimento de uma "irmandade do mar". A ideia pegou e o Comitê Internacional de Regatas de Treinamento de Vela foi criado. Uma primeira corrida foi organizada entre Torbay (Reino Unido) e Lisboa (Portugal), em 1956.

600.000 visitantes vieram a Dunquerque entre 10 e 13 de julho para admirar barcos como o francês Belém, o gigante polonês Dar Meodziezy, o Fréderyk Chopin, o Morgenster, o Eendracht e muitos outros.

Para todos os amantes da vela e do mar que não puderam ir a Dunquerque, o capitão do Vera Cruz, Filipe Costa, convidou-os para Antuérpia no próximo ano.

Fonte: Luso Jornal/França - Parceria

Nenhum comentário:

Postar um comentário