terça-feira, 8 de abril de 2025

“Memória e compromisso: Hendaye celebra os exilados ibéricos”


Por: Emanuel Guedes

Neste mês de abril, a cidade de Hendaye será palco de um evento em memória dos emigrantes e exilados ibéricos que marcaram a história da França e da Europa. Organizado pelo Colectivo para a Memória dos Estrangeiros na Resistência em França 1940-1945, em parceria com a associação "Mémoire Vive – Memória Viva" e outros 25 signatários, entre os quais o LusoJornal, este evento decorrerá de 14 a 23 de Abril.

Esta iniciativa insere-se num quadro histórico particularmente rico. Porque em 2025, o mundo comemora o 80ºÉsimo o aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, a libertação da França e da Europa da dominação nazista, bem como o 51º aniversário da Revolução dos Cravos em Portugal e o 50º aniversário do fim do franquismo na Espanha. Neste contexto, os organizadores desejam honrar a memória dos espanhóis e portugueses que cruzaram os Pirenéus em busca de liberdade e melhores condições de vida.

 

Um programa agitado

 

Durante estes dez dias de comemoração, vários eventos marcarão esta homenagem. Serão realizadas cerimónias em memória dos emigrantes e exilados ibéricos, bem como dos combatentes da Resistência que contribuíram para a libertação de França.

Uma placa comemorativa será inaugurada na estação Hendaye, um local simbólico para a passagem de muitos refugiados políticos. Paralelamente, serão oferecidas exposições, exibições de filmes e uma grande conferência-debate sobre a história das migrações ibéricas para França e Europa nos séculos XIX e XX. Uma forma de os organizadores homenagearem esses emigrantes e refugiados que contribuíram para a libertação da França em 1940-45, na reconstrução da França de 1920 a 1936 e de 1950 a 1980.

 

Hendaye, um lugar repleto de memória

 

Localizada na fronteira franco-espanhola, Hendaye ocupa um lugar central na história das migrações ibéricas. A estação ferroviária internacional, as fronteiras dos Pirenéus, a Ponte de Santiago e o rio Bidasoa foram travessias cruciais para milhares de espanhóis e portugueses que decidiram fugir dos regimes ditatoriais dos seus países. Muitos tentaram se juntar à França Livre, mas sua jornada muitas vezes parava em Hendaye, onde eram bloqueados na fronteira.

A SNCF, parceira desta homenagem, também tem o dever de recordar. Mais de 10.000 trabalhadores ferroviários perderam a vida em combate durante a Segunda Guerra Mundial, sob bombardeios, baleados ou deportados. Há mais de 30 anos, a empresa ferroviária está ativamente envolvida no trabalho de memória para homenagear esses combatentes da resistência e as vítimas da Shoah.

 

Um dever de lembrar

 

Através destas comemorações, o Coletivo para a Memória dos Estrangeiros na Resistência em França, liderado por Manuel Dias de Bordéus, e os seus parceiros querem lembrar-nos da importância dos valores carregados pela Segunda República Espanhola e pela Revolução dos Cravos. Longe de ser um simples olhar para o passado, esta homenagem pretende transmitir às novas gerações a história destes homens e mulheres que contribuíram, com a sua coragem e empenho, para a construção de um futuro de liberdade e democracia.

Apoiado pelo Conselho Regional da Nouvelle-Aquitaine, pela SNCF, pela Câmara Municipal de Hendaye, pela DGACCP Portugal e pela ONAC-VG Pyrénées-Atlantiques, este evento pretende ser um forte momento de reconhecimento e recordação, para que a memória possa perdurar no tempo.

Fonte: Luso Jornal (frança)

Nenhum comentário:

Postar um comentário