Por ocasião da entrada no
Panteão Nacional francês do Resistente de origem arménia Missak Manouchian e da
mulher, um coletivo de estruturas e de personalidades prestaram homenagem aos
Portugueses que integraram a Resistência em França, durante a II Guerra mundial.
Foi deposta uma coroa de
flores junto à placa do Resistente António Ferreira, assassinado em Montrouge
por um oficial alemão, na Sala de Casamentos da Mairie do 14° bairro de Paris,
foi organizada uma conferência com os historiadores Marie-Christine
Volovitch-Tavares, Cristina Clímaco e Georges Viaud.
Ao mesmo tempo, também em
Bordeaux se prestava homenagem aos Portugueses que integraram a Resistência.
Toda esta iniciativa deve-se a Manuel Dias, cofundador do Comité Aristides de
Sousa Mendes.
“Este é o
momento oportuno para lembrar que muitos estrangeiros integraram a Resistência
e entre eles havia um certo número de Portugueses”
explicou Marie-Christine Volovitch-Tavares, na introdução da conferência. “Os Portugueses eram menos do que os Espanhóis e do que
os Italianos, porque naquela altura havia bem menos Portugueses em França”.
Cristina Clímaco, historiadora
da Universidade de Paris 8, fez a intervenção de fundo.
Dos portugueses que entraram
em Resistência, alguns foram soldados do Corpo Expedicionário Português (CEP)
que combateram em França durante a I Guerra mundial e que por aqui ficaram, ou
então, depois de desmobilizados em Portugal, regressaram a França. Estes
estavam mais predispostos para combaterem os Alemães, que já tinham combatido durante
a Grande Guerra.
Havia também os portugueses
que vieram para França para trabalhar nas fábricas e na agricultura durante a I
Guerra mundial, ao abrigo do acordo de mão de obra entre Portugal e a França.
Também muitos deles regressaram a França no fim da Guerra.
Viviam ainda em França muitos
exilados políticos que constituíram a elite Republicana que se opôs à Ditadura
em 1926.
A estes, juntaram-se muitos
portugueses que foram combater na Guerra civil espanhola, pelos Republicanos, e
que, no fim da guerra, se refugiaram nos campos de concentração do sul da
França, nomeadamente no Campo de Gurs que vai fazer no próximo mês 85 anos. Na
verdade, estes portugueses seguiram o percurso dos Republicanos espanhóis, já
que não podiam regressar a Portugal, sob pena de serem perseguidos pelo Estado
Novo.
Quando a França entrou em
Guerra, muitos portugueses alistaram-se nos Regimentos de Marcha, na Légion
Etrangère e até no Exército francês para aqueles que tinham a nacionalidade
portuguesa.
Quando em 1940 uma parte dos
Franceses entrou em Resistência, muitos Portugueses fizeram-no também. “Podemos falar de uma Resistência portuguesa”
afirma Cristina Clímaco.
Por vezes trataram-se de atos
espontâneos de Resistência, outras vezes tratou-se de uma Resistência
organizada que, por exemplo, no caso da família Pinho, implicou o pai, a mãe e
o filho.
“Por
vezes eram atos de Resistência passiva, ou pequenos gestos de Resistência, que
contribuíam para lutar contra as forças Nazis”.
Cristina Clímaco contou o caso de Fernando Fernandes, com apenas 18 anos de
idade, que colocava ratoeiras de arame para apanhar os Alemães. Um dia foi
apanhado, condenado a 6 meses de cadeia, voltou a ser julgado, e apanhou 10
anos de trabalhos forçados. Nunca regressou.
Pouco a pouco, com exemplos concretos,
Cristina Clímaco contava como se exprimiu essa Resistência portuguesa. Inácio
Anta, que passou precisamente pelo Campo de Gurs, dirigiu uma secção de
fabricação de explosivos. A família Neves foi torturada e deportada. Odete
Fernandes era datilógrafa no Ministério da Educação, mas albergava Resistentes
e ajudava-os a fugir.
Em 1944, depois do apelo do
General de Gaule, a entrada em Resistência intensificou-se e são muitos os
exemplos que se conhecem de Resistentes portugueses.
“Se me
perguntarem quantos Portugueses entraram em Resistência, não sabemos dizer.
Para já eu vou com uma lista de uns 500” diz Cristina Clímaco.
Por sua vez, o historiador
Georges Viaud diz que já contabilizou 1.583 Resistentes portugueses.
Filho de uma mãe portuguesa e
um militar francês, nascido em Lisboa, Georges Viaud trabalhou essencialmente
na Basílica de Saint Denis e mais tarde interessou-se pela I Guerra mundial,
daí ser o Presidente da Delegação de Paris da Liga dos Combatentes Portugueses.
Interessa-se agora pela participação de Portugueses na II Guerra mundial e em
particular na Resistência.
Um destaque foi dado à Divisão
que libertou Paris, sob comando do General Leclerc, e em particular da primeira
brigada que entrou na capital, “La Nueve” constituída essencialmente por Republicanos
espanhóis, e onde havia pelo menos dois Portugueses.
Este episódio da história
comum a Portugal e à França ainda é pouco conhecido. Em Portugal a equipa do
historiador Fernando Rosas tem trabalhado neste assunto, com a colaboração de
Cristina Clímaco, e o jornalista José Manuel Barata Feyo escreveu um livro
sobre este tema. Pouco a pouco têm surgido outros livros.
Também em França foi
publicado, nos anos 2000, um livro intitulado “O
Gaiteiro” que conta a
história do pai do autor, Manuel da Silva, que entrou na Resistência em
Limoges.
Fonte: Luso Jornal