Há quem coma e se sinta sempre cheio, o que causa grande desconforto. A causa poderá ser gastroparésia, como explica Armando Peixoto, médico gastrenterologista na ULS São João e secretário-geral do Núcleo de Neurogastrenterologia e Motilidade Digestiva - Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.
Já alguma vez sentiu que a
comida “fica parada” no estômago durante horas após a refeição? Para algumas
pessoas, este desconforto é diário, e pode significar mais do que uma má
digestão. A gastroparésia é uma doença que afeta a motilidade do estômago, ou
seja, o seu movimento normal de esvaziamento. Nesta condição, o estômago demora
demasiado tempo a enviar os alimentos para o intestino, mesmo na ausência de
uma obstrução física.
Quem pode
ter gastroparésia?
Esta doença afeta
maioritariamente mulheres entre os 40 e os 60 anos e pode ter várias causas:
diabetes mal controlada (especialmente a tipo 1), algumas cirurgias abdominais
(como bypass gástrico ou fundoplicatura), medicamentos que atrasam o
esvaziamento gástrico (como opiáceos), doenças autoimunes ou neurológicas,
entre outras. No entanto, em muitos casos, não se identifica nenhuma causa
clara, denominando-se gastroparésia idiopática.
Sintomas
e impacto
Os sintomas mais comuns
incluem náuseas, vómitos (frequentemente de alimentos ainda mal digeridos),
sensação precoce de saciedade, enfartamento após as refeições, inchaço
abdominal e, por vezes, dor na parte superior do abdómen. Estes sintomas tendem
a surgir em conjunto e podem ser persistentes ou flutuantes. Além do impacto
físico, a gastroparésia afeta fortemente o bem-estar psicológico, a vida social
e a produtividade profissional. Há estudos que comparam a sua carga emocional à
da depressão ou de outras doenças crónicas graves.
Como se
diagnostica?
O diagnóstico exige três
condições fundamentais: (1) presença de sintomas típicos, (2) exclusão de
obstrução mecânica, geralmente por endoscopia e imagiologia, e (3) comprovação
de esvaziamento gástrico atrasado através de testes específicos o mais comum é
a cintigrafia de esvaziamento gástrico com uma refeição-padrão.
Como se
trata?
O
tratamento tem como objetivo aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de
vida. Começa-se por mudanças na alimentação:
Refeições pequenas e
frequentes;
Evitar gorduras e alimentos
ricos em fibras insolúveis;
Preferir alimentos triturados,
em puré ou líquidos;
Controlar rigorosamente a
glicemia em doentes diabéticos;
Reduzir o consumo de álcool e
evitar o tabaco.
Além disso, existem
medicamentos que estimulam a motilidade gástrica (procinéticos) ou aliviam as
náuseas (antieméticos). Contudo, cerca de um terço dos doentes não melhora com
a medicação. Nestes casos mais graves, pode recorrer-se a sondas de alimentação,
estimulação elétrica do estômago, cirurgia do piloro ou procedimentos
endoscópicos inovadores como o G-POEM.
Um
diagnóstico que merece atenção
Apesar de relativamente
desconhecida, a gastroparésia é cada vez mais diagnosticada, em parte graças a
uma maior sensibilização e melhores exames. Ainda assim, continua muitas vezes
confundida com outras condições, como a dispepsia funcional. Se sofre de
náuseas persistentes, vómitos recorrentes ou se sente “cheio” durante horas
após comer, fale com o seu médico. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico,
maior a probabilidade de controlar os sintomas e recuperar qualidade de vida.
Agosto é o Mês da
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Fonte: Sapo on-line Saúde
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